Cadernos Expedicionários

Posted: 30th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

E da bucólica e zen Rue de Meaux do Monsieur Gabin, com suas rosas amarelas e livros de filosofia da religião, passamos para o set de “Rocco e Seus Irmãos”, um reduto de italianos diante da Baden Powell Primary School.

at Hackney, London.

Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
29 de maio de 2012

VANESSA BARBARA, COLUNISTA DA FOLHA

Distribuídos ostensivamente pelas plataformas da rodoviária, os relógios patrocinados pela Cia. do Terno parecem vigiar os vigias. O chão é lustroso, os coques das funcionárias bem presos e há um “mix comercial” de 78 lojas reluzentes, coloridas, entulhadas de anúncios e quinquilharias. É o Tietê Station Center.

Na última década, a rodoviária Tietê tornou-se um “espaço limpo e seguro que se assemelha ao conceito dos aeroportos e shoppings”, segundo release da Socicam (empresa que administra o terminal). Tudo é organizado e padronizado, os ônibus saem no horário, os lanches são caríssimos e é terminantemente proibido tirar fotos. Ninguém pode falar com os funcionários sem autorização prévia. Ao que tudo indica, a alta cúpula da Socicam teria sido substituída por ciborgues.

Ciborgues, como todos sabem, não têm coração, por isso a estação perdeu um pouco o calor humano e a graça. Suas tabacarias, perfumarias, cafés e LAN houses são proibitivas para a maioria dos usuários, que ficam com vergonha de tirar os sapatos para descansar os pés. Há menos chulé e mais óculos Ray-Ban, mais mensagens automáticas nos alto-falantes e menos salgadinhos de queijo grudados nas solas dos transeuntes.

Ainda que os ciborgues da Socicam tentem manter sob controle os elementos mambembes dessa estação comercial-cibernética, é possível encontrar gente furtiva lavando morangos no banheiro, longe das câmeras, puxando os cabinhos e resistindo à dominação robótica.

A Socicam é como esses avisos que a gente vê nos bebedouros e nos banheiros públicos: “Proibido encher garrafas”, “Proibido lavar os cabelos” e “Proibido lavar marmitas”. A empresa controla 45 terminais rodoviários pelo país (Brasília, Campinas, Rio de Janeiro) e 43 terminais urbanos como se fossem propriedade privada.

Temo que, no futuro, não seja mais permitido jogar conversa fora e tirar cochilo nos bancos. Os bancos, aliás, estão cada vez mais escassos, pois que incentivam a vadiagem, e logo será ilícito chegar cedo demais, entrar nas lojas para trocar uma nota de 20 e trazer comida de casa.

A rodoviária é uma cidade de pessoas que chegam e vão embora na mais perfeita ordem, e de outras que revolucionariamente ficam, tirando o cabinho dos morangos, feito membros da Resistência.


VANESSA BARBARA, 29, é autora de um livro sobre a rodoviária, “O Livro Amarelo do Terminal” (2008, Cosac Naify), vencedor do prêmio Jabuti de reportagem. Escreve na “Ilustrada” às segundas-feiras

Cadernos Expedicionários

Posted: 28th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

Há uma gaiola vazia no jardim aqui fora e uma sepultura branca no fundo do quintal – juro – mas não sei a que se refere. Algo me diz que os locatários barulhentos da Rue de Meaux não costumam sobreviver.

Cadernos Expedicionários

Posted: 28th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

As rosas amarelas do Monsieur Gabin e a ocupação mandaquiense.

Cadernos Expedicionários

Posted: 28th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

O bom de ter de novo uma casa é que a gente pode pendurar as meias num varal improvisado com uma presilha e ninguém pode reclamar.

Cadernos Expedicionários

Posted: 26th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

Na lista do interfone do prédio, meu nome é Gangasena – uma associação cultural hindu. Aparentemente, eu dou aulas de yoga. (Precisando, é só interfonar.)

Cadernos Expedicionários #6

Posted: 26th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

O guia definitivo das melhores gruas da Europa – no Parc de la Villette.

Cadernos Expedicionários #5

Posted: 26th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

Oito e meia da manhã, frio, garoa e nem uma alma acordada na Rue de Meaux. Silêncio absoluto. Fosse no Mandaqui e os vizinhos já estariam batendo vitaminas no liquidificador, gritando com o papagaio (e obtendo resposta) e cantando Leone como quem toma a Prússia.

Na dúvida, o secretíssimo QG da Força Expedicionária vai fazer um chocolate quente e decidir que país invadir daqui a pouco.

Cadernos Expedicionários #4

Posted: 25th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

Reza a etiqueta mandaquiense que é de bom-tom elogiar os sapatos do seu senhorio, sobretudo quando ele é também seu vizinho.

Cadernos Expedicionários #3

Posted: 24th abril 2012 by Vanessa Barbara in Cadernos Expedicionários

“Ainda tão passando o aspirador”, comentou um senhor de camiseta listrada, sobre atraso no vôo.