As melhores caçambas da cidade

Postado em: 26th janeiro 2014 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, Revista
Tags:

Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
26 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

É na alameda Lorena que se encontram as caçambas mais disputadas da cidade. Flanando pelas ruas dos Jardins, o munícipe mais atento pode topar com belíssimas cadeiras de escritório, cristaleiras, pias, colchões, estrados de madeira, carpetes, pisos, escorredores de louça, tábuas de passar e até um box para cama de casal em perfeito estado de conservação e olor.

A quantidade de bons itens descartados em caçambas é notável, sobretudo nas regiões mais chiques. Pode-se mobiliar apartamentos inteiros usando o lixo dos moradores de Pinheiros, Higienópolis e Jardins.

No bairro de Santa Cecília, um grupo de sem-teto que vive num posto de gasolina abandonado angariou mobiliário completo nas caçambas da área (mesa, poltrona, cama, armários e uma pequena oficina de marcenaria – em atividade). Na semana passada, eles mesmos abandonaram um sofá na esquina da alameda Glete com a Barão de Campinas, decerto por terem arrumado um melhor (vermelho, de três lugares).

Com a ajuda do leitor Roberto Bencz Jr., esta reportagem esquadrinhou a metrópole inventariando (e confiscando) objetos dignos de alarde, entre eles: uma estante para biblioteca dupla flex de aço, abandonada numa caçamba em Pinheiros; uma mesa de manicure na alameda Barão de Campinas; uma escada de alumínio, um armarinho e um varal de teto na rua São Carlos do Pinhal; uma caixa de som Aiwa na avenida Higienópolis; uma gigantesca letra “e” de plástico azul, na rua Camaragibe, na Barra Funda.

Duas cadeiras de vime que estavam numa caçamba da rua Frederico Abranches, em Santa Cecília, foram confiscadas pelos sem-teto da rua Sebastião Pereira e, no dia seguinte, passaram a compor uma espécie de sala de estar coberta por um toldo.

Nesta época, muitos pinheiros de Natal são casualmente descartados, como se privadas fossem. Registramos, aliás, uma ótima privada (sem tampa) na rua dr. Fernandes Coelho, e uma tampa sem privada na rua Bianchi Bertoldi, a poucos metros dali.

O leitor Eduardo Lemos recomenda as caçambas de Higienópolis, onde, certa vez, viu uma série de quadros que retratavam a mesma mulher.

Outro informante garantiu que, no Texas, existe uma espécie de “Furniture Hunting Season Around the Block”, quando, no período entre mudanças de semestres, é comum despejar e colher mobília das calçadas.

Por aqui, porteiros bem relacionados e com tino comercial negociam os melhores itens com carroceiros.

Eu, de minha parte, aposto que existe um grupo de senhoras num prédio da Peixoto Gomide que compra móveis novos na Tok&Stok só para abastecer as caçambas. “Temos as melhores da rua”, diriam, orgulhosas.