Órfãos de séries

Postado em: 21st janeiro 2013 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
21 de janeiro de 2013

por Vanessa Barbara

Pouco antes de “Lost” acabar, uma amiga me confidenciou: “Não sei o que vai ser da minha vida depois de maio”.530711_401488553279085_1372925722_n

O vazio deixado pelo fim de séries de TV é um fenômeno psicológico ainda pouco estudado. Devastado, o paciente apresenta sintomas de abstinência, delirium tremens e uma sensação de perda impossível de ser preenchida por reprises.

Entre as séries que mais deixaram órfãos ao longo da história estão: “Arquivo-X”, “Família Soprano”, “24 Horas”, “A Sete Palmos” e “Friends”. Segundo pesquisa da Ohio State University, os fãs que desenvolvem maior ligação com os personagens são os que mais sofrem.

O estudo, conduzido pela pesquisadora Emily Moyer-Gusi, apelidou o fenômeno de “Efeito Seinfeld”, a partir da sitcom que terminou em 1998. Há alguns aspectos do relacionamento com personagens fictícios que são comparáveis a relacionamentos reais. Por isso, quem assiste televisão para não se sentir só é quem fica mais aflito com o término de um programa.

Uma das dimensões mais traumáticas desse tipo de luto é o fim da expectativa das terças-feiras, como no caso de “Lost”. Antes os fãs passavam a madrugada aguardando o novo episódio aparecer na rede, baixavam sem demora e assistiam o quanto antes. Depois, nem aulas de sapateado ou partidas de gamão fizeram desaparecer a angústia da perda.

A dimensão do vazio pode ser medida pela quantidade de cópias que a atração acaba inspirando. Para substituir “Lost”, muitas novidades surgiram no mercado, sem o mesmo sucesso: “Fringe”, “Flash Foward”, “The Event”. No lugar de “Friends”, “The Big Bang Theory” e “How I Met Your Mother”. 

Recentemente fiquei órfã de “House” e adiei ao máximo a exibição dos últimos episódios de “Monk”, num caso típico de negação. A mera ausência de três séries em recesso já me causa imenso pesar: “Doctor Who” (que volta em abril), “Breaking Bad” (julho) e “Sherlock” (só no Natal).

Depois da negação, vem a raiva e a indignação: por que justo “Prison Break”? Então, segue a depressão, quando se fica zapeando no sofá, sem rumo. A fase seguinte é a da negociação ou barganha: entrar nos fóruns e promover abaixo-assinados pela volta da série; assistir a reprises e comprar a caixa com todas as temporadas.

É quando surge a aceitação: não tem mais jeito. O melhor é começar a se divertir com “Lei e Ordem: Especial Vítimas de Séries Finadas”. 

  1. Rogerio Moraes disse:

    Concordo, Vanessa. O vazio que as séries deixam é muito grande e só entende quem é viciado. No momento, me sinto órfão de The Wire, série que terminei há poucas semanas. Sopranos, A Sete Palmos e Lost também fazem muita falta. Já estou sofrendo por atecipação pelo fim de Breaking Bad, que já é top 5. Estou acompanhando as conversas sobre a volta de Twin Peaks e esperando por algumas promessas, como a adaptação de Tablóide Americano, do James Ellroy, que a HBO promete há um bom tempo. Abraço.