Tolices alemãs

Postado em: 2nd julho 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
2 de julho de 2012

por Vanessa Barbara

Aos que reclamam que esta coluna dá excessiva atenção a porcarias televisivas brasileiras, aqui vai uma boa dose de porcarias televisivas alemãs.

A RTL é uma emissora comercial que passa as tardes exibindo um gênero chamado de “Doku-soap”, uma mistura de documentário e novela (“soap opera”), com reconstituições de casos polêmicos de família e sociedade.

Na atração, atores lamentáveis encenam histórias supostamente reais, mas patentemente inverossímeis (com enredos novelescos, excesso de reviravoltas, comportamentos implausíveis de personagens estereotipados), enquanto a câmera colhe depoimentos dos envolvidos.

“Casos suspeitos”, “Famílias em ponto de ignição”, “Falcatruas”, “Vida real” e “Os detetives de seguradora – na pista da verdade” são alguns dos títulos mais assistidos.

Numa só tarde, é possível acompanhar dois casos de adultério (um de uma garota de 18 anos que namorava um homem casado de quarenta, outro de um professor que engravidou a amante e perdeu o emprego por agredir um aluno), seguidos de um terceiro programa sobre uma jovem perua viciada em compras que levou a família à ruína.

Antes mesmo do jantar, a pungente história de um sujeito que fingia ser gay só para ser aceito numa república de estudantes, quando na verdade era hétero e mulherengo.

Outro gênero apreciado pelo bom povo teutônico é o de julgamentos encenados de casos tão novelescos quanto os supracitados, com atores e enredos tão ruins quanto. Também se referem a crimes contra a moral e os costumes, mas às vezes tratam de assassinatos.

Já a programação noturna é ficcional e traz uma vasta oferta de seriados policiais (os chamados “Krimis”), alguns importados, como “CSI Miami”, e outros nacionais. As telenovelas têm nomes como  “Entre nós”, “Tempos bons, tempos ruins” e “Tudo aquilo que conta”.

Nosso correspondente em Berlim, o tradutor Rafael Mantovani, confessa que os “Doku-soaps” e os programas de julgamento são às vezes maçantes, mas sempre compensa ver um ator ruim confessando que estrangulou a ex-amante com o cadarço do tênis, ou uma péssima atriz admitindo que roubou dinheiro da creche do filho para comprar sapatos.

Rafael, que estuda filosofia na Universidade Humboldt (a mesma de Einstein e Schopenhauer), diz que é preciso “saber apreciar uma bela cena real da mãe arrastando a filha vadia pelos cabelos loiros até Mönchengladbach”.