Odeio goiabada. Adoro o metrô.

Posted: 4th fevereiro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
4 de fevereiro de 2013

por Vanessa Barbara

“The Tube” (ou “The Underground”) é um interessante documentário em seis partes sobre o metrô de Londres – que em janeiro completou 150 anos de existência.

Produzido pela BBC e exibido no Brasil pela BBC HD (segundas às 21h), o programa acompanha os funcionários e passageiros deste que é um dos maiores sistemas de transporte do mundo, com 270 estações e 402 km de extensão.

É uma reportagem extensa e divertida que revela “um mundo subterrâneo jamais visto”, com depoimentos de condutores, varredores, supervisores de estação, bilheteiros, paramédicos e técnicos. Há funcionários designados para perseguir ratos, espantar pombos e acordar passageiros na estação final. “Estou em Morden? Sério? Como vim parar aqui?”, indaga um sonolento rapaz.

 No primeiro episódio, os coordenadores de estação lidam com o aumento de passageiros. “Gosto de trabalhar na sala de controle. É como um jogo de estratégia: distribuo funcionários onde é necessário, mantenho o pessoal em movimento”, declara um deles.

No segundo, agentes da fiscalização investigam passageiros que usam o sistema sem pagar, e as câmeras exibem o depósito de Achados e Perdidos.

Há um episódio só sobre suicídios e o fardo psicológico enfrentado pelos condutores; outro sobre a hora do rush, as grandes falhas que interrompem o serviço e os trabalhadores da madrugada.

“Anunciamos que é proibido consumir bebidas alcoólicas no metrô. Este aviso em particular é para o cavalheiro de jaqueta marrom na linha Central sentido oeste.”

Num grande momento da série, o condutor Dylan Glenister sai em defesa de sua linha predileta. “Às vezes, reajo mal quando a criticam. Dizem que os trens daqui estão caindo aos pedaços, mas, enquanto as outras linhas fecham para a manutenção, qual linha está sempre aberta? Piccadilly. A única e perfeita Piccadilly”.

Segundo ele, as outras linhas estão cheias de “caras metidos”. “Olhe só pra mim”, ele imita, “trabalho na Metropolitan, venho de Amersham e atravesso a cidade. Já os da Circle dizem: ‘Ah, você não vale nada, eu dou uma volta completa em Londres, blá-blá-blá’”.

E explica: se a linha Central é como uma bibliotecária sisuda, a Pic é um amigo fiel que fala pouco. “Olha só os ‘rostos’ desses trens, parece que estão sorrindo.”

Para Dylan, quando o assunto é metrô, “ou você ama ou você odeia. É como goiabada. Detesto goiabada, mas adoro o metrô”. 

Folha de S.Paulo – Ilustrada
28 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

Fui cair no programa “A Supercâmera” (Time Warp) por acaso, durante uma madrugada particularmente enfadonha. A atração é exibida em diversos horários nos canais Discovery e consiste em mostrar eventos ordinários (uma gota d’água caindo, uma bailarina girando, um tiro de revólver) sob a perspectiva de uma câmera sensível de alta velocidade.

Dessa forma, o espectador pode acompanhar – frame a frame – como se comportam as diversas variáveis envolvidas no voo de um beija-flor, por exemplo. Parece sonífero, mas não é.

Primeiro porque o narrador é irônico e vai pontuando as experiências com observações sarcásticas. (O dublador brasileiro, Valvênio Martins, é excelente.)

A dupla de apresentadores é formada por um cientista do MIT, Jeff Lieberman, e um especialista em câmeras de alta velocidade, Matt Kearney. Assim como os “Caçadores de Mitos” (Ilustrada, 17/12/2012), ambos sempre procuram terminar o trabalho com explosões.

Em determinado episódio, eles forçam um taco de baseball até quebrá-lo, o que demora um bocado. Em outro, decidem triturar coisas num liquidificador – começam com amendoins de chocolate e terminam com isqueiros, só para ver o aparelho pegar fogo. “Como ganhar de um liquidificador em chamas?”, indaga o narrador, antes do segundo bloco. “Simples: malabarismo com motosserras”.

Uma das especialidades de “A Supercâmera” é filmar talentos incomuns, como o recordista mundial de arremesso de cartas de baralho, uma campeã de sinuca e um malabarista. Este começa com três pinos, passa para sete e depois para tochas. Então decide radicalizar. “Por sorte, a única coisa que nosso seguro cobre é desmembramento acidental por malabarismo com motosserras”, observa o narrador.

Num dos episódios mais curiosos, eles testam as leis de Newton com a ajuda de um praticante de “parkour” (corridas e saltos pelas paredes), revelando passo a passo como dissipar o impacto das acrobacias.

O “gran finale” é quando Jeff e Matt resolvem dançar e pular corda numa piscina de maizena. As cenas em câmera lenta de ambos correndo sobre a superfície viscosa são impressionantes, com toda a tensão da substância semilíquida resistindo ao peso dos apresentadores feito matéria sólida – exceto quando Jeff perde o equilíbrio e afunda.

“Todo mundo devia experimentar isso no quintal”, comenta o narrador, invertendo a lógica do “não faça isso em casa”.

Folha de S.Paulo – Turismo
24 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

Exaustivamente divulgada em albergues da juventude de toda a Europa, a Sandeman’s New Europe promove tours diários de três horas de duração, em inglês ou em espanhol, sem necessidade de reserva.

Reúne grupos de mochileiros com os mais diferentes tons de cabelo e formatos de piercing, viajantes solitários em busca de novas amizades e grande quantidade de turistas americanos.

Mas seu esquema é diferente de outros city tours. Os guias trabalham mediante gorjetas -ao fim da excursão, se o turista não gostou da experiência, não precisa pagar nada. Se gostou, oferece o valor que considerar justo.

“Segundo pesquisas, muitos turistas não gostam de tomar parte em excursões guiadas por medo de se decepcionar com a qualidade do passeio”, afirmou o empresário britânico Cristopher G. Sandeman no fórum on-line Hostel Management. A solução é pagar só o que parecer justo.

O esquema de city tours gratuitos a pé surgiu em Berlim, em 2004, com a criação da Sandeman’s New Europe.

Filho dos proprietários de uma fábrica centenária de xerez e vinho do Porto, Sandeman cresceu nos EUA e graduou-se em psicologia pela Universidade de Yale.Após uma temporada na Alemanha, aos 26 anos, decidiu abrir uma empresa que oferecesse city tours gratuitos em inglês.

O modelo deu tão certo que, em 2006, espalhou-se para Londres e Amsterdã, com excursões também em espanhol. No ano seguinte, outras capitais entraram para a lista, que hoje cobre 14 cidades da Europa.

 

Finbarr O’Reilly/Reuters
A guia Jean Hayne, da empresa London Walks, comanda tour inspirado no escritor Charles Dickens, em Londres
A guia Jean Hayne, da empresa London Walks, comanda tour inspirado no escritor Charles Dickens, em Londres

 

Gritos e sotaques

Os guias são, em geral, jovens estrangeiros que vivem na cidade há pouco tempo. Treinados pelos próprios pares, trabalham com roteiros mais ou menos definidos, recheados de histórias dramáticas e anedotas locais.

Como o pagamento está diretamente ligado à performance individual, muitos utilizam técnicas de atuação para prender a audiência. Gritam, ajoelham-se, imitam sotaques.

Em Munique, um dos guias carregava uma espécie de aparelho de som que servia como claque ambulante, conferindo aplausos e risadas quando necessário.

Outro conclamava a participação popular, elegendo um turista para parecer curioso (“Mas por quê?”), outro para soar empolgado (“Uau!”) e ainda um terceiro para entoar: “Vamos em frente!”, incentivando o grupo.

A preços que variam de € 10 a € 30 (R$ 26 a R$ 80), a Sandeman’s também oferece tours mais específicos, como o de Montmartre (Paris), o do Castelo (Praga), o do Distrito da Luz Vermelha (Amsterdã) e o de Dachau (Munique). Em todas as cidades, há uma ronda guiada aos pubs locais.

Tour não, seminário

Na outra ponta, companhias como a Context Travel cobram no mínimo US$ 65 (R$ 132) para um passeio de três horas com um especialista na área.

Os passeios são chamados de seminários e não tours, os grupos possuem no máximo seis pessoas, e os guias são professores com mestrado ou doutorado em arqueologia, história da arte, culinária, arquitetura, história. A empresa atua em 21 cidades.

Urban Adventures também pertence à categoria de elite, com tours ao preço de US$ 30 (R$ 60), realizados por guias nativos em mais de cem cidades pelo mundo. É essa empresa que oferece o “Favela Tour” no Rio de Janeiro, um passeio de quatro horas ao custo de US$ 95 pela favela de Santa Marta.Entre as mais populares, é desconcertante a quantidade de empresas com “Original” ou “Walks” no nome.

Uma das melhores e mais antigas é a London Walks, que distribui excêntricas e confusas brochuras de 15 páginas com o calendário de excursões da quinzena.

No cardápio, caminhadas sobre a era vitoriana, o bairro literário de Bloomsbury e os subterrâneos do Tâmisa, que saem a £ 9 (R$ 29) cada.

 

Creative Commons
Turistas participam de seminário na basílica de Santa Sofia, em Istambul, organizado pela Context Travel
Turistas participam de seminário na basílica de Santa Sofia, em Istambul, organizado pela Context Travel


De Praga a Cracóvia

Foi nesse cenário que surgiram as excursões guiadas sem custo. Após a Sandeman’s, hoje já existem 80 opções de tours gratuitos, segundo lista publicada pelo Price of Travel (priceoftravel.com). Há três em Praga, Roma e Berlim, duas em Budapeste e Cracóvia, uma em Liubliana.

Os grupos são maiores (20 ou 30 integrantes), e a maioria paga alguma coisa ao término da excursão. O preço médio das gorjetas fica em torno de € 10 (R$ 26).

A qualidade varia de forma drástica de acordo com o grupo e principalmente o guia -os tours de Paris, por exemplo, são liderados por jovens americanos com poucos meses na cidade, que muitas vezes mal falam francês.

Entre os espectadores, hordas de americanos interessados em Dan Brown. Por outro lado, há guias extremamente competentes em Berlim e uns cansados demais em Londres, que repetem os textos com notável pouco caso.

Esses guias não têm nenhum vínculo trabalhista com a companhia, ou seja, nada de seguro-saúde, férias remuneradas e salário fixo.

Apesar disso, são obrigados a pagar um valor de aproximadamente € 3 por turista, referente a taxas de marketing e administração da empresa, ou seja, eles têm chance de perder dinheiro se o grupo for pequeno ou avarento, ou se largarem o tour pela metade: a contagem é feita no início da excursão, muitas vezes por meio de uma animada foto grupal.

Escravos?

Na Alemanha, Christopher Sandeman tem sido alvo de acusações por práticas abusivas de trabalho e exploração de expatriados americanos, britânicos e australianos.

Há dois anos, o programa de TV “Frontal21” denunciou as condições trabalhistas, consideradas ilegais por especialistas na área, e provocou uma discussão que se estende até hoje.

Nos últimos meses, a polêmica se multiplicou em fóruns da internet, em que se relatam supostas buscas da polícia pelos escritórios da empresa e uma investigação do governo alemão.

Em Paris, em 2009, a Federação Nacional dos Guias-Intérpretes protestou contra a concorrência desleal e afirmou se tratar de escravismo moderno.

No mesmo ano, a filial espanhola foi processada pelo Departamento Geral de Turismo da Comunidade de Madri e multada em € 6.000 (R$ 16.300) por empregar guias não licenciados -hoje o setor foi liberado e não é preciso ter licença.

Inúmeras imprecisões históricas foram apontadas nos tours feitos pela companhia.

Em defesa da Sandeman’s, a Associação Europeia de Operadores de Turismo alega que a maioria dos guias de turismo trabalha em regime autônomo e que o modelo de trabalho é definido em um acordo realizado entre o guia e a operadora.

Na Sandeman’s, os profissionais têm a opção de promover três excursões em caráter de teste, sem pagar taxas à empresa, antes de assinarem um contrato.

Procurada pela reportagem da Folha, a empresa não quis se pronunciar.

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Em Praga (República Tcheca), city tour da Sandeman’s New Europe

Definition of “Betrayal”

Posted: 23rd janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Ficção
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Londres, 23 de janeiro de 2013
Blog da revista Granta

http://www.granta.com/New-Writing/Brazilian-Writers-Define-Betrayal

Betrayal is not when your husband spends a few nights with a girl you know, nor when he returns home and you ask happily if it was fun (‘yes’, he said, ‘very much’). Betrayal is when he talks about it to a bunch of his friends, including some of your closest, and everyone knows the details while you spend forty-two days trying so hard to find out what the hell is going on. Betrayal is when the one who is supposed to protect you decides to hurt you and there’s no one left to speak in your defence. It’s when men are brave enough to brag about their acts to one another, but no boldness is left to speak frankly to their wives. Even when we beg. Betrayal is when you left home to live on your own and within two weeks he’s sleeping with other women in the bed you bought together – your picture still hanging on the wall, smiling blankly at your substitute.

Órfãos de séries

Posted: 21st janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
21 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

Pouco antes de “Lost” acabar, uma amiga me confidenciou: “Não sei o que vai ser da minha vida depois de maio”.530711_401488553279085_1372925722_n

O vazio deixado pelo fim de séries de TV é um fenômeno psicológico ainda pouco estudado. Devastado, o paciente apresenta sintomas de abstinência, delirium tremens e uma sensação de perda impossível de ser preenchida por reprises.

Entre as séries que mais deixaram órfãos ao longo da história estão: “Arquivo-X”, “Família Soprano”, “24 Horas”, “A Sete Palmos” e “Friends”. Segundo pesquisa da Ohio State University, os fãs que desenvolvem maior ligação com os personagens são os que mais sofrem.

O estudo, conduzido pela pesquisadora Emily Moyer-Gusi, apelidou o fenômeno de “Efeito Seinfeld”, a partir da sitcom que terminou em 1998. Há alguns aspectos do relacionamento com personagens fictícios que são comparáveis a relacionamentos reais. Por isso, quem assiste televisão para não se sentir só é quem fica mais aflito com o término de um programa.

Uma das dimensões mais traumáticas desse tipo de luto é o fim da expectativa das terças-feiras, como no caso de “Lost”. Antes os fãs passavam a madrugada aguardando o novo episódio aparecer na rede, baixavam sem demora e assistiam o quanto antes. Depois, nem aulas de sapateado ou partidas de gamão fizeram desaparecer a angústia da perda.

A dimensão do vazio pode ser medida pela quantidade de cópias que a atração acaba inspirando. Para substituir “Lost”, muitas novidades surgiram no mercado, sem o mesmo sucesso: “Fringe”, “Flash Foward”, “The Event”. No lugar de “Friends”, “The Big Bang Theory” e “How I Met Your Mother”. 

Recentemente fiquei órfã de “House” e adiei ao máximo a exibição dos últimos episódios de “Monk”, num caso típico de negação. A mera ausência de três séries em recesso já me causa imenso pesar: “Doctor Who” (que volta em abril), “Breaking Bad” (julho) e “Sherlock” (só no Natal).

Depois da negação, vem a raiva e a indignação: por que justo “Prison Break”? Então, segue a depressão, quando se fica zapeando no sofá, sem rumo. A fase seguinte é a da negociação ou barganha: entrar nos fóruns e promover abaixo-assinados pela volta da série; assistir a reprises e comprar a caixa com todas as temporadas.

É quando surge a aceitação: não tem mais jeito. O melhor é começar a se divertir com “Lei e Ordem: Especial Vítimas de Séries Finadas”. 

Os sobreviventes

Posted: 21st janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Blog da Cia. das Letras, Crônicas
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Michael Maslin/New Yorker

Blog da Companhia das Letras
21 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

 

Todo mundo tem suas fases literárias. Nos últimos tempos, passei por uma época só de histórias policiais, outra de romances longos demais, uma de livros psiquiatricamente relacionados, outra de não ficção e uma dedicada ao Ian McEwan. Até que fui cair, sabe-se lá como, na fase do luto. Mais especificamente: relatos de viúvos.

O prelúdio foi Luto e melancolia, de Sigmund Freud, e Sobre a morte e o morrer, de Elisabeth Kübler-Ross, que já citei por aqui. Depois vieram os livros autobiográficos, especialmente prolíficos na última década, com a descrição de longos casamentos que se romperam após a morte de um dos cônjuges. É a chamada “literatura do luto”.

São textos doloridos, pesados, carregados de memória e perda. Há uma beleza crua na tentativa de retratar o que significou aquele relacionamento, indo e voltando no tempo, repensando as memórias de acordo com o vazio do presente. São livros geralmente redigidos em poucos meses, no ano posterior à morte do cônjuge, verdadeiras tentativas de exercer o que Kübler-Ross descreve como uma etapa essencial ao processo de luto: contar sua história vezes sem conta, em detalhes. “É preciso desabafar. O luto deve ser testemunhado a fim de ser curado.”

O primeiro ano sozinho contém muitos pontos críticos — a escritora Joan Didion pensava com frequência no que o casal estava fazendo naquele dia no ano anterior, até que a morte completou 366 dias e ela só conseguia pensar que àquela hora, no ano anterior, o marido já estava morto. É preciso aprender, por exemplo, a voltar para uma casa silenciosa e a dormir sozinho numa cama grande. Aprender a evitar o que Joyce Carol Oates chama de “ralos emocionais” — lugares carregados de memória.

Os livros listados a seguir são tentativas públicas de compreender a perda, desafiando uma sociedade na qual se espera que os viúvos sofram em silêncio, na qual ser “forte” é a norma. É como se os autores procurassem ceder ao luto a fim de poder lidar com ele. Muitos são, a um só tempo, tristes e belos, pesados e esperançosos. (Vamos esperar que a minha próxima fase seja mais animada, talvez alguma coisa com viajantes no tempo e animais falantes.)

 

– O ano do pensamento mágico, de Joan Didion (Nova Fronteira, 2006): Neste clássico da literatura do luto, a jornalista americana aborda o período que sucedeu à morte súbita de seu marido, o roteirista de cinema John Gregory Dunne. Ele sofreu uma parada cardíaca no apartamento do casal, enquanto esperava o jantar. Da noite para o dia, Didion se vê obrigada a lidar com a perda de seu companheiro nos últimos 40 anos enquanto se dedica a cuidar da filha única, Quintana, gravemente hospitalizada por conta de uma pneumonia.

A autora fala de suas reações irracionais ao lidar com a morte, uma espécie de desarranjo mental provocado pela dor do luto: recusou-se a doar os sapatos do marido porque pensou que, quando John “voltasse”, iria precisar deles. Usou a mesma lógica ao recusar-se a doar seus órgãos, que lhe seriam igualmente necessários. Chegou a imaginar se a morte também teria ocorrido em Los Angeles, onde o fuso horário era diferente e ainda não havia chegado a hora. Embora externamente se comportasse bem e parecesse forte, que é afinal o que se espera de uma viúva — que não demonstre sua dor —, Didion era dominada pelo pensamento de que a morte do marido era reversível. Cedendo a essas emoções, ela se lança a um relato pormenorizado dos dias que precederam e sucederam o fato, tentando expurgá-los e compreendê-los. “John estava falando, aí então não estava mais”, conta.

Ela também incorpora pesquisas médicas sobre a doença do marido e lê tudo o que pode sobre luto. “Em tempos difíceis, aprendi a ler, estudar e destrinchar as coisas. Informação é controle. Considerando-se que o luto é uma das emoções humanas mais universais, sua literatura me pareceu notavelmente esparsa.”

Algumas edições deste livro terminam com excertos de Noites azuis (Nova Fronteira, 2011), em que Didion fala da morte da filha, ocorrida um ano e meio depois.

– Carta a D.: História de um amor, de André Gorz (CosacNaify, 2008, escrito em 2006):Curto relato autobiográfico do filósofo francês André Gorz sobre seu relacionamento de quase 60 anos com Dorine Keir, vítima de um erro médico que lhe provocou uma doença crônica e dolorosa. Um dos mais tristes da lista, não só por seu desfecho, mas pelo teor arrependido de Gorz, que afirma ter sido injusto com Dorine.

“Preciso reconstituir a história do nosso amor para apreender todo o seu significado. Ela foi o que permitiu que nos tornássemos o que somos; um pelo outro, um para o outro. Eu lhe escrevo para entender o que vivi, o que vivemos juntos.”

– Sobre Alice, de Calvin Trillin (Globo, 2007): Leve e curto, este livro de 93 páginas é uma homenagem do escritor da revista New Yorker à esposa Alice, com quem foi casado durante 36 anos e que morreu após complicações de um longo tratamento de câncer de pulmão. A esposa era tema constante de suas crônicas, e é assim que ele conduz este livro: como uma grande crônica de sua vida em comum.

Conta como ambos se conheceram numa festa de uma revista decadente, que existia “apenas para que todo mundo se casasse, projeto que exigiu festas cada vez maiores”. Lembra que Alice era sua principal e melhor leitora, a pessoa que ele queria impressionar. “Escrevi este livro para Alice. Na verdade, escrevi tudo para Alice.” “Educadora, escritora e musa” (conforme o obituário do New York Times), mãe de duas meninas, com grande sede de viver e cuidar das pessoas, era ela quem lhe explicava palavras como “heurística” e o enredo de filmes estrangeiros que acabaram de ver. Possuía uma teoria louca sobre impostos e a Lei de Fluxo de Caixa Compensatório, segundo a qual todo valor não gasto com luxos pelos quais você não pode pagar equivale a um lucro inesperado.

Nas palavras da amiga Nora Ephron, Alice passava o tempo todo cuidando dos outros — essas pessoas sob sua proteção eram “qualquer um que ela amasse, ou de quem gostasse, ou conhecesse, ou conhecesse alguém que conhecesse, ou que nunca tivesse visto antes na vida, mas tivesse ficado conhecendo depois que a pessoa achou o telefone na lista e ligou”.

O livro não é pesado e fala sobre a vida de Alice, não sobre sua morte. É um dos mais alegres desta lista.

– A widow’s story, de Joyce Carol Oates (Ecco, 2011): Após um casamento de “47 anos e 25 dias”, a escritora Joyce Carol Oates perdeu o marido, o editor Raymond Smith, devido a complicações cardíacas decorrentes de uma pneumonia. Absolutamente devastada, ela decide escrever este livro de 432 páginas e 86 capítulos sobre a internação, os dias que antecederam a perda e o que veio depois.

Ela fala do instante em que instintivamente se descobre, a partir das evidências mais irrelevantes, que algo está errado. Repisa infinitas vezes esse momento, o primeiro de uma série de eventos que culminarão na maior tragédia de sua vida. Descreve seu processo de luto — demorado e aparentemente interminável — como um chão repleto de serragem áspera por onde você precisa andar. “Pense em espelhos manchados em banheiros públicos. Pense em porta-toalhas quebrados quando não há nada em que enxugar as mãos exceto toalhas usadas e encharcadas.”

Em sua solidão, ela compara os viúvos a paraplégicos observando os outros dançarem, não com inveja, mas com uma espécie de descrença. Por vezes, é autodepreciativa e diz coisas como: “Agorafobia! Fiquei pensando: isso é algo que eu também devia tentar.” Ou: “Se alguém te pergunta: Como vai?, não se deve responder: Cada vez mais suicida. E você?”

J.C.O., a escritora de mais de 57 romances e novelas, deu lugar a Joyce Smith, a viúva. Até que, um dia, enquanto limpava os armários, encontrou um par de brincos que perdera. “Perdi o significado de viver e o amor de minha vida, mas ainda posso encontrar pequenos tesouros no lixo”. Há dois anos ela secasou novamente, desta vez com um neurocientista sem nada em comum com o meio literário.

– A grief observed, de C. S. Lewis (1960): É a resposta literária de C. S. Lewis à morte da esposa, Joy Davidman, que sofria de um câncer até então em remissão. Para o escritor britânico, o luto é como estar levemente bêbado. “Há uma espécie de lençol invisível entre o mundo e eu”, descreve. Ele mantém um diário nos meses seguintes à morte da mulher e descreve singelamente sua indignação religiosa e raiva de Deus, admitindo o quanto a perda abalou sua fé: justamente quando ele precisava de ajuda, sentiu a porta bater em sua cara, e um som de tranca e dupla tranca lá dentro. Porém, “aos poucos passei a sentir que a porta não estava mais fechada e aferrolhada. Será que foi minha necessidade frenética que a fechou na minha cara? Quando nada há em sua alma exceto um grito de socorro, talvez seja o exato momento em que Deus não o pode atender: você é como o homem que se afoga e que não pode ser ajudado por tanto se debater.”

Para o escritor, parte da tristeza é a própria sombra da tristeza, pois o enlutado não só sofre como não consegue parar de pensar no fato de que está sofrendo. “Não só vivo cada interminável dia em aflição, mas vivo cada dia pensando em viver cada dia em aflição. Será que estas anotações apenas agravam o processo?”, pergunta. Mas logo conclui: “Ao escrever, procuro me distanciar do ocorrido.”

Similar ao suspense ou à espera, o luto dá à vida uma sensação permanentemente provisória. É impossível ficar tranquilo. Até então, o viúvo tem pouco tempo; a partir dali, não há nada senão tempo. Um tempo quase que puro, uma sucessão vazia de eventos.

Por fim, o autor parece aceitar a perda e chega a redefinir sua fé e amor de forma positiva, argumentando que o luto extremado o mantinha distante da esposa. “Apenas nos momentos em que me sinto menos aflito é que ela surge em minha mente em sua realidade total”, conclui.

– The Best Day the Worst Day: Life with Jane Kenyon, de Donald Hall (Mariner, 2006):Neste livro, o poeta Donald Hall alterna memórias de seu casamento de 23 anos a relatos da leucemia da esposa, a também poeta Jane Kenyon. Pouco fala de seu luto, concentrando-se apenas nas lembranças.

Ambos passaram décadas vivendo e trabalhando juntos, isolados numa fazenda no interior com seus gatos e cachorros. Jogavam pingue-pongue diariamente, liam em voz alta um para o outro e ouviam música. De vez em quando, viajavam e organizavam leituras conjuntas em universidades. Jane sofria de depressão crônica e transtorno bipolar — escreveu um poema sobre o assunto, “Having it out with melancholy” — e Donald lidava diligentemente com suas recaídas periódicas. Poucos anos antes da doença da esposa, ele mesmo teve um câncer de cólon e quase morreu.

Jane era dezenove anos mais jovem que o marido. Quando acabara de completar 47 anos, foi diagnosticada com uma leucemia de um tipo raro e geneticamente recorrente. No intervalo de quinze meses, passou por dolorosas sessões intensivas de quimioterapia, sofreu um transplante de medula óssea e estava se recuperando aos poucos quando a leucemia reincidiu. Não havia mais nada a fazer.

Nesse período, a mãe de Donald e a mãe de Jane faleceram (a primeira de insuficiência cardíaca, a segunda de um fulminante câncer de pulmão, poucos meses antes da filha). Após os exames confirmarem o retorno da leucemia, Jane parou de tomar remédios e morreu num intervalo de onze dias — usou esse período para planejar o próprio funeral, escrever seu obituário e revisar um derradeiro livro de poemas. Passou as últimas noites conversando com Donald sobre as coisas mais importantes da vida: as tardes de verão no lago, as partidas de pingue-pongue, as leituras de Henry James em voz alta, as excursões de carro a Connecticut enquanto ouviam audiobooks de T. S. Eliot e Geoffrey Hill, e as duas décadas escrevendo poesia juntos.

– Say her name, de Francisco Goldman (Grove Press, 2011): O livro mais bonito da lista é também o mais recente: fala sobre Aura Estrada, jovem escritora mexicana que se casou com o jornalista Francisco Goldman e faleceu poucos anos depois, após ser atingida por uma onda na praia. O livro de memórias de Goldman conta histórias divertidas, destrincha o passado da esposa, interroga seus parentes e dá uma perfeita noção da personagem, de modo que, ao final do livro, conhecemos Aura em profundidade. Como um bom jornalista, Goldman estuda sobre ondas e vento e tenta entender como o acidente pôde ocorrer.

O livro começa com um poema de Frank O’Hara: “I wouldn’t want to be faster/ or greener than now if you were with me O you/ Were the best of all my days”. Diz que a solidão do enlutado é impenetrável pois a sociedade parece incapaz de acomodar tamanha dor. Conta que não consegue mais viajar. “O mundo, não só Paris, é idiota e odioso demais para se percorrer sozinho.”

Há trechos curiosos e bastante representativos daquilo que Joan Didion descreve como o desarranjo mental do viúvo. “No assento à minha frente sentou um garoto vestido de Homem-Aranha, viajando com os pais. Eu devia me vestir assim, pensei. Talvez amanhã eu me vista assim. Por um instante, me pareceu tão plausível e até razoável que amanhã eu pudesse me vestir de Homem-Aranha que fiquei com um pouco de medo.”

Além disso, Goldman vai elucidando pequenos mistérios ao longo da narrativa, como, por exemplo, o motivo da separação dos pais de Aura. É um livro que desliza facilmente, feito um romance de ficção.

“O choque abriu uma ferida em mim e uma espécie de buraco em minha cabeça, as memórias começaram a jorrar como se fossem sangue. Ao mesmo tempo, sentia a necessidade de investigar tudo o que havia ao redor dela, para capturá-la e, ao mesmo tempo, deixá-la partir.”


 

Vanessa Barbara nasceu em 1982, é jornalista e escritora. É autora da graphic novel A máquina de Goldberg (Quadrinhos na Cia., 2012, em parceria com Fido Nesti), O livro amarelo do terminal (Cosac Naify, 2008, Prêmio Jabuti de Reportagem), O verão do Chibo(Alfaguara, 2008, em parceria com Emilio Fraia) e do infantil Endrigo, o escavador de umbigo (Ed. 34, 2011). É tradutora e preparadora da Companhia das Letras, cronista daFolha de S.Paulo e colaboradora da revista piauí. Ela contribui para o blog com uma coluna mensal.
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A calopsita contra-ataca

Posted: 14th janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
14 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

Muitos leitores escreveram para comentar a coluna “Crimes contra a audiência” (Ilustrada, 10/12/2012).

Marcelo Avelar de Mello diz que o descaso da Globosat com a série “Code 37” foi o mesmo com relação à premiada “Downton Abbey”. Durante a primeira temporada, os episódios eram repetidos aleatoriamente e exibidos fora de ordem.

Desde que houve a mudança de nome do canal para +Globosat, não se teve mais notícia da atração. “Como não existe site, ficamos sem saber de nada”, reclama. Ainda assim, as propagandas continuavam prometendo a segunda temporada para novembro.

A leitora Maria Cecilia Porto Venturini esperou dois sábados à toa. “Sem explicação, o canal começou a exibir uma outra série, e creio que nem era o início”, alega.

No fim de novembro, “Downton Abbey” foi transferida para o canal GNT, e, em abril, será retomada desde o primeiro episódio.

“A Globosat não tem o mínimo respeito pelo telespectador e fazem o que querem sem avisar ninguém”, escreve Maria Conceição Ciorlia, que acompanhava uma série escandinava de suspense chamada “The Bridge”. Assistiu a todos os capítulos, que passavam às segundas às 22h. “Pois não é que, no último episódio, eu toda entusiasmada para saber o desfecho, eles colocam no ar um tal de Festival de Cinema, com direito a comentários pós-cerimônia?”. A série só foi ao ar por volta da meia-noite.

Fã do “Late Show with David Letterman”, Sebastião Costa possui uma caneca e um moletom da atração. Ele gravava o programa no GNT, até que a emissora suspendeu a atração – que migrou para a Record News e de lá também evaporou.

Já o leitor Paulo Schwarz era espectador assíduo de “Code 37” e nos escreveu para contar o final. Ele conseguiu localizar o último episódio através da busca de programas da Sky.

Acompanhar séries pela TV a cabo brasileira é uma tarefa inglória. Alfredo Couto diz que é comum as legendas desaparecerem do nada e episódios serem reprisados sem pudor. Há casos em que a programação não confere com a prevista, isso sem falar no abuso de comerciais.

Ele presume que as próprias emissoras “não devem acompanhar o que transmitem, nem o que está acontecendo com a transmissão, como se colocassem no automático e deixassem rolar”.

Ganha força a teoria da calopsita (Ilustrada, 13/03/2011), pobre animal solitário que passa as tardes no estúdio de transmissão e põe a fita pra rodar no primeiro dia de cada mês.

Mandingas de sofá

Posted: 8th janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
7 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

393146_394896490604958_1657056971_nPoucos sabem, mas o Corinthians foi campeão mundial graças ao meu pai. É que, no meio do jogo, ele viu que estava com a bermuda do avesso. Levantou-se do sofá para tomar providências, mas naquele momento o time alvinegro se lançou ao ataque, o que foi claramente um sinal.

Com o sangue-frio de quem cumpre um dever, meu pai não só manteve o lado errado da bermuda como se sentou no chão, num canto da sala conhecido como “o lugarzinho da sorte”.

Ele profetizou: “O Corinthians vai marcar daqui a cinco minutos. Emerson, no contra-ataque”. Passados 24 minutos, Paolo Guerrero abriu o placar com um gol de cabeça. “Não falei?”

Em outra ocasião, a Seleção brasileira venceu uma partida só porque, após o primeiro tento, meu pai passou 42 minutos de pé, com um dos chinelos calçado e o outro largado no meio da sala, no local exato em que estava quando se deu o lance.

Quando o adversário ataca, não há quem deixe de fazer uma mandinga na frente da tevê, gritando “xô!” três vezes e berrando ordens para o zagueiro. Se a pressão continua, é hora de mudar de canal. Alguns falam diretamente ao juiz ou gritam com o técnico, cientes de sua influência numa partida que está ocorrendo a 18 mil quilômetros de distância.

Há quem vista a mesma roupa durante todo o campeonato e só aceite assistir ao jogo numa determinada emissora, com a televisão no “mudo”. A rotina doméstica tem de ser a mesma das vitórias anteriores. Em certas ocasiões, é preciso manter os dedos cruzados por trás das costas durante toda a duração da peleja, por mais que se tenha cãibra quando o jogo vai para a prorrogação.

Ninguém pode passar na frente do aparelho durante uma cobrança de falta. Tapar os olhos nos piores momentos costuma ser uma uruca eficaz para minar a autoconfiança dos rivais. Sem dúvida, há fluidos supersticiosos que emanam do espectador dedicado, adentram a tevê por mística osmose e influem no andamento da partida, por mecanismos que todo barbeiro compreende.

Na decisão por pênaltis da Copa de 1994, o Brasil ganhou porque meu pai estava escondido na lavanderia, ouvidos tampados. Muita gente se recusa terminantemente a assistir cobranças de pênaltis, por razões nervosas e por medo de influenciar o momento crucial com algum pensamento indevido.

Tudo isso apesar do ditado: “Se macumba desse certo, o campeonato baiano terminava sempre empatado”.

Saúde pra dar e vender

Posted: 1st janeiro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada

31 de dezembro de 2012

por Vanessa Barbara

Roteiro automático para os telejornais de hoje: começamos com a apresentadora entre empolgada e surpresa, entoando: “Já é Ano Novo na Austrália”. Surgem imagens da Ópera de Sidney e do espetáculo de fogos de artifício.

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Depois de algumas frases sobre a comemoração nas ruas da Oceania e flashes de nativos espocando champanhe, entra uma matéria sobre a Corrida de São Silvestre e o cotidiano de treinos de um queniano na cidade. Direto do Parque do Ibirapuera, o repórter convence a pobre vítima a dizer: “Feliz Ano Novo” em português, o que faz a âncora sorrir.

Há uma notícia sobre calamidades climáticas em um país distante, que é prontamente equilibrada com uma matéria sobre como decorar sua mesa para o Réveillon.

Se o programa é no dia seguinte, lá se vão cenas do primeiro bebê do ano e as previsões de um vidente para 2013. “Alguém importante vai morrer”, ele garante. A apresentadora assume um ar sorumbático.

Outro clichê doloroso é o Show da Virada, na Globo, com a presença de bandas que você achava que não existiam desde a década de 90. Este ano, teremos Claudia Leitte, Zezé di Camargo & Luciano, Skank, Paula Fernandes, Aviões do Forró, Sorriso Maroto, Thiaguinho, Latino, Banda Eva, Chiclete Com Banana e Raça Negra.

Saber que o especial é gravado com um mês de antecedência (este ano foi em 27 de novembro) dá sentido àquela euforia excessiva e artificial. Todo mundo de branco, pulando e gritando, em comemoração a uma prosaica quinta-feira à noite.

O mesmo acontece antes da contagem regressiva: dá pra imaginar o produtor contando à distância e pedindo para repetirem porque o público não vibrou o suficiente, ou uma atriz estava com couve no dente. Vamos lá, é 2013 de novo: dez, nove, oito…

E todos entoam aquela canção desejando “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender” – que, aliás, não faz sentido, pois não dá pra sair por aí doando ou comercializando vigor e robustez física, a menos que você esteja disposto a ceder um de seus rins.

Ontem, o “Fantástico” exibiu “imagens emocionantes” de brasileiros no momento em que receberam suas melhores notícias do ano, como a alta do hospital, a confirmação da gravidez ou a aprovação num novo emprego. 

Tudo minuciosamente fabricado para fazer o espectador se emocionar.

Ou o contrário: ele enfim se cansa das mesmas coisas, desliga a tevê e vai passar mais tempo com a família. 

Feliz Natal aos leitores desta horta

Posted: 24th dezembro 2012 by Vanessa Barbara in Sem categoria