Unanimidade em dúvida

Postado em: 27th fevereiro 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
27 de fevereiro de 2012

por Vanessa Barbara

Vencedora do Globo de Ouro de melhor série dramática, “Homeland” estreia domingo que vem às 22h no canal FX. Na premiação, bateu as favoritas “Game of Thrones” e “Boardwalk Empire”, duas gigantes da hbo. É uma das favoritas de Barack Obama e uma das raras unanimidades do site Metacritic, que faz uma compilação de resenhas publicadas na grande imprensa.

Enfaticamente citado nas listas de melhores estreias de 2011, o thriller da Showtime tem Claire Danes no papel principal e dois produtores de “24 horas” na folha de pagamento.

“Homeland” conta a história de uma agente de contra-terrorismo da CIA que passa a questionar a lealdade de um heroi de guerra americano, um fuzileiro naval recém-libertado do cativeiro no Iraque. Ela acredita que o militar converteu-se à Al-Qaeda e planeja um atentado terrorista contra os Estados Unidos.

O grande trunfo do show é a condição psiquiátrica da heroína, que sofre de transtorno bipolar e apresenta um comportamento paranoico e instável, o que pode (ou não) interferir em sua capacidade de julgamento.

Ou seja: é uma série de espionagem e política que só pode ser muito boa. Tem sido difícil encontrar resenhas negativas sobre a atração, o que torna ainda mais estranho o fato de eu não ter gostado. Nem um pouco.

E digo mais: a série “24 horas”, com sua mirabolância e ataques nucleares, falta total de verossimilhança e exageros patrióticos, é melhor do que a cult “Homeland”. A saga de Jack Bauer não se propõe a raciocínios complexos, nuances de personagens, tentativas de se tornar obra de arte. É divertida e cheia de explosões, e o herói é tão durão que chega a ser engraçado.

“Homeland” é pretensiosa. Os episódios são arrastados, previsíveis, e a heroína é irritante, mais do que a Kim em “24 horas” e mais do que o Jesse do início de “Breaking Bad”. Mas Jesse evolui na trama, enquanto Carrie continua na mesma.

O mistério em si não convence. Os diálogos são esquisitos e apelam para a forte identificação dos americanos com o trauma, o medo e a paranoia pós-11 de Setembro.

“Homeland” podia aprender algo sobre vigilância e caracterização de personagens com a excelente “The Wire”, série da HBO sobre o tráfico em Baltimore, e “A vida dos outros”, filme alemão de 2006 sobre um oficial da Stasi que se vê atraído pela vida de um suspeito em vigilância.