Clichês natalinos

Posted: 24th dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
24 de dezembro de 2012

por Vanessa Barbara

“Papai Noel existe mesmo e mora lá”, garante uma propaganda imemorial de shopping center que todo fim de ano volta para nos assombrar.

Tempo de festas é, afinal, época de suprimir o bom senso e despejar todo tipo de sentimentalismo no espectador, que, paralisado por um espírito de congraçamento universal, sente que é impossível reagir.

Então ligamos a tevê e temos de encarar celebridades de branco com um sorriso angelical e taça de champanhe na mão, entoando: “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser”, vinheta no ar desde 1971. Atores e jornalistas se abraçam, fazendo coraçãozinho com as mãos e acenando para as câmeras.

Muitos programas de auditório promovem especiais de Natal, que consistem basicamente em apresentadores vestindo gorrinhos e uma quantidade maior de frases edificantes.

Anteontem o “TV Xuxa” trouxe mensagens de amor e esperança do padre Marcelo, e depois, no telão, famosos dedicaram suas saudações de Natal ao som do grupo Roupa Nova.

O “Caldeirão do Huck” foi distribuir presentes no bairro Jardim Papai Noel, em São Paulo, numa “divertida e emocionante história”. Já o “Aventuras do Didi” contou a lenda de um camponês humilde contagiado pelo espírito das festas.

As expressões mais repetidas são: “é tempo de celebrar” e “acredite na magia do Natal”. Há uma avalanche de histórias de superação, solidariedade, famílias reconciliadas, amigo secreto dos famosos, milagres de Natal, sinos bimbalhando, crianças pobres sorrindo, coros de meninos vestidos de anjos e gente que deixou para comprar os presentes na última hora.

Alguma modelo-e-atriz dá uma entrevista sobre o verdadeiro significado da data.

Na tarde do dia 25, o filme mais exibido é “Esqueceram de Mim”, mas lembro de uma sequência de anos com o “Príncipe do Egito” na telinha. À noite, o especial do Roberto Carlos se repetindo há 38 anos na Rede Globo com as músicas de sempre e os convidados da vez.

Para fugir do lugar-comum, a Warner irá veicular uma maratona do seriado “The Big Bang Theory”, enquanto a Universal optou por “Grimm”.

Já o Discovery Home & Health foi além: na virada do dia 24 para o dia 25, exibirá um episódio da série “Complexado” especial sobre pés. “Neste programa: hérnia, problemas com piercing, gengivite, furúnculo, dermatite, linfedema, calos, hidrocele, psoríase das unhas e acne.”

… E um próspero Ano Novo para vocês.

Explodir coisas

Posted: 17th dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
17 de dezembro de 2012

por Vanessa Barbara

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Adam Savage, 45 anos, e Jamie Hyneman, 56, têm o emprego dos sonhos de qualquer moleque: são pagos para fazer experiências esdrúxulas com derretimento, destruição aleatória e explosão.

Eles são os principais apresentadores de “MythBusters: Caçadores de Mitos”, um dos programas mais legais de todos os tempos, que a TV Cultura exibe de segunda a sexta às 19h30, e o Discovery às 10h e 16h.

Na atração – que em janeiro completa dez anos –, eles usam métodos científicos para testar a validade de mitos, lendas urbanas, provérbios, cenas de filmes e vídeos da internet.

Nenhum dos dois tem formação específica, só uma vasta experiência prática em profissões incomuns – Jamie é formado em linguística russa e foi instrutor de mergulho, especialista em sobrevivência na selva, capitão de navio, domador de animais e maquinista. Adam foi animador, designer gráfico e carpinteiro.

Ambos trabalharam com efeitos especiais no cinema e utilizam esse conhecimento empírico para desbancar ou confirmar os mitos.

Eles já testaram se as torradas costumam cair mais vezes com a manteiga para baixo (mito detonado), se os peitos de silicone podem explodir em altas altitudes (detonado), se é tão rápido nadar em água quanto numa piscina de xarope (plausível), se é preferível correr a andar na chuva para se molhar menos (confirmado), se conversar com as plantas pode ajudá-las a crescer (plausível), se é possível sobreviver a uma queda de elevador saltando no último momento (detonado) e se a mistura de manga com leite é letal (detonado).

Primeiro um narrador sarcástico apresenta o mito com a ajuda de cenas pitorescas. Então Adam e Jamie tentam replicar as exatas condições do boato para comprovar se ele pode ocorrer. Em caso de fracasso, vão expandindo as circunstâncias até ocorrer o resultado esperado. É quando “o teste vira apenas uma desculpa para explodir coisas”, diz o narrador.

Há sempre um componente científico na equação. Para testar o mito da torrada que cai com a manteiga para baixo, eles construíram uma máquina de arremessar torradas, levando a tolice ao extremo.

Não só provaram empiricamente que é possível polir cocô “esfregando-o em círculos para achatar o material aquoso já presente no excremento”, como compraram uma máquina para medir o brilho.

“Temos um robô na água, ele está recheado de atum e é só um dia normal aqui nos Caçadores de Mitos”, diz Adam.

Crimes contra a audiência

Posted: 10th dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
10 de dezembro de 2012

por Vanessa Barbara

“Code 37” é uma série policial belga, falada em holandês, que mostra o cotidiano de um esquadrão especializado em contravenções do artigo 37 do Código Penal belga: crimes sexuais.

São investigações de estupro, pedofilia, violência doméstica, abuso sexual, incesto, prostituição, pornografia infantil, corrupção de menores e todo tipo de desvios patológicos que se pode imaginar, em episódios recomendados para maiores de 14 anos. Um dos últimos recebeu pela primeira vez a tarja de censura 16 anos, por exibir “violência, atos criminosos e linguagem imprópria”.

O conteúdo é pesado até para adultos, com cenas explícitas banhadas em sangue que às vezes requerem desintoxicação posterior. (Recomenda-se assistir ao desenho “Tintim” na sequência, mantendo a coerência patriótica.)

A protagonista é a inspetora-chefe Hannah Maes, da polícia de Ghent, uma excêntrica e obstinada agente em meio a um departamento machista. No decorrer dos casos, ela procura desvendar um mistério pessoal que culminou no estupro e assassinato da mãe, e que talvez implique no envolvimento do pai e do meio-irmão.

Lançada em 2009, a série tem boa qualidade, grandes atuações e roteiros acima da média. Fez muito sucesso em seu país natal, onde está na terceira temporada e virou filme.

No Brasil, infelizmente, contamos apenas com a sorte e o pensamento positivo.

O canal Globosat HD começou a exibir “Code 37” em maio, aos sábados à noite. Em setembro, mudou de nome para +Globosat e comprometeu-se com a segunda temporada, veiculada aos domingos.

Na grade, os episódios eram incorretamente identificados como sendo da temporada inicial, o que provocou certa confusão nos que começaram a acompanhar desse ponto – eu mesma assisti o primeiro episódio do segundo ano julgando se tratar do piloto da série.

Então, no mês seguinte, a emissora simplesmente parou de passar certos episódios e os substituiu por documentários de viagem, sem qualquer aviso, mantendo o descritivo da série naquele horário. O penúltimo episódio foi exibido, mas justamente o desfecho (prometido para 25 de novembro) foi trocado pela transmissão ao vivo de um rodeio.

O espectador não tem como obter informações da emissora, pois não há site oficial. Ao que tudo indica, a terceira temporada não será veiculada por aqui – ou, se for, poderá ser substituída aleatoriamente por um especial sobre vida selvagem.

Rainha conversa com soldado camuflado

Posted: 6th dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Sem categoria

Blog da Companhia das Letras
4 de dezembro de 2012

Por Vanessa Barbara

Detalhe do mural no sebo Unnameable Books, em Nova York


Em Conversa fiada (1989), curta de Jean-Pierre Jeunet, o narrador afirma que adora abrir um livro meses depois das férias e encontrar areia entre as páginas. Ele faz uma demonstração da abertura de um desses volumes, com o ruído de areia grudada no miolo.

Grãos de areia, manchas de molho de tomate, páginas que tomaram chuva e marcadores pitorescos são apenas alguns tesouros de férias passadas que podemos encontrar nos livros, reconhecendo imediatamente onde os lemos, quando e em que momento da vida.

Livros são involuntárias cápsulas do tempo que conservam mensagens ao longo da história, endereçadas a quem primeiro decidir abri-los. A interessante revista Found, de Chicago, contém uma seção só para escritos achados em livros.

Semana passada saiu no jornal O Globo uma bela matéria sobre dedicatórias e coisas encontradas no interior de livros usados. No sebo Baratos da Ribeiro, no Rio, o dono guarda numa caixa os objetos descobertos nas páginas: “Cheques, receitas médicas, ingressos de cinema, flores, contas, fotos. Daria uma exposição”, diz. Ele defende que o livro usado traz uma história por vezes mais interessante do que aquela que ele conta.

Segundo um artigo no site AbeBooks.com, há um sebo no Brooklyn, em Nova York, o Unnameable Books, que mantém um painel com esses tesouros perdidos. A variedade é tamanha que a exposição já tomou a parede inteira do fundo da livraria e se espalhou pelas demais.

Espécie de Estante Virtual americana, o AbeBooks fez uma enquete entre seus livreiros perguntando quais foram os objetos mais curiosos encontrados no interior dos produtos. As respostas vão além de cédulas estrangeiras, recortes de jornal e listas de supermercado, e seguem na relação abaixo, junto com informações que encontramos em outras fontes:

– Dentro de um livro de receitas para micro-ondas, uma mulher encontrou quarenta cédulas de mil dólares. Ela comprou o livro por acaso, enquanto esperava uma carona. As notas de mil foram impressas pela última vez em 1934 e são, portanto, mais valiosas do que sua quantia nominal;

– Um cotonete usado;

– Um dente de leite;

– Quarenta trevos de quatro folhas;

– No interior de uma brochura de mistério de 1945, um guardanapo de hotel na Espanha com um nome e um número de quarto;

– Um antigo cartão telefônico da Indonésia;

– Num sebo de Ohio, um homem levou para vender uma caixa de livros que pertenciam a sua recém-falecida esposa, repletos de fotografias da família, cartas e cartões-postais. Num deles havia um pequeno anel de diamantes;

– Dois cartões de visita colados um ao outro. Quando abertos, revelaram uma panorâmica dobrável de 90 centímetros com o melhor da pornografia dos anos 70;

– Uma gota de chocolate enfiada entre a tela de encadernação e a lombada. “Fiquei imaginando como alguém conseguiu enfiar uma gota de chocolate na lombada de um livro e quanto tempo esteve por lá. A data de edição era de 1889”, afirmou o livreiro;

– Um livro de ração da Segunda Guerra Mundial (com selos sobrando);

– Uma documentação de dispensa do Exército durante a Segunda Guerra;

– Uma tesoura;

– Uma faca;

– Um revólver;

– Um cartão de visita de um investigador paranormal;

– Um postal do Havaí de 1963, preenchido mas nunca enviado, no qual um sujeito escrevia para sua esposa em Los Angeles. O leitor que o encontrou botou um selo e enviou o cartão quarenta anos depois;

– Uma carta ao Papai Noel datada de 1929, dentro de uma biografia de Napoleão Bonaparte;

– Uma carta para a Fada do Dente, implorando que ela aceitasse a oferenda de meio dente;

– Gordas porções de caspa;

– Um bilhete maldoso contando o final do livro;

– Uma certidão de casamento de 1879;

– Uma camisinha fechada;

– Uma barata morta;

– Uma tira de bacon.

* * *

“Sério? Você estava fritando bacon enquanto lia e pensou: ‘Ei, talvez o próximo a ler este livro esteja com fome, então vou deixar uma tira de bacon cru para ele’?”, escreveu uma bibliotecária americana que realmente costuma encontrar comida nos livros devolvidos à instituição. Bacon, alface e picles são os campeões de frequência. Num curto artigo, ela dá uma explicação para isso:

“Alguns estão familiarizados com o conceito de usar marcadores de página para determinar em que trecho pararam, mas existe um grupo distinto de pessoas que utiliza o que estiver mais perto para marcar a página, não importa o que seja.”

Nessa lista desastrada estão cheques em branco, cartões de crédito, passaportes válidos, carteiras de motorista e passagens de trem ainda não utilizadas.

Urso: Agente Especial

Posted: 3rd dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
3 de novembro de 2012

por Vanessa Barbara

Com um roteiro rigidamente estruturado e seguindo regras narrativas clássicas de introdução, ponto de virada, desenvolvimento, confrontação e desfecho, o desenho animado “Urso: Agente Especial” (Disney Junior, seg. a dom., 7h30, 16h30 e 22h30) é voltado a crianças de 2 a 4 anos.

Roliço, amarelo e atrapalhado, o protagonista Urso é agente secreto da organização Unique (em inglês, Rede Unificada para Investigação de Eventos Bem Incomuns). No início de cada episódio, recebe dos superiores um exercício de treinamento – pousar uma asa-delta ou seguir outro agente sem ser visto. Ele exclama: “Aceito o desafio!”, mas, na primeira tentativa, falha miseravelmente.

Ao mesmo tempo, em outra parte do mundo, uma criança pequena se vê em apuros. Um garotinho chamado Carson gostaria de ir à creche com os irmãos mais velhos, mas primeiro tem que aprender a ir ao banheiro sozinho. Danny não sabe escovar os dentes, Abby tem medo de pular corda, Michael se atrapalha para embrulhar um presente, Rafael quer descobrir como brincar de “pato pato ganso” e Adam gostaria de jogar basebol com os amigos.

Imediatamente, Urso é acionado via satélite (“Alerta Especial!”) e pega carona em um avicóptero. A vítima é sempre um pequerrucho assustado e triste por não saber realizar uma tarefa que os outros executam com facilidade.

No local, o agente recebe instruções da agente Paw, que surge na tela azul de seu relógio.

Toda missão tem um codinome baseado em títulos do 007. Para ser concluída, há três etapas. No caso de “Licença para Animar”, a amiga de Gavin está triste e ele gostaria de alegrá-la. Primeira etapa: perguntar se ela está bem (não). Depois: descobrir qual o problema (saudade do avô). Terceiro: ajudá-la a pensar em algo feliz (eles sempre dançavam juntos).

Urso e Gavin se põem a dançar de forma engraçada para distrair a menina, que dá muitas risadas. Com o sucesso da missão, ele ganha uma digi-medalha.

 Nesse processo, Urso tem um momento de insight: entende afinal o que estava fazendo de errado em seu exercício de treinamento e pode enfim corrigi-lo. Despede-se dizendo que “é sempre um prazer dar uma patinha, ops, mãozinha”.

Os três atos de um argumento clássico de cinema estão ali, com as subtramas interconectadas, o instante da sacada e o final feliz.

É “Columbo” para quem ainda não largou a chupeta. 

Pressa de pousar

Posted: 29th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas
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Revista Viagem e Turismo
novembro de 2012

por Vanessa Barbara

Passageiros desembarcando: por que a pressa?

Se ninguém vai tirar o pai da forca, por que a pressa?

 

Durante onze horas e meia, os passageiros do voo 456 da Air France (Paris–São Paulo) comportaram-se de forma exemplar. Afora um sujeito na minha frente, que se mostrou irritado com a falta de macarrão no almoço (seu desprezo espumante pelas coxas de frango chegou até o chefe dos comissários), afora, portanto, o xiita do frango, todos seguiram religiosamente as recomendações de apertar os cintos, não fumar e nem fazer bagunça nos corredores.

É de se espantar, portanto, que, tão logo o avião baixe o trem de pouso, os civilizados passageiros se levantem descontroladamente e passem a abrir os compartimentos de bagagem, ignorando os avisos luminosos para manter os cintos afivelados e a súplica do piloto para que se aguarde o estacionamento definitivo da aeronave.

É só as rodinhas tocarem no chão que a obediência, o comedimento e mesmo o alívio da chegada são substituídos pela fúria cega de arrancar os cintos e ir pegar a bagagem de mão, postando-se no corredor rumo à saída.

Os comissários tentam conter a movimentação, que, porém, tem caráter de motim escolar, como se, após onze horas de bom comportamento, não se consiga mais esperar um minuto para sair de lá.

A atitude é quase unânime e pode ser observada em voos de inúmeras procedências e durações – num voo de Berlim a Paris, o piloto foi pessoalmente ao microfone passar um pito nos apressados: “Por favor, observem os avisos luminosos e mantenham os cintos afivelados. Aguardem a parada total da aeronave. Por favor, todos sentados. Os avisos sonoros continuam acesos”.

Quando, enfim, todos retornaram aos assentos, os avisos se apagaram. “Agora sim”, brincou o piloto, constrangido.

No voo 456, a aeronave ainda estava a dezenas de pés do solo quando um sujeito se levantou para pegar a mala. Em meio ao processo de aterrissagem, duas ou três comissárias foram ralhar com ele. Como resultado, ele demorou trinta segundos a mais do que seus vizinhos na hora de apanhar as coisas e dirigir-se à saída, ainda que o avião levasse mais quinze minutos para taxiar e encontrar sua vaga, e ainda que as portas custassem a abrir.

Lá na frente, era a humilde e universal espera diante da esteira de bagagem. 

→ *Vanessa Barbara prefere assentos na janela para evitar a sanha dos apressados

“A Máquina de Goldberg” – Folha de S.Paulo

Posted: 28th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Clipping
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Guia Folha – Livros, Discos, Filmes
24 de novembro de 2012

 

Folha de S.Paulo – Ilustrada
26 de novembro de 2012

por Vanessa Barbara

À beira da baía de Cardiff, no Reino Unido, alguém estacionou uma cabine azul de polícia em cima de um gigantesco pedestal. Foi certamente um Senhor do Tempo com pressa para entrar na exposição interativa Doctor Who Experience, aberta na cidade desde julho.

O ingresso custa 13 libras (42 reais). Dá direito a visitar o museu (com réplicas de monstros, roupas e cenários) e participar de um episódio interativo da série de tevê “Doctor Who”, escrito por Steven Moffat.

No início da aventura, o grupo de quinze pessoas (adultos e crianças) se reúne diante de um telão para assistir a uma história com o protagonista da série, um viajante no tempo conhecido como “Doutor”.

Há uma estranha fenda na tela.

Após alguns minutos, tudo escurece, a fenda se abre e o Doutor (protagonizado por Matt Smith) convida os visitantes a entrarem no filme. Uma dupla de nerds com camisetas temáticas solta gritinhos empolgados e uma menina de 4 anos desata a chorar.

A imagem do Doutor aparece de novo; ele está preso e precisa ser resgatado. Examinando os visitantes com curiosidade, conclui que pertencemos a uma espécie que já nasce com as mãos acopladas a sacolas: somos os Compradores.

“Prestem atenção, Compradores, as coisas podem ficar complicadas”, diz o Doutor. “Em breve vou começar a dar instruções. Pode ser que eu use as palavras ‘stress’, ‘perigo terrível’ e ‘últimos momentos’”, afirma. “Provavelmente estarei exagerando.”

Um facho de luz ilumina o canto da sala onde há uma cabine de polícia, a TARDIS, cuja porta se abre. A dupla de nerds se adianta às crianças e entra num segundo cenário, uma réplica em tamanho real do interior da nave.

“Viu? É maior por dentro. Transferência interdimensional. É totalmente seguro, não se preocupe – a não ser que você seja careca. Nesse caso, pode virar um frango gigante.”

Cada um assume um controle com luzes piscantes. O chão treme. Estamos indo resgatar o Doutor.

A aventura interativa gravita entre o tolo e o empolgante. Saímos da TARDIS e passamos por um corredor repleto de anjos chorões (“Se piscar, você morre”). Na sala seguinte, uma voz anasalada inconfundível: são os Daleks.

Os vilões de lata escaneiam os Compradores e gritam: “Exterminar! Exterminar!”.

A despeito do perigo, todos saem ilesos para conferir o museu e comprar chaveiros – menos a inglesinha de 4 anos, que não parou de chorar e terá muitos traumas futuros.

Pão com queijo no alto de um rochedo é a sugestão do dia

Folha de S.Paulo – Cotidiano
20 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA 

Se o tempo finalmente abrir, a sugestão para hoje é empacotar um lanche, pegar um cajado e sair para passear no Parque Estadual Alfredo Löfgren, o Horto Florestal, na Zona Norte da cidade (rua do Horto, 931). Ele funciona diariamente das 6h às 18h e tem entrada franca.

Além do lago com patos e gansos, há bugios, biguás, esquilos e tucanos em meio à frondosa quantidade de árvores exóticas (eucalipto, pinheiro-do-brejo) e nativas (pau-brasil, carvalho-nacional e jatobá).

O local conta com pista de cooper, playground, equipamentos de ginástica, bicas de água potável e o Palácio de Verão do Governo do Estado. Ao lado do Museu Florestal Octávio Vecchi (o Museu da Madeira) encontra-se o marco do Trópico de Capricórnio, que corta a região.

Saindo do parque e seguindo pela rua do Horto, o intrépido peregrino dá de cara com o Parque Estadual da Cantareira – Núcleo Pedra Grande (rua do Horto, 1799), parte de uma das maiores florestas urbanas do mundo. O complexo de Mata Atlântica é formado por mais três núcleos com trilhas para caminhada: Águas Claras, Engordador e Cabuçu.

Todos abrem aos sábados, domingos e feriados, exceto em dias de chuva, das 8h às 17h (último horário de entrada às 15h), e custam R$ 9.

 O núcleo mais próximo do Horto tem um atrativo especial: a Trilha da Pedra Grande, com 9,6 km de extensão (ida e volta), que vai parar num mirante de granito, a 1.010 metros de altitude, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade de norte a sul e trechos da Serra do Mar.

Um pouco mais à frente, a trilha dá no pacato Lago das Carpas.

O parque não tem lanchonete, de modo que é recomendável levar seu próprio pão com queijo, refrigerante e bolo com faquinha para coroar a jornada.

Outros caminhos mais curtos no núcleo Pedra Grande são a Trilha da Bica (1,5 km) e a Trilha das Figueiras (1,2 km), ambas circulares e de mata fechada, num clima úmido e tranquilo.

É bom se apressar, pois em breve o Rodoanel Norte promete cravar a área de túneis e viadutos para a circulação de tráfego pesado.