Homem Vogue
Agosto de 2008

Uma noite com: O mágico zen

Posted: 1st agosto 2008 by Vanessa Barbara in Crônicas, Reportagens, Revista Bravo
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Num espetáculo simples e delicado, Célio Amino usa o ilusionismo para transmitir ensinamentos de um célebre monge japonês

Revista Bravo, 08/2008
http://bravonline.abril.com.br/materia/uma-noite-com-o-magico-zen-2

por Vanessa Barbara
foto: Alessandro Ruano
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Célio Amino em ação no Tucarena, de São Paulo. ”A mágica é apenas um pálido reflexo do mistério da existência”

As luzes se acendem e um sujeito tranqüilo, de óculos e paletó preto, entra sozinho no palco do Tucarena, em São Paulo. Alguns caixotes, uma mesa, um chapéu, uma ampulheta, uma vassoura de piaçava, velas, uma caixa de fósforos, várias pedras e um leque espalham-se em cena. O homem, neto de japoneses formado em física na USP, carrega um bonsai e discorre, pausada e solenemente: “Quando eu era pequeno, me pediram para cuidar deste bonsai. Foi na mesma época em que comecei a fazer mágica. Não sei se vocês sabem, mas um bonsai costuma viver muito mais tempo do que nós…”.

É assim, à maneira de um sábio oriental, que Célio Amino conduz Além da Mágica, delicado show de ilusionismo que fica em cartaz até 17/8 e não exibe belas assistentes de palco nem efeitos especiais com laser. Durante uma hora, o artista de 38 anos reconstitui a trajetória fictícia de um mágico do Japão. À medida que relembra seu aprendizado na infância, o personagem relata conversas que teve com mestres zen. Dezessete truques – como os de adivinhação de cartas ou levitação de objetos – permeiam o espetáculo. Alguns ajudam a contar a história do mágico. Outros servem para ilustrar a filosofia expressa pelo narrador: “A mágica é apenas um pálido reflexo do mistério da existência”, diz Célio, transformando uma dobradura de papel numa rosa.

O texto do show se baseia nos ensinamentos de Shunryu Suzuki, monge japonês que morreu em 1971 e é considerado descendente espiritual de Dogen Zenji, um importante mestre zen do século 13.

Nem por isso Além da Mágica soa como um livro de auto-ajuda ou algo do gênero. Quando transita pelo terreno filosófico, Célio procura evitar o tom edificante. Vai emendando uma reflexão à outra sem pausas finais, como que para eliminar os aplausos fáceis. Seu método consiste em retirar a atenção do que é lógico e concentrá-la no que é mágico. Ainda assim, sempre que conclui um truque, o artista se mostra um tanto desconcertado. “Ao fazer apresentações como esta”, explica para a platéia, “me sinto como uma vela que produz muita fumaça, e às vezes me perco do essencial. Peço desculpas.”

A certa altura, narra a história de um dos grandes mágicos da tradição japonesa, que, quando garoto, foi para a escola e, no primeiro dia de aula, aprendeu os números. Durante aquele dia, ficou desenhando apenas o número 1. A professora, pensando que ele tivesse problemas, pediu que voltasse para a sua casa e só retornasse depois de ter aprendido a desenhar o 1. “Vocês acreditem ou não, ao longo de anos foi isso que ele fez”, afirma Célio. “De dia, o menino ajudava o pai na lavoura e, de noite, desenhava o número 1. Após muito tempo, ele voltou para a escola e desenhou no muro um número 1 tão perfeito que, nesse dia, o muro inteiro desmoronou.”

No fim do espetáculo, o mágico repete a façanha do garoto e faz uma mesa despencar com estrondo. Depois, agradece a presença de todos e avisa que, em poucos instantes, se juntará ao público para conversar no saguão. Simples assim.

Bom dia, meu nome é Vanessa

Posted: 1st agosto 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Revista Famecos/ PUC-RS
n. 19 – Agosto de 2008

por Guilherme Brendler

O professor de redação jornalística chega à primeira aula da disciplina de Produção em Revista e dispara: “Lembram do que eu havia dito sobre texto jornalístico no 2º semestre do curso? Pois esqueçam tudo!”. Os estudantes se entreolham, alguns acham graça, outros (como sempre) ficam indiferentes e os indignados se manifestam: “Por que eu pago essa faculdade? Pra ficarem se contradizendo toda hora? Nem parecem que recebem salário para nos ensinar as coisas!”. O que o infeliz do professor quis dizer é que as antigas formalidades do estilo de escrita que se aprende no início do curso de Jornalismo podem, a partir do 5º semestre, começar a ser relativizadas. Que atualmente, inúmeras publicações prezam uma redação mais despojada, livre do protocolo textual empregado, principalmente, pelos veículos diários e semanais. E, o mais importante de tudo, que o olhar que se dá aos fatos deve estar mais inclinado a mirar outros aspectos que normalmente não se presta atenção.

Então, a boa e velha matéria sobre a prostituição no centro da cidade, por exemplo, já não é mais uma pauta tão boa assim. É preciso que a história contemple outros ângulos, que seja desenvolvida por caminhos ainda não explorados, que se ressaltem as possíveis singularidades dessa história. “Não quer dizer que vocês devem ficar à procura de um papagaio que declame Olavo Bilac. Vocês precisam ver as coisas simples do cotidiano com outro olhar, mais aguçado e que perceba coisas que a maioria das pessoas não consegue apreender”.

Pois para quem ainda não entendeu as lições do mestre e continua o difamando pelos corredores da faculdade, deve ler o trabalho de conclusão de curso que Vanessa Barbara apresentou no final de 2003 e que em 2008 se tornou um livro. Ela emprega justamente essa visão afiada n’O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify, 249 páginas). Vanessa transforma o terminal rodoviário do Tietê, um tema batido, numa inovadora radiografia da realidade brasileira. Exagero? Não mesmo! A jovem jornalista mostra que o desejo de regressar à terra natal que consome os migrantes das regiões Norte e Nordeste —principalmente — se expressa de maneira fundamental nas dependências da estação rodoviária. O lugar simboliza a esperança de retorno às raízes e, ao mesmo tempo, a conformação da permanência em São Paulo, já que muitos por ali chegaram e pouquíssimos terão condições financeiras de um dia embarcar num ônibus e nunca mais voltar.

Bárbara nos revela, por exemplo, a “máfia” do Sindicato dos Carregadores e Transportadores de Bagagens em Estações Rodoviárias de São Paulo, que possui um número fechado de funcionários (exatamente 182) e quando alguém se aposenta quem assume a chapa — o crachá de identificação, ou seja, o emprego — é sempre um membro da família ou, raramente, um amigo muito próximo daquele que sai. Mostra o esforço que os seguranças do terminal têm que fazer para aguentar piadinhas dos carregadores que se gabam por ter um salário muito melhor do que o deles. Conhecemos a realidade dos lojistas das mais variadas partes do país que atravessam a madrugada num ônibus, passam o dia em São Paulo para comprar, tomam banho um preço de R$ 5 nos banheiros da estação e sacolejam por mais uma madrugada inteirinha durante a viagem de volta. É um Brasil que todos sabem que existe, mas que ninguém repara.

Sem dúvidas, O livro amarelo do terminal faz referências a Fama & Anonimato, de Gay Talese. No caso do escritor norte-americano, a única mudança é o número de páginas, o objeto de estudo (no caso dele era Nova York) e o silêncio de Vanessa com relação aos famosos. Mas ambos descrevem diversas coisas esquecidas e/ou perdidas que não cansam de encher os olhos das multidões: motores de moto, dentaduras, muletas, formigas que rastejam no Empire State Building, o homem alinhado que retira o lixo dos latões da Sixth Avenue, etc. O olhar de Vanessa se aproxima muito daquilo que Talese fez em praticamente todos os seus livros. Os dois salientam o anonimato de figuras excepcionais que dão vida às cidades. Além disso, diga-se de passagem, a redação de Barbara faz algumas homenagens ao mestre da não-ficção. Exemplo? A primeira frase dela (A rodoviária do Tietê é uma cidade de coisas perdidas) refere-se à de Talese (Nova York é uma cidade de coisas que passam despercebidas). Outro: a forma como explica o modo de falar de seus personagens com as sílabas dispostas nas páginas. Mais um? A contabilidade. Ele revela que os nova-iorquinos piscam 28 vezes por minuto; ela, que 1,4 milhão de créditos telefônicos são consumidos por mês nos orelhões do terminal do Tietê. Ele, que por dia os moradores de Nova York enxugam 1,74 milhão de litros de cerveja, devoram 1,5 mil toneladas de carne e passam 34 quilômetros de fio dental entre os dentes. Ela, que nos corredores do terminal 100 mil cafezinhos e doze toneladas de pão de queixo são consumidos por mês. Números que são inúteis, mas não no texto deles. (Bem, acho que — pelo menos neste caso — não sou um fã inveterado de Gay Talese tentando enxergar a influência dele em todo mundo que escreve).

“Agora, outra coisa que vocês não podem esquecer é que o estilo de escrita também deve mudar. Percebam que para conduzir uma boa história é fundamental um texto mais maleável, que seduza o leitor. A objetividade extremista e o lead morreram!”, declara o convicto professor. Mais incerteza entre os alunos que por nada conseguem se livrar dos cacoetes adquiridos ao longo de dois anos e meio de faculdade.

Vanessa* explora a sonoridade das palavras, uma das características que fez de Tom Wolfe talvez o mais inventivo escritor contemporâneo. Nenhuma palavra está onde está simplesmente porque sim. Está porque precisa estar ali junto com a anterior e com a seguinte. Ela emprega um estilo direto, seco e sem rodeios, semelhante ao de Dalton Trevisan. Inclusive, em determinados momentos, Vanessa utiliza o recurso do short tale ao invés de explicar Tim-Tim por Tim-Tim, na terceira pessoa do singular, a história dos seus personagens; uma excelente solução para manter o leitor pregado na viagem..

Chama a atenção que Vanessa não tira conclusões. Isso não é próprio para alguém que aos 26 anos trabalha numa das melhores revistas do país, é co-autora de uma novela, tradutora de uma história infanto-juvenil e tem o primeiro livro-reportagem editado por uma das mais disputadas e conceituadas editoras do Brasil. Geralmente, pessoas com brilhantes trajetórias em tão pouco tempo de vida têm de tudo para vestir a toga de filósofos e sair dando pitacos sobre as mazelas do mundo.

Vanessa não. Posso vê-la mostrar tudo num quadro pintado por ela mesma e sua única reação ser um breve sorriso sarcástico no canto da boca. Nem um comentário, tampouco uma pergunta se você gostou do quadro. A história é aquilo ali e pronto. Não necessita explicação, legenda ou coisa que o valha.

Mas três curtos capítulos do livro de  Vanessa são excepcionalmente críticos, capazes de matar de rir qualquer um que já se aventurou a ser jornalista. Do nono ao décimo segundo, ela senta a porrada em todo mundo. Não sobra pra ninguém. No capítulo 9, apenas com diálogos, exemplifica a dificuldade de se conseguir acesso a documentos públicos. No seguinte, um retrato perfeito do relacionamento entre assessorias de imprensa e a própria imprensa. E, finalmente, no 11º a melhor e menor crítica ao jornalismo que se pratica hoje nos grandes veículos. Vanessa nos apresenta o incrível, o revolucionário, o eficaz Gerador Automático de Reportagens. Basta checar os números e pronto. Está feita a matéria do feriadão prolongado (qualquer feriado!).

Os personagens de Vanessa Barbara não precisam de sobrenome. Eles são eu, você, nós. Ou eles são brilhantes ou a escritora os fez assim. No caso de Rosângela, uma das atendentes do balcão de informações do terminal, penso que a autora não precisou se esforçar muito. A simpática funcionária da rodoviária traduz o que vários poetas já tentaram dizer em versos melosos: “Tem pessoas aqui no Tietê que marcam sua vida de verdade. Ao contrário de tantas outras, que só passam e perguntam onde é o guichê da Cometa”.

Outro caso interessante é o de Marcos, um dos locutores da estação rodoviária. Provavelmente sem ter conhecimento da existência de um sujeitinho que marcou época enquanto perambulava pelas ruas de Nova York e contava sua vida para um jornalista americano, Marcos recebeu o espírito de Joe Gould e, por tabela, Joseph Mitchell encarnou em Vanessa.

Reencenando o egocentrismo do mendigo novaiorquino, Marcos informa a um colega: “Essa moça aqui não tem nada não. Está comigo pra fazer uma… pra escrever minha biografia!”.

No entanto, os bois recebem sobrenome quando se trata da farra quando o terminal rodoviário foi construído e, com uma vasta pesquisa aos arquivos dos jornais da época, nos ambienta na sujeira da política que coordenou a concepção do Tietê. Em três capítulos, sem cair na tentação, não faz um único comentário sobre a farra com dinheiro público e nos mostra, por exemplo, que a inauguração do terminal foi atrasada sete meses para favorecer os interesses de Carlos Caldeira Filho, dono da antiga rodoviária e de uma cadeia de jornais, o que representou um prejuízo de Cr$ 1,5 bilhão (R$ 53,1 milhões). Ou ainda que se gastou Cr$ 21 milhões (R$ 743 mil) apenas com a construção de duas simples escadas, num desnível de sete metros, com 1,5m de largura.

Não poderia deixar de citar o maravilhoso trabalho de Elaine Ramos e Maria Carolina Sampaio que conceberam a edição do livro. O projeto é divino. Mostra como são os tíquetes de embarque, a placa do banheiro, as manchetes dos jornais e as chamadas das revistas à venda na estação e, assim, ambienta o leitor ao mundo que Vanessa Barbara narra. Mesmo que se possa ter inicialmente certa dificuldade na leitura por causa das páginas em folhas finas que remetem a um guia telefônico, a edição é daquelas que se sobressaem.

Creio que estamos diante de uma revelação da literatura de não-ficção. E pode ser que agora o incansável professor perca menos tempo tentando incutir na cabecinha dos sorridentes, dos indiferentes e dos indignados o que é esse “outro” jornalismo. Belo cartão de visitas, Vanessa.


Guilherme Brendler é graduando em Jornalismo pela PUCRS e bolsista de iniciação científica BPA/PUCRS.

* VANESSA BARBARA tem 26 anos e é jornalista da Revista Piauí. É co-autora de O Verão do Chibo (Alfaguara), com Emilio Fraia e tradutora de Akimbo e os elefantes (Companhia das Letras).

Paisagens da crítica
28 de julho de 2008

por Júlio Pimentel Pinto

O verão do Chibo é um exercício de estilo. Seus dois autores – Vanessa Barbara e Emilio Fraia – buscam uma dicção fluida, um narrador que mantenha o ritmo nas descrições, que enxergue de fora e, ao mesmo tempo, atue e fale como um dos participantes dessa história de crianças que crescem e, ao crescerem, mudam de lugar, de condição, de mundo.

Às vezes, o leitor se sente em meio a uma quadrilha ou a uma brincadeira de roda, em que os pedaços da infância voltam e se combinam, dançam entre si, trocando de mãos e de pares, sem perder o modo fragmentário de quem lembra e sabe que, do passado, fica mais ausência do que resíduos, embora a memória às vezes nos persiga, idéia fixa, como mosca teimosa que insiste em pousar.

Chibo é o irmão mais velho e desaparecido do narrador, que percebe outros sumiços na ciranda do crescimento. Chibo é o advento desconfortável da maturidade. Não importa se o Chibo é real – para o narrador, para o leitor. Nem se suas aventuras, detalhadas na fala do mais moço, de fato aconteceram como são contadas. Chibo é tudo que se pode querer como irmão e modelo: forte, protetor, sabido; é aquele que possui a figurinha rara e lidera o universo em que vivem os personagens da história; conhece a zona proibida e ensina a respirar – literal e metaforicamente.

Por isso, sua ausência rodeia o narrador como a corda na garganta, o mar ao que se afoga. A perda é sentida no presente, que move a memória e preenche – com a sensação do hoje – os intervalos do passado lembrado. A saga quotidiana e infantil do narrador atravessa, assim, as referências que podem ajudá-lo a compreender o que o irmão foi e o que ele, pequeno-quase-grande, pode vir a ser. Para tanto, aparecem, aqui e ali, sinais do cinema e dos quadrinhos – de super-heróis a Calvin & Haroldo, de um mundo recheado de onomatopéias e de (nem sempre necessários) trocadilhos. Porque se é verdade que só crescemos quando esconjuramos os fantasmas da infância, é também inevitável que retomemos os verões com Chibo para chegarmos ao verão do Chibo – que, na verdade, é o verão sem Chibo: são os tempos-territórios que podem nos justificar, que podem ficar mesmo quando a infância se desfizer. Quando o novo lugar do Chibo e dos outros for compreendido, a ausência,essa ausência assimilada, ninguém a roubar mais do narrador.

Embora haja algum excesso no livro (principalmente nas citações e repetições), os autores conseguem manter o ritmo e a fluidez do relato e lidam bem com as variações de registro, passando do mosaico de cultura pop a um lirismo que não chega a ser declarado, mas tampouco é envergonhado. Certamente é o argumento sólido, associado ao assumido contorno cinematográfico da narrativa, que assegura a força do romance e mostra que Barbara e Fraia não se limitam – como tantos, hoje em dia – a fazer joguinhos de códigos para que os amigos decifrem.


Vanessa Barbara e Emilio Fraia. O verão do Chibo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008

Um mundo chamado terminal

Posted: 25th julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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No vaivém que não pára da Rodoviária do Tietê, uma jornalista parou e ficou. Encontrou histórias e bizarrices que encheram o seu ‘Livro Amarelo’

Jornal da Tarde
25 de julho de 2008

por Gilberto Amendola 

“Eu sou alérgica a telefone! Fico com umas brotoejas horríveis e a cara torta”, disse a autora de O Livro Amarelo do Terminal, Vanessa Bárbara, 26 anos, ao tentar convencer esse repórter das vantagens de entrevistá-la por e-mail e não por telefone. Felizmente, ela não conseguiu. “Quando vierem os soluços, o ataque de espirro e as brotoejas, não diga que eu não avisei”, argumentou, bem-humorada. Assim, com a entrevista confirmada, foi só regular o ‘gerador automático de reportagens’ e…

É melhor explicar logo. Vanessa transformou o seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Jornalismo em um dos livros mais bacanas da temporada: uma obra que transita pelo jornalismo literário, por uma detalhada pesquisa de campo e até pela ficção. Além disso, na obra, a autora inventou a máquina citada no parágrafo anterior, o tal ‘gerador automático de reportagens’.

Para escrever O Livro Amarelo do Terminal (leia trecho ao lado), Vanessa passou meses freqüentando o Terminal Rodoviário do Tietê. Lá, entrevistou passageiros, pesquisou dados relativos à movimentação e à história do terminal e, principalmente, deu chance ao acaso. “Eu ficava por lá, observando e deixando as coisas acontecerem.”

Vanessa cruzou com freiras, surfistas, vendedores, crianças e velhinhas desavisadas. Em uma das histórias mais engraçadas, uma idosa pergunta, no balcão de informações, sobre uma improvável viagem ao Iraque. A autora também teve acesso à sala de controle da rodoviária. Segundo ela, o lugar parecia mais um museu. “Um dos meus personagens preferidos é o Marcos. Ele trabalhava na sala de controle do terminal e foi a pessoa que me apresentou o lugar. Acho que ele tinha noção do estado crítico dos equipamentos. Vi muito computador quebrado e umas velharias mesmo. Encontramos uma régua em que estava escrito ‘7/81’. Chegamos à conclusão de que aquilo era uma data.”

Quando Vanessa precisou consultar algumas reportagens que já tinham sido publicadas sobre o Terminal Rodoviário do Tietê, fez uma rápida pesquisa no Google. Comparando os textos, chegou a uma conclusão implacável. “Era tudo muito parecido. Só mudavam os números. O texto era igual, uma fórmula.”

Pois é, Vanessa criou a crítica mais direta e provocante ao jornalismo diário dos últimos tempos. “Com o ‘gerador automático de reportagens’, tudo ficaria mais fácil. Os próprios jornalistas poderiam sair mais cedo do trabalho. Não precisariam passar tantas horas nas redações…”

Vanessa acredita que os jornais estão chatos. “É claro que os jornais diários são importantes, mas não sou leitora deles. Acho que o jornalismo deveria contar mais as histórias das pessoas, ser mais interessante”, opina.

A autora não sabe se a administração do Terminal Tietê (Socicam) gostou do seu livro. “Mas agora estou com medo de pegar ônibus lá. Não sei o que pode acontecer comigo”, brinca.

No final da entrevista, já com o ‘gerador de reportagens’ desligado, Vanessa avisou que estava indo para a emergência – cuidar das brotoejas, dos soluços e dos espirros. Tudo culpa de uma simples entrevista por telefone. “Ah, Vanessa, essa conversa vai entrar na matéria, tá bom?” E ela respondeu, rindo. “É, não dá pra confiar em jornalista.”

Trecho do ‘Livro Amarelo’

“…As pessoas vêem a placa ‘informações’ e acham que podem perguntar qualquer coisa, sei lá, a raiz quadrada de 32, o sentido da vida. ‘Onde é que eu posso comprar um teco de pimenta?’, um homem perguntou para a Silvana, atendente do local. “(…) Um dia, chegou uma velhinha perguntando: ‘Moça, onde eu faço inscrição pra ir pro Iraque?’.”

Versões e diversões

Posted: 20th julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Revista da Semana
20 de Julho de 2008

Reportagem em grande estilo

Posted: 14th julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Portal Literal
14 de Julho de 2008
http://www.portalliteral.com.br/artigos/reportagem-em-grande-estilo

por Bruno Dorigatti

Em O livro amarelo do terminal (CosacNaify), Vanessa Barbara produz reportagem ao estilo do Novo Jornalismo, inspirada em Gay Talese, para mostrar as veias e avessos do maior terminal rodoviário da América Latina, o Tietê.

A rodoviária do Tietê, em São Paulo, é uma cidade de coisas perdidas. “O caça-níqueis está aqui há dois anos”, informou a funcionária, mostrando uma lista que enumerava o esquecimento de espingardas (duas), motocicletas (duas), um banco de kombi, uma máquina de serrar azulejos, camas, muletas, motores de moto, pneus, dentaduras e uma mão mecânica.

Às vezes vem gente procurando amigos desaparecidos: mostram a foto e perguntam se já encontraram”, contou Andréia, que trabalha no setor de Achados e Perdidos. De fato, muitos pernambucanos, baianos, peruanos ou mineiros perderam-se há algum tempo em São Paulo e continuam deslocados, reprimindo a cada dia o desejo de voltar para casa (depois, talvez, quando os guris crescerem e sair a aposentadoria). Têm nomes como Rosa, Hugo, Rosângela, Ivonete, José Fernando, Cláudio, Edilene. Vagam pela cidade junto aos guarda-chuvas esquecidos, aos botões que se desprenderam, às dentaduras e todas essas coisas que não se sabe mais onde estão.

Assim começa O livro amarelo do terminal (CosacNaify), reportagem que segue a linha do novo jornalismo, aquele que se adensa e se demora na pesquisa do tema retratado, utiliza técnicas de narrativas ficcionais (mas não cria nem inventa nada), preocupa-se com o rigor estilístico e vai além dos fatos puros e simples, para buscar e apurar detalhes que aparentemente não dizem muito, mas acabam por revelar algo que não pode ser visto no olhar apressado.

Vanessa Barbara conseguiu realizar a empreitada de maneira singular, ao investigar o maior terminal rodoviário da América Latina, o Tietê. O trabalho iniciou-se em 2003, como tema de sua monografia de conclusão da faculdade de jornalismo. Um ano freqüentando semanalmente o terminal com seu bloco rosa, conversando com funcionários e alguns dos que ajudam a formar o enxame diário de chegadas e partidas da principal cidade do país, pesquisando a história de sua construção e os meandros políticos que envolvem praticamente toda obra pública de grande porte. Esta parte mais factual, digamos assim, ela nos conta lá pro final do livro, escrita a partir da consulta dos jornais da época da construção do Tietê, concluída em 1981, mas cujo tema ocupava os periódicos desde 1967, com a complicação em torno do terminal Júlio Prestes, situado na área central de São Paulo.

Mas até chegarmos à informação fria, passeamos com Vanessa e as mulheres do balcão de informações, conhecemos os pessoal da sala de controle com suas vozes frias, amorfas e todas no mesmo tom, a arrogante assessora de imprensa, ouvimos conversas furtadas das pessoas que esperam parentes distantes ou aguardam o embarque para rever a família, acompanhamos Augusta – que cuida da entrada do banho – o pessoal que ajuda na bagagem – os únicos a conseguirem evitar a alta rotatividade nos empregos –, a dificuldade de se conseguir acesso a documentos públicos dos contratos de concessão da obra, a “proibição” de entrevistar, conversar e falar com quem quiser que fosse para a pesquisa – com exceção das pessoas indicadas pela assessoria – a angústia das viagens de Natal, as diferenças sociais refletidas nas diferenças entre os terminais que ligam ao norte/nordeste e ao sul do país. E por aí vai.

Gay Talese foi um dos que melhor soube traduzir o espírito do novo jornalismo. Divagando sobre o tema, falou o seguinte:

“Eu procuro seguir os objetos de minha reportagem de forma discreta, observando-os em situações reveladoras, atentando para suas reações e para as reações dos outros diante deles. Tento apreender a cena em sua inteireza, o diálogo e o clima, a tensão, o drama, o conflito, e então em geral a escrevo do ponto de vista da pessoa retratada, às vezes revelando o que esses indivíduos pensam durante os momentos que descrevo. Esse tipo de insight depende, naturalmente, da cooperação total da pessoa sobre a qual se escreve, mas se o escritor goza de sua confiança, é possível, por meio de entrevistas, fazendo as perguntas certas nas horas certas, aprender e reportar o que se passa na mente de outras pessoas.”

Pois foi isso que Vanessa conseguiu. Inclusive, ela abre o livro com um trecho que muito lembra um famoso texto de Talese sobre Nova York (cujo começo pode ser lido aqui), com alguns dos números referentes ao terminal e um acurado olhar sobre os transeuntes.

Nos corredores do terminal, 100 mil cafezinhos e 12 toneladas de pão de queijo são consumidos por mês, 300 quilos de chiclete desgrudam-se do chão a cada grande faxina e 60 mil passageiros vão e vêm, a cada dia. Todo mês, 1,4 milhão de créditos telefônicos são consumidos nos orelhões, o que equivale a 46 mil horas de conversa ou 84 milhões de “alôs” repetidos à exaustão. São 63 lojas e onze quiosques, 650 quilowatts de energia por hora, 9 milhões de litros de água e 1 mil quilômetro de papel higiênico (dentro ou fora dos cestos de lixo). Ao todo, 1 806 funcionários trabalham em três turnos: 445 na administração, 346 nas lojas, quatro mocinhas no balcão de informações e a filosófica atendente Rosângela, que odeia quando não olham para ela e lhe cospem ordens, números ou interrogações sem sentido.

Na rodoviária do Tietê, é normal colocar tigres de pelúcia na cabeça, dançar em trenzinhos de conga, cumprimentar os lojistas todos os dias às 7 horas em ponto, carregar carne-seca com vermes brancos ou sentar-se em um dos 1 200 bancos de espera para tirar os sapatos (aliviado). Pode-se dançar com uma bolacha de maisena na mão ou mostrar a fralda para os transeuntes. Pode-se ir para Piracanjuba ou para Morro do Chapéu, pode-se voltar de Buenos Aires e depois tomar um banho, após deixar 10 reais para garantir a toalha.

Também é possível pesar os volumes na Viação São Geraldo, pedir ajuda aos carregadores de amarelo – e, se você for freira e isso for mesmo necessário, embarcar sua prancha de surfe sem problemas. Nos corredores do Tietê, alguns aceleram o passo mesmo sem ter motivo e perguntam aos gritos onde fica o guichê da Cometa, mas também é permitido parar em algum canto e ficar ali, de bobeira, conversando com o Papai Noel ou com uma senhora de blusa de lã que diz (de repente) que a Marinha britânica está vindo buscá-la.

A rodoviária do Tietê é uma cidade de chicletes abandonados, de pessoas com pressa e de coisas perdidas.

A autora está em Parati como convidada da Flip, onde participou da primeira mesa desta quinta-feira. Além deste livro amarelo, acaba de lançar também O verão do Chibo (Alfaguara), escrito junto com Emílio Fraia, e que teve um trecho ainda inédito publicado no Portal Literal, na coluna De Olho Neles, de Marcelino Freire, em 2005.

Confira abaixo a entrevista com Vanessa. E leia trechos d’O livro amarelo do terminal aqui e aqui.

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O que a levou ao Terminal Rodoviário do Tietê?

Vanessa Barbara. A rodoviária é uma espécie de rio que tem de tudo: gente chegando, gente indo embora, parentes se despedindo, velhinhas caminhando com grandes fiapos presos aos pés, gente que trabalha por lá, gente que espera a Marinha Britânica, gente perdida e 300 kg de chicletes abandonados. “Tietê” vem do tupi: “té é té”, um rio que se mostra “muito fundo e corrente” e corta a cidade. Achei que seria um bom tema para reportagem.

Como se desenvolveu a pesquisa de campo? O texto segue uma ordem cronológica, conforme você foi conhecendo melhor aquele microcosmo?

Vanessa. De início, fiz um reconhecimento aleatório do “terreno”. Depois planejei abordar os temas básicos: os funcionários, os carregadores, os motoristas, o Balcão de Informações, a sala de controle, a assistência social, as grandes distâncias, o Natal, o Carnaval etc. Nessa lógica, algumas coisas ganharam maior importância durante a apuração, outras foram ficando de lado. O texto não segue nenhuma ordem cronológica.

Interessante como o terminal reproduz, em uma escala menor, várias facetas da cidade e do país (a “burrocracia”, as diferenças sociais refletidas nas diferenças entre os terminais que ligam ao norte/nordeste e ao sul do país etc.). Como foi se aproximar desse universo? Isso foi ficando claro à medida que a pesquisa foi se desdobrando?

Vanessa. Nunca quis abordar o terminal como um resumo de nada, e nem achei que devia inseri-lo num esquema, mas, ao terminar o livro, cheguei a uma conclusão muito negativa e achava que era um lugar de desencontros. Hoje, depois de cinco anos, relendo o texto, vejo que é muito mais um lugar de pequenos encontros, de momentos sutis, de histórias extraordinárias. Vejo o terminal com muito carinho e gostaria que cada um interpretasse do jeito que lhe aprouvesse, pois é uma coisa muito difícil de classificar.

Deixou muita coisa de fora? Reescreveu muito o texto final? Poderia falar sobre esse processo?

Vanessa. Deixei de fora um capítulo sobre bandeirantes que escreviam cartões de Natal e outro escrito em forma de peça de teatro. Da edição final, saiu um capítulo de que eu gosto muito, o da viagem ao Chile (o destino mais distante do Tietê), que cortamos por ser um relato de segunda mão, ou seja, eu não cheguei a fazer essa viagem, só conversei com gente que tinha feito. Dei uma boa revisada em agosto do ano passado – passei um mês em cima do texto, tirando algumas gordurinhas e decidindo manter outras. Foi um processo difícil, mas, no geral, o livro não mudou quase nada. O Cassiano Elek Machado, meu editor, também fez umas sugestões precisas que me ajudaram bastante nesse tom amarelo final.

Poderia comentar as dificuldades que teve na pesquisa, para conseguir os documentos referentes aos contratos de concessão, além da “autorização” para circular e entrevistar as pessoas que trabalham no Tietê?

Vanessa. Os capítulos burocráticos explicam bem como foi esse pesadelo. Mesmo com um ofício da faculdade, não fui autorizada a circular livremente pela rodoviária. É claro que não cumpri as ordens. Acho que os capítulos falam por si e não há muito o que acrescentar sobre a minha “remontagem particular de O processo “, tirando o fato de que quase recorri a uma peruca rosa e uma longa barba branca para despistar os seguranças.

Percebe-se no texto uma influência do novo jornalismo de Gay Talese e Joseph Mitchell (este citado no livro na abertura do capítulo “História oral do Tietê”). Inclusive o capítulo de abertura, “Chegada”, remete ao começo do texto de Talese sobre Nova York. Poderia comentar a importância destes e demais autores no seu livro amarelo e como vê e pensa o novo jornalismo?

Vanessa. Li muitos desses autores na época da faculdade, e também Rubem Braga, Will Eisner, Truman Capote, Luis Fernando Verissimo, Hemingway, Orwell, John dos Passos. Minha idéia era escrever um livro que fizesse jus à classificação de projeto experimental, usando os recursos que eu bem entendesse, como partes de músicas, recortes de jornal, diálogos aleatórios, descrições, perseguições, geradores automáticos, reportagens mais clássicas e tudo o que me servisse para contar aquelas histórias.

Quanto tempo durou a pesquisa de campo? O que mais lhe empolga e motiva em uma pesquisa como essa? E o que lhe traz mais irritação e aborrecimento?

Vanessa. Foi uma apuração de aproximadamente um ano, durante o qual vivia apavorada. O que mais me irritou, além dos entraves burocráticos, foi a minha completa inaptidão para conversar com as pessoas. Às vezes eu ficava em silêncio ao lado de algum entrevistado vendo os ônibus passarem, por puro pânico e falta de perguntas. Isso às vezes era uma vantagem, porque o sujeito acabava falando qualquer coisa que lhe viesse à mente.

Ao final, você comenta a alta rotatividade dos funcionários que lá trabalham, e acha difícil reencontrar algumas das principais personagens do livro, como Rosângela, do balcão de informações, ou Marcos, da sala de controle. Chegou a reencontrar alguém já?

Vanessa. Não, e acho que o Marcos e a Rosângela não irão ler esse livro, o que é uma pena.

Em entrevista aqui no Portal Literal, na coluna do Marcelino Freire, em 2005, você e Emílio Fraia, com quem escreveu O verão do Chibo (recém-lançado pela Alfaguara) falavam das “setecentas e quinze” recusas das editoras. Três anos depois, os dois livros saem por grandes editoras e vocês dois abrem a Flip. O que mudou de lá pra cá?

Vanessa. É tudo culpa de um parecerista da CosacNaify, o Nelson Fonseca Neto, que recuperou o Livro Amarelo de uma pilha e o recomendou para publicação, e do Paulo Werneck e o Alexandre Barbosa, meus editores que resolveram apostar no livro.

E qual a expectativa de voltar a Parati como autora convidada?

Vanessa. Meu objetivo é não pegar soluço durante o debate e diminuir minha média anual de quedas nas pedras do calçamento (atualmente em 3,2 tombos/dia).

O Livro Amarelo do Terminal – Cult

Posted: 6th julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Cult Online
6 de Julho de 2008

Por Paula Fazzio 

“Sou repórter da [revista]  piauí, onde escrevo sobre hipnose, astrologia e anões”. É assim que Vanessa Barbara, 26, começou sua descrição quando foi perguntada sobre seu ofício. A jovem jornalista é também tradutora e acaba de lançar O Verão do Chibo, em parceria com Emílio Fraia e O Livro Amarelo do Terminal, seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo sobre o terminal rodoviário do Tietê, em São Paulo. O resultado foi uma abordagem diferente tanto no conteúdo quanto na forma de apresentação.

“Fiz o TCC como um projeto pessoal para aproveitar a oportunidade de escrever algo legal e poder mencionar o Paulo Gorgulho num projeto acadêmico (…) Eu queria fazer um livro de crônicas, que aos poucos foi virando reportagem. Procurei ir além do jornalismo cotidiano e dar maior polissemia à informação, com espaço para a pluralidade de vozes e a interlocução do leitor. Meu objetivo era o de derrubar a certeza e, em seu lugar, registrar a dúvida”. O TCC de Vanessa, que teve como orientador o jornalista e crítico, Marcelo Coelho foi editado pela CosacNaify.

Com páginas amarelas e roxas, o livro foi lançado na última FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), que ocorreu no início de julho. A primeira obra jornalística do catálogo da editora pertence ao gênero jornalismo literário, que consiste em utilizar recursos de observação e redação originários da literatura, imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos, digressão e humanização. Vanessa Barbara ainda participará de um debate sobre jornalismo literário no dia 12 de agosto com o jornalista Matinas Suzuki na Livraria da Vila às 19h30.

Esse “livro-reportagem com crise de identidade” , como define a própria autora, preocupa-se em retratar alguns elementos cotidianos, aparentemente banais, que não são visíveis a olho nu. “A moça acendendo uma vela dentro do Malex, a velhinha que diz que a Marinha Britânica virá buscá-la, gente andando com enormes fiapos presos aos pés, a quantidade buliçosa de freiras e de pranchas de surf, o esquecimento de espingardas, kombis, máquinas de serrar azulejos, camas, muletas e dentaduras”, explica Vanessa.

O que chama atenção são as descrições de detalhes extraordinários que parecem se perder na multidão. Para isso, a jornalista partiu da frase encontrada em Narrador, do filósofo alemão, Walter Benjamin: “Cada manhã nos informa sobre as novidades do universo. No entanto somos pobres em histórias notáveis”. A base teórica foi pesquisada em Edvaldo Pereira Lima e Maria Isaura Pereira de Queiroz e autores do chamado New Journalism como Gay Talese, Joseph Mitchell, Truman Capote, e Ernest Hemingway.

A cor escolhida para o projeto gráfico foi explicada pela autora: “Amarela é a cor dos bilhetes de passagem, dos ônibus da Itapemirim, do boné dos carregadores, dos chicletes perdidos e dos pudins. Eu adoro responder perguntas sobre pudins”. Vanessa fez essa estranha afirmação sobre pudins diversas vezes durante a entrevista.

Como escreveu João Moreira Salles no prefácio de O Livro Amarelo do Terminal, “enquanto desvenda quase todos os nós, a repórter entra em contato com a vasta humanidade: gente que chega, parte, se perde, espera, beija, chora, se enamora, tem fome, é ou está só e depende da gentileza de estranhos. Este livro prova que estranhos existem. Vanessa é um deles”.

Leia um capítulo do livro aqui: http://www.cosacnaify.com.br/noticias/flip2008/olivroamarelo_cap3.pdf
O Livro Amarelo do Terminal
Vanessa Bárbara
CosacNaify
R$35 – 253 págs.

Livros de cabeceira na despedida da festa

Posted: 6th julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Jornal do Brasil – Especial Flip
6 de Julho de 2008

Um livro, quatro mãos

Posted: 3rd julho 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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O Globo 6a. Flip
Quinta, 3 de julho de 2008

por Miguel Conde