Em Cardiff com o Doutor

Postado em: 26th novembro 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
26 de novembro de 2012

por Vanessa Barbara

À beira da baía de Cardiff, no Reino Unido, alguém estacionou uma cabine azul de polícia em cima de um gigantesco pedestal. Foi certamente um Senhor do Tempo com pressa para entrar na exposição interativa Doctor Who Experience, aberta na cidade desde julho.

O ingresso custa 13 libras (42 reais). Dá direito a visitar o museu (com réplicas de monstros, roupas e cenários) e participar de um episódio interativo da série de tevê “Doctor Who”, escrito por Steven Moffat.

No início da aventura, o grupo de quinze pessoas (adultos e crianças) se reúne diante de um telão para assistir a uma história com o protagonista da série, um viajante no tempo conhecido como “Doutor”.

Há uma estranha fenda na tela.

Após alguns minutos, tudo escurece, a fenda se abre e o Doutor (protagonizado por Matt Smith) convida os visitantes a entrarem no filme. Uma dupla de nerds com camisetas temáticas solta gritinhos empolgados e uma menina de 4 anos desata a chorar.

A imagem do Doutor aparece de novo; ele está preso e precisa ser resgatado. Examinando os visitantes com curiosidade, conclui que pertencemos a uma espécie que já nasce com as mãos acopladas a sacolas: somos os Compradores.

“Prestem atenção, Compradores, as coisas podem ficar complicadas”, diz o Doutor. “Em breve vou começar a dar instruções. Pode ser que eu use as palavras ‘stress’, ‘perigo terrível’ e ‘últimos momentos’”, afirma. “Provavelmente estarei exagerando.”

Um facho de luz ilumina o canto da sala onde há uma cabine de polícia, a TARDIS, cuja porta se abre. A dupla de nerds se adianta às crianças e entra num segundo cenário, uma réplica em tamanho real do interior da nave.

“Viu? É maior por dentro. Transferência interdimensional. É totalmente seguro, não se preocupe – a não ser que você seja careca. Nesse caso, pode virar um frango gigante.”

Cada um assume um controle com luzes piscantes. O chão treme. Estamos indo resgatar o Doutor.

A aventura interativa gravita entre o tolo e o empolgante. Saímos da TARDIS e passamos por um corredor repleto de anjos chorões (“Se piscar, você morre”). Na sala seguinte, uma voz anasalada inconfundível: são os Daleks.

Os vilões de lata escaneiam os Compradores e gritam: “Exterminar! Exterminar!”.

A despeito do perigo, todos saem ilesos para conferir o museu e comprar chaveiros – menos a inglesinha de 4 anos, que não parou de chorar e terá muitos traumas futuros.