Neymar e batata frita

Postado em: 20th agosto 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
20 de agosto de 2012

por Vanessa Barbara

Uma mesa-redonda de futebol formada só por crianças: foi da TV Cultura a melhor ideia televisiva do ano, o “Cartãozinho Verde” (seg. a sex., 19h15). Na bancada, torcedores de 8 a 11 anos representando os maiores times paulistas, mediados pela atriz Cristina Mutarelli.

Os programas são curtos (menos de 15 minutos) e discutem os acontecimentos futebolísticos do dia. À diferença dos debates “adultos”, neste cada um assume de antemão suas preferências – mas, curiosamente, não há ofensas e nem bate-boca.

Ainda assim, a cada dia, os meninos se soltam mais. O melhor é quando desatam a falar ao mesmo tempo, empolgados com algum lance em específico, ou quando alguém dispara um comentário como: “E o goleiro, que não conseguia botar o calção?”.

Gosto dos apartes entusiasmados e sem sentido, que vêm do âmago dos pequenos fanáticos. A final da Libertadores foi narrada da seguinte maneira: “Quando o Corinthians fez o primeiro gol, meu dente estava mole e eu estava comendo maçã. Aí comecei a mexer nele e arranquei”, disse o são-paulino Pedro Crema, de 8 anos, que gosta de churrasco, de matemática e do desenho “Cocoricó”.

“O meu primo, quando foi o segundo gol do Corinthians, chutou a mesa, caiu farofa em cima do celular da minha mãe, o santinho voou para a cozinha, vixe”, narrou Matheus Ribeiro, 9 anos, que gosta de Neymar e batata frita. A apresentadora ficou na dúvida: “Seu primo estava totalmente contra?”. E a resposta: “Não, ele gostou. Foi sem querer.”

O corintiano João Braga, 8 anos, temeu quando o goleiro Júlio César foi levantar a taça porque “ele tem mão de alface”. Num exemplo de elegância e autocontrole, contemporizou: “Tudo bem que o Corinthians foi campeão da Libertadores, mas eu acho essa taça muito feia”.

O palmeirense Eric Lanfredi é o mais maduro do time, com 11 anos. Num dos programas, seu pai foi convidado para falar sobre preparação de goleiros, e certamente não esperava a (excelente) metralhadora de perguntas a que foi submetido, com espaço até para a questão: “É melhor luva com bolinha ou sem bolinha?”.

Nada supera um comentário infantil vindo do nada, sem presunção de especialista e nem objetivo aparente. No meio da discussão, o pequeno Pedro levantou a voz e disse: “O pai do meu amigo encontrou o Riquelme no restaurante”.

“Ah, é?”, retrucou a apresentadora, sem ação.