Folha de S. Paulo – Ilustrada
23 de janeiro de 2012

por Vanessa Barbara

À beira de uma piscina, Sherlock Holmes encara seu arqui-inimigo Jim Moriarty. Aponta um revólver para o rival, mas hesita: Watson está na mira de atiradores e há explosivos no chão. Sherlock mira em Moriarty e, sem opções, passa para os explosivos. Vai ou não atirar?

Essa dúvida perseguiu os fãs durante um ano e meio, mas em 1o de janeiro foi finalmente desfeita com a estreia da segunda temporada de “Sherlock” na BBC (ver coluna de 9/1/11, “O Napoleão do Crime”).

A cena fica em suspenso até que o celular de Moriarty se põe a tocar – a ringtone é “Staying Alive”, dos Bee Gees. “Tudo bem se eu atender?”, pergunta o educado vilão, pedindo constrangidas desculpas aos presentes.

Se a primeira temporada da minissérie foi genial, a segunda não fica atrás. A mente de Sherlock é como “uma locomotiva sem controle, um foguete se despedaçando no ar”, e isso se traduz em imagens. Sempre que possível, o detetive não explica em diálogos como chegou a uma conclusão: seguindo seu olhar, a câmera capta detalhes de objetos e faz estourar deduções por escrito na tela.

No episódio “O cão dos Baskerville”, Sherlock projeta um mapa mental onde deposita suas memórias. “Teoricamente, você nunca esquece nada do que viu”, explica Watson. “Tudo o que precisa é encontrar o caminho de volta.” É o que ele faz diante do espectador, arrastando e descartando no ar inúmeras associações de palavras, imagens e lembranças, à la “Minority Report”.

Também os cenários sofrem vertiginosas montagens a serviço da trama – Sherlock está na sala e “vai e volta” de uma cena de crime, ou deleta um grupo de pessoas do sofá e torna a enxergá-los assim que dizem algo interessante.

Desta nova leva, destacam-se a participação demolidora de Irene Adler e o desfecho da temporada, baseado no conto “O problema final”. O episódio foi exibido no dia 15 e já é motivo de sangrentas discussões nos fóruns. Só aqui em casa os últimos minutos foram repassados cinco vezes, com pausas estratégicas para levantamento de hipóteses.

Não se trata apenas da versão contemporânea de um clássico, mas de uma bela reinvenção de linguagem.

Bem diferente, aliás, de “Sherlock Holmes 2: O Jogo de Sombras”, longa-metragem que estreou no Brasil no último dia 13 e usa os efeitos especiais sem critérios, contentando-se com algumas boas cenas de ação e pouca engenhosidade na trama. Curiosamente, ambas as versões falam do mesmo conto.

  1. Marina disse:

    Quando passa isso na BBC?