Por uma miss sem noção

Postado em: 18th setembro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S. Paulo / Ilustrada
18 de setembro de 2011

por Vanessa Barbara

Para ganhar o concurso de Miss Universo, é preciso ser terráquea. O que se configura extrema injustiça e tira do páreo as belas mulheres de Hercólubus, aquele planeta em rota de colisão com a Terra, e do recém-descoberto HD85512b, onde, com sua tez esverdeada, as nativas devem ficar lindas de biquíni marrom.

(Há quem diga que a representante de Andrômeda compareceu ao concurso, mas não era visível. Outras pereceram com o ar-condicionado do Credicard Hall, posto serem micróbios.)

Além da tediosa procedência terrícola, há que se ter porte, presença e elegância. Mão na cintura e olhar perdido, como se estivessem resolvendo um cálculo matemático (…menos oito, fica sete, vai um), elas foram obedientes ao treino recebido.

Daí a falta de grandes emoções e imprevistos no Miss Universo 2011, exibido pela Band na segunda-feira.

A emissora tinha um camarote de onde transmitia os comentários de Adriane Galisteu e da editora de moda Susana Barbosa. O palco da cerimônia podia ser visto ao fundo.

Melhor seria se houvessem transmitido os intervalos do show, aqueles instigantes momentos em que os produtores dão instruções para o público e há maquiadores em perpétuo estado de retoque.

Em uma dessas pausas, as misses congelaram as poses enquanto um sujeito ao microfone informava que era proibido apitar.

Na hora das perguntas, mais tédio – questionada sobre o nudismo, a representante da China, que lembrava um altivo urso panda, perdeu a chance de dizer que era, sim, a favor de todo mundo peladão. Receberia o apoio histérico da torcida.

Quanto ao que gostaria de mudar no corpo, a campeã Miss Angola podia ter dito: visão de raios X e respiração branquial subaquática, o que, se talvez não agradasse, ao menos impressionaria os jurados.

Outras perguntas versariam sobre a pena de morte (sim ou não, sem chances para tergiversar sobre a importância de manter as praias limpas), aborto, legalização das drogas e transgênicos.

Fosse eu a representante da República Popular do Mandaqui, tornaria tudo mais divertido manifestando ser contra as criancinhas do mundo e a favor das guerras, da corrupção, da fome e da saia-balão.

Meus hobbies: torturar passarinhos e tossir sem cobrir a boca.