Congestão espontânea

Postado em: 30th janeiro 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
30 de janeiro de 2012

por Vanessa Barbara

No último dia 15, o colega Fabrício Corsaletti lançou uma campanha na revista sãopaulo contra a praga das televisões ligadas em bares, lanchonetes e restaurantes. Dizia o poeta que a prática se justifica em dias de jogo (vá lá) ou efemérides extraordinárias, mas que não faz sentido comer um beirute diante de uma reprise do “Vídeo Show” ou de um programa vespertino de fofocas, quando só o que se quer é prestar atenção no interlocutor ou nas copiosas fatias de rosbife no prato.

Faço coro à causa de Fabrício. Já dizia um best-seller da literatura que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de ver televisão e tempo de contar longas histórias sem clímax.

Via de regra, a prática de assistir TV devia limitar-se à intimidade do lar e ao aconchego do sofá. Fazê-lo durante uma conversa entre amigos devia ser punido como falar ao celular dirigindo, e é tão deselegante quanto responder mensagens SMS no meio de um casamento. Sendo um dos noivos.

Uma das piores consequências da TV ligada em congraçamentos sociais de fundo gastronômico é quando a gente conta uma história engraçada e a pessoa cai na gargalhada, batendo a mão na mesa e babando, e a gente se sente um Groucho Marx redivivo. Isso até perceber que o sujeito em questão não ouviu nada – estava prestando atenção na TV atrás de você.

Dessa prática decorre todo tipo de reações despropositadas, exageradas, distraídas ou simplesmente alheias ao que se passa ao redor.

Nada mais triste do que perder para o “Globo Repórter” ou ser trocada por um episódio de “Family Guy” – sobretudo aquele em que o cachorro pede o divórcio.

É por isso que rogamos: desliguem as TVs dos bares, lanchonetes, restaurantes; acabem com as TVs dos ônibus e do metrô. Vamos silenciar os locais públicos e ouvir melhor o que nos dizem. Ter a atenção dividida não é bom pra ninguém – nem para o Carlos Nascimento, que está ali tentando comunicar uma notícia de escopo interplanetário, e nem para o Paulão, chapeiro da padaria que acaba de perguntar se você quer o seu lanche com ou sem maionese.

Fora que, dependendo da programação, o comensal pode até sofrer uma grave congestão.

  1. Olha só… Vou deixar um trecho do referido episódio só pra competir com seu blog:

    http://www.viddler.com/v/b35c34c5