A teoria da calopsita

Postado em: 13th março 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Muitos leitores escreveram para manifestar seu apoio à coluna “No próximo bloco, insânia” (23 de janeiro).

O engenheiro de sistemas Marcio José Porta conta que, em 1988, participou do planejamento financeiro da TVA, uma das primeiras operadoras de TV por assinatura no Brasil. Enquanto preenchia planilhas, perguntou se, além das receitas de assinatura, deveria considerar também as de publicidade.

“Claro que não. Os assinantes não irão admitir publicidade na TV por assinatura”, respondeu o chefe.

Ou seja: não foi por maldade. Em algum momento da história, um estagiário deve ter inserido, só de sacanagem, um comercial na grade de uma emissora a cabo. Ninguém reparou.

Daí para chegar aos cinco minutos de intervalo – os mesmos – a cada dez de programação, foi preciso apenas que as pessoas não se manifestassem. O atrevimento é tão grande que hoje o problema não é mais da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), mas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Até os canais Telecine, outrora incansáveis bastiões dos filmes sem intervalos, aderiram ao “voltamos em dois minutos”, só para encaixar informes da programação.

Uma leitora, pedindo desculpas pelos palavrões, reclamou também do looping infinito dos filmes. “‘Velozes e Furiosos’ é o campeão: já vi passar em três canais ao mesmo tempo”. Eu acrescentaria à lista “Um lugar chamado Notting Hill” e “A Identidade Bourne”, que deve passar na Fox em dias alternados (o resto do tempo é preenchido com “Os Simpsons”).

Muitos sugerem que os canais sejam obrigados a informar o tempo líquido do programa e a porcentagem de comerciais, para que as pessoas decidam se estão dispostas a assisti-lo. Outros dizem que se deve estipular um limite de veiculação para a mesma peça publicitária (uma vez por hora), a fim de coibir a repetição.

Sugiro que informem também os efeitos colaterais da exposição, como: ansiedade, palpitação, ira e catatonia. E que admitam de vez que não há ninguém no estúdio de transmissão, só uma sonolenta calopsita silvestre, cujo ofício é copiar e colar os mesmos reclames em intervalos aleatórios. E botar a fita pra rodar no dia primeiro de cada mês.