Uma rede de futuros escritores

Postado em: 31st agosto 2008 por Vanessa Barbara em Clipping
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JCNet – Jornal da Cidade de Bauru
31 de agosto de 2008

por Karla Beraldo

Um longo caminho separa um jovem autor da publicação de seu primeiro livro. No entanto, para alguns “talentosos sortudos da rede”, esse percurso pode durar a mesma fração de tempo necessária para um “post”. O crescente número de publicações que transportam para o papel textos feitos originalmente na Internet – e mais especificamente nos blogs – e os tantos “blogueiros” que se dedicam à criação literária, têm feito com que muitos encarem a rede como um promissor berço de futuros escritores.

Um recente exemplo é a escritora Vanessa Bárbara, de apenas 26 anos, cuja trajetória até as prateleiras foi um caminho breve. Dona do “Hortaliça” (www.hortifruti.org), uma espécie de fanzine publicado na Internet desde 2002, a jovem chamou a atenção na web por sua habilidade com as letras e, se não bastasse um primeiro livro, lançou dois logo de uma só vez: “O Livro Amarelo do Terminal” e “O Verão do Chibo”, este escrito em parceria com Emilio Fraia.

Vanessa, que também é jornalista e colaboradora desde a primeira edição da revista “Piauí”, não nega que, pelos feitos citados acima, muito deve à visibilidade alcançada com o almanaque produzido na Internet.

“Fui chamada pela ‘Piauí’ porque os editores leram a ‘Hortaliça’ e acharam tudo muito apropriado. Na verdade, eles nem sequer sabiam que eu era formada em jornalismo, portanto, todo crédito ao ‘legume’. No caso da editora, o Paulo Werneck também me chamou para ser preparadora de originais por causa da minha horta. Assim, tanto o ‘Hortaliça’ quanto a minha experiência jornalística e editorial contribuíram para que eu fosse publicada”, conta a paulistana, esbanjando humor, em entrevista ao JC Cultura.

Em “O Livro Amarelo do Terminal”, nascido da necessidade de um tema para um livro-reportagem para o trabalho de conclusão de curso, Vanessa faz um relato do que é o Terminal Tietê, em São Paulo, a maior rodoviária da América Latina. Por meio da reportagem que se utiliza de técnicas literárias para contar uma história, a escritora reuniu entrevistas, material de arquivo, relatos tocantes e personagens curiosos, todos costurados capítulo a capítulo.

“O livro é a cara do que faço na Internet. Pode até ser confundido com um almanaque da rodoviária, pela polifonia do texto e design. É tudo feito por meio de um jornalismo que procura a melhor forma de abordar um assunto, sem medo de experimentar. Aliás, toda minha seriedade jornalística e editorial pode ser atribuída à ‘Hortaliça’”, afirma a jovem que considera que o “praticar” na Internet foi essencial para dar o pontapé inicial na sua carreira de escritora.

Para Vanessa, a liberdade é um dos principais benefícios daqueles que caminham pela via contrária, migrando da rede para o papel. “É um meio onde se pode escrever o que dá na telha, na hora que quiser e para quem quiser. A liberdade é única”, considera. Para ela, a Internet concede ao autor um tipo de liberdade que ele provavelmente não teria se começasse direto com o livro impresso.

“Nos sites, blogs e fanzines, não há necessidade de escrever com as mãos atadas, do alto de um guarda-roupa e com um vestido de festa: pode-se fazer um texto de pijamas sem umbigo nem cabeça. Essa falta de solenidade fica para o resto da vida – e não significa um texto desleixado, mas um texto que não se leva a sério, um texto que não se gaba de nada”, defende Vanessa, que teve ambos os livros lançados em julho, na 6.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na qual a escritora compôs a primeira mesa de debates do evento, como representante da nova geração de escritores brasileiros.

Da mesma opinião da escritora compartilha Silvia Ferreira, estudante de jornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru. Para a jovem de 22 anos, as postagens em seu blog (www.desmascarandodemagogias.blog-se.com.br) é uma maneira de explorar a criatividade e fugir da prática do jornalismo convencional.

“É um espaço para reflexões que, muitas vezes, não temos condições de fazer fora da rede. Além de ser uma ótima maneira de exercitar. Lendo posts antigos é nítida a evolução: hoje os textos estão mais bem escritos e argumentados”, avalia a futura jornalista, que está no seu quarto blog.

A exemplo de Vanessa Bárbara, a estudante, que está no último ano de jornalismo, também aproveitará o trabalho de final de curso para dar início à empreitada de seu primeiro livro. Juntamente com outros colegas, Silvia pretende contar a história do Armazén Bar, uma das mais antigas casas noturnas de Bauru. “Por meio dele (bar) queremos fazer um retrato de toda uma geração. E ainda vai ser uma maneira de colocar para fora toda essa vontade de escrever”, considera.