Gol de placa da HBO

Posted: 19th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
19 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA 

Terminou ontem a primeira temporada de “(fdp)”, série brasileira produzida pela Prodigo Films e exibida pela HBO. (A reprise será hoje às 20h30 na HBO2 e terça às 18h30 na HBO.)

Nela, Juarez é um pacato juiz de futebol que ganha a chance de apitar a Libertadores da América (se não quiser saber o desfecho, pule para o quinto parágrafo). Retratada no episódio, a partida final entre um time argentino e um paraguaio termina magistralmente com um gol do árbitro – nos últimos instantes, a bola bate no rosto dele e entra no ângulo.

A ironia: Juarez havia recebido uma proposta de suborno para influenciar o resultado em favor dos argentinos, o que acaba acontecendo de forma involuntária.“Vão falar muito de você no Paraguai hoje”, comentou um personagem à mãe do juiz.

Foi um belo final para uma série que correu bem de uma ponta a outra do campo, como um árbitro trotando com o apito na mão.

Finamente dirigida e fotografada, “(fdp)” estreou em agosto como parte dos esforços da HBO para atender à cota mínima de conteúdo nacional na tevê paga. Com meia hora de duração, os episódios são bem escritos, sobretudo nos trechos de partida.

Começam sempre com um sonho de Juarez – no piloto, ele tem devaneios de que está apitando a final da Copa do Mundo e é ovacionado pelos jogadores, após “uma partida dramática, com muita violência, expulsões e lances difíceis”, segundo o locutor. Como só poderia ocorrer num sonho, o árbitro sai carregado por uma multidão satisfeita.

No dia a dia, Juarez sofre pressões do chefe e da imprensa. Após transmitir uma doença venérea à esposa, é expulso de casa e perde a guarda do filho.

No final de cada um dos treze episódios da temporada, ele é xingado impiedosamente com todas as letras do palavrão que dá nome à série.

O roteiro é de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, com base em argumento de Adriano Civita e Giuliano Cedroni.

Os atores são excelentes, com destaque para o protagonista Eucir de Souza, e passam ao largo daquela triste entonação de telenovela.

Os momentos mais engraçados ocorrem durante a mesa-redonda pós-jogo, como, por exemplo, o do merchandising de uma empresa de lentes de contato. Ao vivo, o apresentador tenta submeter Juarez a um teste de visão para entender por que ele deixou passar um gol de mão.

“Consigo ler, sim. É I de imbecil, P de piranha…”, declara o juiz, revoltado. E sai batendo o pé. 

Peixe ao molho de tucano

Posted: 19th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo
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Nos dias de chuva, o aquário é um bom substituto ao jardim zoológico

Folha de S.Paulo – Cotidiano
19 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA 

Um dos locais mais interessantes da cidade é o Aquário de São Paulo (Rua Huet Bacelar, 407 – Ipiranga). A 600 metros da estação de metrô Santos–Imigrantes, ele abre todos os dias das 9h às 18h, inclusive domingos e feriados.

A entrada custa 40 reais, mas às segundas-feiras cai para 25. É o maior aquário da América Latina, com 9 mil metros quadrados e 300 espécies nadando em 2 milhões de litros de água.

Na ala das florestas brasileiras, além de uma variedade multicolorida de peixes, há dois filhotes albinos de jacaré que dividem espaço com folgados cágados de água doce. Dá pra passar horas observando a interação entre os animais: as tartarugas pegando carona nas costas dos colegas crocodilianos, tirando comida da boca deles, sendo, enfim, espaçosas e inconvenientes.

(Segundo os biólogos do local, as espécies podem conviver no mesmo espaço porque são alimentadas diariamente, portanto não há risco de predação.)

A área de oceanário é impressionante, com uma réplica de navio naufragado cercada por tubarões e arraias. Os visitantes enxergam os animais passando pelo vidro sobre suas cabeças: são sete exemplares de tubarões-lixa brancos e um tubarão-mangona chamado Pancho que não para nunca de nadar, com seus dentes expostos e a aparência de poucos amigos.

Há também um peixe-boi de 120 quilos, gordo e bonachão, que pode ser apreciado do alto de uma ponte, um grupo de pinguins-de-magalhães e um lobo- marinho subantártico, além de macacos, morcegos, tucanos, lontras, dois bichos-preguiça e dois tamanduás.

Nos dias de chuva, o aquário é um bom substituto ao zoológico, com seus recintos fechados e relativamente tranquilos.

Os mais afeitos à ironia podem emendar a visita com uma refeição no bar e restaurante Pescado (av. Engenheiro Caetano Álvares, 5364 – Mandaqui, seg. a dom., das 9h à 0h), um dos meus preferidos para peixes e frutos do mar.

O salão é amplo e simples, com atendimento informal e bons preços. A moqueca de peixe na telha vem acompanhada de pirão e arroz e custa 108,80 reais. A caldeirada com frutos do mar sai por 104,60. Ambos servem de 3 a 4 pessoas. 

Quatro opções de experiências transcendentais para este domingo

Folha de S.Paulo – Cotidiano
18 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA 

Um clássico programa dominical é ir ao Mosteiro de São Bento assistir a missa das 10h, com órgão e canto gregoriano. Na loja anexa à basílica são vendidos caríssimos bolos, pães, geleias e biscoitos feitos pelos próprios monges a partir de receitas imemoriais, guardadas no arquivo da abadia. (O preço médio dos bolos é de 50 reais.)

Uma alternativa mais franciscana é assistir à missa das 10h30 no Mosteiro da Luz, onde são vendidos pães a 5 reais e biscoitos de sequilhos confeccionados pelas freiras reclusas. A igreja é uma importante construção colonial do século XVIII, com seu intrincado altar barroco em tons claros e dourados.

Após o serviço religioso, uma boa ideia é visitar o Museu de Arte Sacra que fica ao lado e funciona de terça a domingo, inclusive feriados, das 10h às 18h. A entrada custa 6 reais e é gratuita para os idosos.

No período da tarde, dando prosseguimento à romaria, recomenda-se a visita a uma casa de chás em Moema, aberta das 15h às 22h30, que serve um vasto café colonial ao preço fixo de 39 reais.

Chama-se “As Noviças” (Alameda dos Aicás, 1563) e tem um ambiente de convento, com canto gregoriano e música sacra ao fundo. Circulando com saias compridas e sandálias de dedo, moças trazem sem parar mais de 60 opções de iguarias, acompanhadas de chás, café ou chocolate quente.

Não pergunte a que ordem religiosa elas pertencem, pois a resposta é indigesta: “Nenhuma específica… Quer dizer, nós não somos exatamente freiras”, explicou uma das garçonetes, um pouco envergonhada.

O ambiente pode ser artificial, mas os quitutes são autênticos: para começar, pães quentinhos com três tipos de geleias, queijo fresco, manteiga e mel. Em seguida, 14 opções de salgados como folhado de ricota com uva-passa, empadinha de palmito, quiche de escarola gratinado, rissole de camarão, torta de frango com catupiry e bolinho de bacalhau. Com direito a repetir à vontade.

Depois é a vez dos doces: quindim, strudel de maçã, manjar branco com calda de ameixa, bolo floresta negra, torta de limão, bolo mousse de chocolate. É quando a conversão se completa.

Basquete, pebolim e oficina de Qi Gong

Posted: 17th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo
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As atividades são gratuitas para quem tem carteirinha do Sesc

Folha de S.Paulo – Cotidiano
17 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA         

Há duas instituições paulistanas que possuem o meu afeto amplo e irrestrito: a linha amarela do metrô, que interliga a estação da Luz ao Butantã em quinze minutos, e o Sesc (Serviço Social do Comércio), com suas dezessete unidades na Grande São Paulo, onde é possível cantar, jogar futsal e praticar pilates na mesma tarde, a preços bem razoáveis.

Para a maioria das atividades é preciso fazer um cartão de matrícula, que fica pronto na hora, na secretaria de qualquer unidade (inclusive aos sábados). Trabalhadores do ramo de comércio de bens e serviços não pagam. Os usuários comuns desembolsam 57 reais por ano.

Uma das sugestões para este sábado é participar das recreações esportivas mistas: as opções são handebol (11h no Sesc Vila Mariana), basquete (10h no Ipiranga e 10h30 na Consolação) ou vôlei (12h30 na Consolação, às 15h no Bom Retiro e às 15h30 em Santana).

As mesas de pingue-pongue e os tabuleiros de xadrez ficam à disposição durante o dia, assim como as piscinas. Na unidade de São Caetano, vá de pebolim.

Nesse mesmo local, das 10 às 13h, quem se interessa por futebol de botão pode contar com o empréstimo de materiais oficiais e o apoio da União dos Botonistas (UBO).

Já o Sesc Consolação montou uma programação de atividades circenses para o feriado prolongado: hoje e terça haverá aulas de mágica às 12h e às 14h, além de oficinas de malabarismo, arame e perna de pau a partir do meio-dia. Esta última também acontecerá na segunda.

O Sesc Itaquera oferecerá uma aula aberta de Qi Gong às 14h, e o Sesc Belenzinho, exercícios de dança para melhorar a postura, às 11h. Senhas serão distribuídas meia hora antes para uma aula de dança afro no Sesc Pompeia, que começa às 15h, e é preciso se inscrever antes para uma oficina de colar senegalês, às 13h no Sesc Interlagos.

Hoje e amanhã, no Sesc Pinheiros, às 14h, haverá demonstrações da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan.

Todas essas atividades são gratuitas. Recomenda-se confirmar o evento por telefone (a lista completa está em www.sescsp.org.br) e apanhar o guia de programação do mês para estudar outras combinações excêntricas.

The Clock é uma boa opção para as noites de sexta e sábado

Folha de S.Paulo – Cotidiano
16 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA

Em época de feriado, não só as ruas da cidade ficam mais vazias, favorecendo a circulação de veículos e pedestres, como também as pistas de dança, incentivando a execução de passos mais ousados e expansivos.

Um bom local para as noites de sexta e sábado é The Clock Rock Bar, especializado em rock dos anos 50 e 60 (r. Turiassu, 806, Perdizes, das 21h até as 4h). O diferencial é que, por volta das 22h30, há uma aula gratuita de dança para iniciantes.

Por 40 minutos, mesmo quem não sabe diferenciar a esquerda da direita pode se juntar ao grupo e aprender os passos básicos do rockabilly, que se dança a dois.

Durante a aula, ensina-se o “giro simples”, o “abraço” e o “passeio”, entre outros. “O Coca-Cola é o passo mais sociável do rockabilly”, diz o instrutor. “Com uma das mãos, o líder consegue ficar girando facilmente seu par enquanto cumprimenta alguém que não vê há anos, conversa com um conhecido, toma uma Coca-Cola”, explica, numa demonstração prática com uma das garçonetes.

A graça é que dá pra ficar no balcão bebendo e fazendo crítica de dança (“Aquele veio do tango”, “Olha o cara que tropeçou em si mesmo”) ou entrar na pista para apavorar.

Após a aula, o espaço é ocupado por alunos dos cursos promovidos pelo estabelecimento, gente que dança há anos e que é instruída a nunca recusar um convite.

A casa possui uma rígida política contra passos aéreos, e é comum ver o gerente Maurício Martins reprovando as duplas mais imprudentes. O proprietário, Giuliano Garbi, circula levando cutucadas dos clientes e ostentando seu portentoso topete.

Hoje, a banda residente será a novata Bob Show e, amanhã, a veterana Alex Valenzi & The Hideaway Cats. Ambas tocam clássicos de Elvis Presley, Johnny Cash e Beatles.

Há momentos em que os frequentadores menos sóbrios se lançam a uma dança coreografada em linha, mas o ponto alto da noite é o barman que cospe fogo no ritmo de “Great Balls of Fire”.

É uma das melhores coisas para se fazer num feriado

Folha de S.Paulo – Cotidiano
15 de novembro de 2012

VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA

Houve um ano em que tive uma crise de labirintite em plena sexta-feira de Carnaval – todo mundo pegando a estrada e fazendo planos enquanto eu tomava Buscopan Composto e ia dormir às 9 da noite.

Impossibilitada de viajar e de me entregar a atividades mais vigorosas como nadar, sapatear e andar de bicicleta, arquitetei um feriado só de cinema e sorvete, que cumpri à risca.

É uma das melhores coisas para se fazer em São Paulo quando quase todo mundo vai embora: nos próximos dias, os cinemas estarão mais tranquilos e as ruas, desertas.

Uma das sugestões é reeditar corajosamente a 36ª Mostra, que terminou há duas semanas e tem alguns de seus destaques no circuito: os dois melhores são “Um Alguém Apaixonado”, do iraniano Abbas Kiarostami, que estreou nesta semana no Reserva Cultural, e “Frankenweenie”, animação de Tim Burton que fechou a Mostra e está em exibição em mais de 30 cinemas.

Há também o polêmico “Laurence Anyways”, sobre um sujeito que anuncia à namorada que pretende mudar de sexo, e “Era Uma Vez Eu, Verônica”, do pernambucano Marcelo Gomes.

Na esfera hollywoodiana, as indicações são “Argo”, drama de Ben Affleck com o protagonista da série “Breaking Bad”, e “007: Operação Skyfall”, um dos melhores filmes da franquia desde que Sean Connery aposentou suas ventosas de escalada e seu snorkel com gaivota acoplada.

COCHILO CARO

Muitos desses títulos podem ser vistos em grande estilo numa das 18 salas de cinema de luxo dos shoppings Cidade Jardim, Tamboré, Vila Olímpia, Pátio Paulista, Iguatemi Alphaville e JK Iguatemi. Lá, as poltronas são reclináveis, com apoio para os pés, e há serviço de garçom dentro da sala.

Pode-se assistir a um “blockbuster” tomando champanhe e degustando canapés de salmão, ou, na eventualidade de um cochilo, será a soneca mais cara da sua vida: o preço médio dos ingressos é de R$ 50.

Se o orçamento estiver apertado e o sofá, irresistível, o jeito é dirigir-se a uma das melhores videolocadoras da cidade, a HM Home Vídeo (praça Vilaboim, 20, e rua Marquês de Itu, 1.018), onde o Átila e a Magali podem dar uma indicação de filme por dia, até a labirintite passar.

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O lado indigesto dos cinemas de luxo em São Paulo

Revista piauí n. 74
Novembro de 2012

por Vanessa Barbara

O trailer de Amanhecer – Parte 2 estava no final quando dois garçons galgaram os degraus da sala de cinema com uma garrafa de vinho Chakana Malbec e uma cumbuca de cristal confeccionada pela artista Rossana Gobbi. Dentro dela, seis camarões de Fortaleza “cozidos à perfeição”, acompanhados de três tipos de molho: lemon pepper, teriyaky e blue cheese.

A cena é corriqueira no Cinépolis vip do Shopping JK Iguatemi, inaugurado há quatro meses na zona sul de São Paulo. O novo complexo de cinemas tem oito salas com os ingressos mais caros da cidade: 72,30 reais para assistir a um filme em tecnologia 4D (com cheiros e movimentos), 42,50 reais na sala com tela Imax e 53,30 reais para usufruir uma experiência diferenciada em uma das seis salas de luxo.

Nesses recintos, há em média 80 poltronas por sala, contra as 148 de um cinema padrão como o Cinépolis Mais Largo 13. No Box Cinépolis Itaquera, a vertente mais popular do grupo, a média de poltronas é de 297 por sala, e os ingressos custam 17,50 reais.

Nas salas vip do JK Iguatemi, assim como nas do shopping Iguatemi Alphaville, inaugurado em abril do ano passado, as poltronas são de couro italiano e possuem sistema elétrico de reclinação de quase 180 graus. Com 55 centímetros de largura, estão entre as maiores do circuito e foram premiadas pelo jornal O Estado de São Paulo no 8o Oscar das salas de cinema. O braço é almofadado, retrátil e tem cerca de 11 centímetros de largura. Há um vasto corredor de distância entre os assentos.

Ao contrário do que se poderia supor, Eike Batista não estava por lá. O vinho havia sido requisitado por duas velhinhas na fileira C, que analisaram detidamente o menu de bebidas, acionaram um botão ao lado da cadeira e interagiram com um sorridente garçom de nome Felipe, a quem pediram meia garrafa de um Malbec argentino, a 39 reais. Ele anotou o pedido num smartphone, solicitou o pagamento através de uma máquina de cartão de crédito e, minutos depois, trouxe a bebida. Pés para cima, as duas bebericaram o líquido de um “destacado aroma de frutas vermelhas com sutis toques de especiarias e flores secas, e taninos aveludados, de intenso final” enquanto assistiam ao filme francês Intocáveis.

Há um abajur entre as duplas de poltronas para facilitar a leitura do menu, repleto de descrições adjetivadas dos drinques servidos no local, e uma mesinha de vidro onde os garçons pousaram ruidosamente meu coquetel de camarão (30 reais) – que não era um milk shake de crustáceos, como eu pensava.

A experiência de assistir a um filme enquanto mergulha um camarão em molho de queijo é perturbadora. A começar pelo cheiro de peixe, que impregna o local e não é dissipado nem com o afastamento da mesinha retrátil para longe do campo de visão.

O odor permanece nos dedos mesmo após a utilização de um guardanapo extragrande, possivelmente o maior do circuito, e um lenço refrescante desodorizante. A questão da higiene fica ainda mais difícil por conta de meu outro pedido: um saco de  pipoca com azeite trufado (13,50 reais).

A carta de pipocas gourmet oferece sete opções: light, parmesão, caramelo, ervas finas, chocolate belga, Romeu e Julieta e pimenta com limão. Como complemento, sugere-se “harmonizar  a leveza dos melhores azeites em sua pipoca”, pagando um adicional de 8 reais por um pote com azeite de trufas, manjericão, azeitonas pretas ou limão. O espectador é que deve entornar o recipiente na pipoca, tomando o cuidado para não derramar o óleo no próprio colo ou, pior, nas poltronas de couro italiano.

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São Paulo é a cidade com a maior oferta de cinemas de luxo no Brasil (também chamados de vip, prime, platinum, premium, premier ou splendor): ao todo, são dezoito salas. Aberto em 2008, o pioneiro foi o Bradesco Prime (da rede Cinemark), no Shopping Cidade Jardim, que conta com um lounge “privado” e “descontraído”, além de cardápio assinado pela chef Morena Leite. Lá se pode assistir a um blockbuster degustando canudinhos de pato e roll de bacalhau. O sucesso foi tamanho que hoje são cinco salas do grupo, uma no Shopping Tamboré.

Há também duas salas Platinum no Shopping Vila Olímpia (rede Kinoplex), duas Splendor no Shopping Pátio Paulista (rede Playarte) e três vips no Shopping Iguatemi Alphaville (rede Cinépolis), junto com as novas seis do JK Iguatemi.

A Cinépolis afirma ser a criadora do conceito de cinema de luxo, tendo inaugurado as primeiras salas na Cidade do México em 1999. Hoje possui 140 em operação pelo mundo, sobretudo em países pobres com acentuada desigualdade de renda (México, Guatemala, Panamá).

Durante a sessão de Intocáveis, praticamente lotada, quase todas as mesas estavam ocupadas por taças de vinho com taninos estruturados e elegantes (de 23 a 38 reais). Alguns tomavam coquetéis de vodca Grey Goose, criados pelo mixologista Pablo Moya, ou cervejas premium como a Erdinger (26 reais) e a La Trappe (70 reais).

Nas fileiras da frente, talvez para demonstrar o quanto estava à vontade nesta vida de opulência, um homem de terno esticou os pés na poltrona e tirou os sapatos.

“Eu me senti na classe executiva da Delta. Só faltaram aeromoças me chamando de Mr. Santos”, declarou o advogado Fernando Gherardini Santos, que foi ao Iguatemi Alphaville para ver um filme tomando prosecco italiano e comendo canapés de salmão.

Também o ilustrador da piauí, Andrés Sandoval, foi visto numa sessão de Tropicália com um Campari na mão.

Adepta do jornalismo participativo, a repórter experimentou um mini-hambúrguer de picanha com picles e um mini-hot dog com batatas sorriso, só para se arrepender logo em seguida. Não chegou a pedir o boat de sushis e nem o crepe de manga. Já a pipoca com azeite trufado tinha gosto de óleo queimado e contribuiu para a azia pós-filme.

Resta imaginar como ficaria a digestão dos espectadores na sala 4DX, onde há superventiladores, luzes estroboscópicas, fumaça, aromas e borbulhas sincronizados ao filme, além de um sistema eletrônico de movimentos nas poltronas para simular vibração, queda, trepidação, balanço, aceleração e frenagem. “É que nem ver filme em um touro mecânico”, resumiu um popular no site FourSquare.

Contemplando árvores

Posted: 12th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
12 de novembro de 2012

por Vanessa Barbara

Num ensaio intitulado “Encontre-me em St. Louis”, o escritor Jonathan Franzen conta sua experiência com a gravação de cenas para o programa de Oprah Winfrey.

Em 2001, seu romance “As Correções” foi escolhido para o clube de leitura mantido pela apresentadora mais popular dos EUA. (Em geral, as obras indicadas tinham um acréscimo de vendas de 500 mil exemplares.)

Em meio ao tour de lançamento do livro, Franzen gravou imagens para ilustrar a entrevista que daria pouco depois.

Embora o autor tivesse deixado St. Louis há 24 anos e se tornado um nova-iorquino convicto, os responsáveis pelo programa pediram que as gravações fossem lá.

“Compreendia que em televisão o fundamental eram as imagens, quanto mais simples e vívidas, melhor. Se os produtores queriam que eu fosse um cara do Meio-Oeste, então iria tentar ser um cara do Meio-Oeste.”

Assim, sob a orientação de uma equipe de TV, fingiu chegar à cidade e reexaminar suas raízes. Da janela do carro, repetiu uma série de tomadas em que aparentava curiosidade ou nostalgia, olhando em volta com falsa expectativa.

Insistiram que Franzen filmasse no interior da casa onde cresceu, mas ele se recusou: “Desculpe, mas eu realmente não quero”.

Ainda assim, para rebuliço geral, mostrou a árvore onde as cinzas de seus pais foram depositadas. “Por mais de meia hora a árvore e eu fomos filmados de vários ângulos. Eu caminho lentamente em direção à árvore, fico de pé contemplativamente ao lado dela”, conta. Mas Franzen não estava “conseguindo dramaticidade”.

Um dos produtores lhe deu as indicações: “Você está elevando o olhar em direção à árvore. Você está pensando em seu pai”.

Toda essa encenação recheada de sentimentalismo o deixou incomodado. Ele externou essas sensações, Oprah retirou o convite para o clube do livro e o país inteiro o chamou de esnobe.

Como convém na televisão, a história acabou bem: no final de 2010, o novo romance de Franzen (“Liberdade”) foi escolhido para o clube do livro da apresentadora e eles fizeram as pazes, numa entrevista repleta de platitudes.

Fingir que se está lendo, conversando ou contemplando uma árvore é a regra da televisão para captar imagens falsamente profundas.

Se os produtores lessem o ensaio de Franzen (publicado em “Como ficar sozinho”, da Companhia das Letras), saberiam que, no caso, bastava filmar um prato de ervilhas e tudo seria dito. 

Lançamento “A Máquina de Goldberg”

Posted: 9th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Clipping

Bolhas e joanetes

Posted: 5th novembro 2012 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
5 de novembro de 2012

Ilustração: Águeda Horn

por Vanessa Barbara

Aos 46 anos, Amy Sherman-Palladino é famosa pela ousadia de seus chapéus e pelos roteiros da série “Gilmore Girls”, comédia da Warner que durou sete anos e foi sucesso de público.

Filha de um comediante e uma dançarina, ela tenta unir esses dois talentos herdados na nova série “Bunheads” (gíria para as bailarinas com seus coques de cabelo), que estreou nos EUA em junho, sem previsão de lançamento no Brasil.

Na trama, uma ex-dançarina de Las Vegas com sólida formação clássica (Sutton Foster) decide se casar por impulso e vai parar na bucólica cidadezinha de Paradise, onde ajuda a gerenciar a escola de balé da sogra.

À semelhança de “Gilmore Girls”, temos um vilarejo cheio de tipos excêntricos e duas protagonistas sarcásticas, que falam muito rápido enquanto andam ou sapateiam – uma delas é Kelly Bishop, ex-Emily Gilmore.

As principais diferenças são o tom mais dramático de “Bunheads”, que após dez episódios ainda não encontrou um equilíbrio, misturando cenas mais escrachadas com momentos pungentes, sem grande critério. 

Se a série às vezes escorrega, talvez seja só questão de alinhar os ombros, elevar o queixo e levantar a perna, como a protagonista tentando corrigir um “arabesque” de uma aluna.

Há momentos que evidenciam a beleza de “Bunheads” e seu potencial dançarino-dramático: primeiro, o balé de “Picture in a Frame”, de Tom Waits, apresentado pelo núcleo jovem da trama num velório.

Segundo, a brasileira Julia Goldani Telles fazendo a coreografia raivosa de “Istambul (Not Constantinople)”, da banda They Might Be Giants. Ela faz parte do quarteto de bailarinas adolescentes que gravita em torno da protagonista.

Já no terceiro episódio, um instante digno de “Gilmore Girls”: do lado de fora da escola, as meninas tiram fotos dos pés para uma competição. Quanto pior o estado dos pés, melhor o estúdio de dança. “La Cañada é difícil de ganhar. Aquelas garotas têm pés revoltantes”, dizem.

“Unha quebrada não é nada. Se estiver infeccionada, aí podemos conversar”, declara uma delas.

Para perplexidade da protagonista, alguém exibe com orgulho “cinco bolhas, uma unha encravada, cascas de ferida e descamação”. “Isso está muito bom. Mas essa bolha vai ficar muito mais nojenta se estourar.”

E seguem felizes, elencando coisas repulsivas e fazendo trocadilhos sem pausa para respirar.