Folha de S. Paulo – Ilustrada
28 de janeiro de 2012

por Vanessa Barbara

“O legume mais modesto contém em si a aventura do mundo”, diz o filósofo Michel Onfray no prefácio de A Fabulosa História dos Legumes. Nele, a escritora francesa Évelyne Bloch-Dano traça uma biografia histórica, literária e sentimental dos vegetais, detendo-se em dez deles.

O livro partiu de aulas ministradas na Universidade Popular do Gosto, em Argentan, na França, onde ela pôde dar a palavra a uma alcachofra, conferir voz a um tomate e dotar de verbo o tupinambor (tubérculo similar à batata).

A importância do tema é óbvia. Diz ela que “os legumes estão na aurora da humanidade, constituem o grau elementar da organização social, a passagem do cru ao cozido, da natureza à cultura: os seres humanos domesticaram os legumes como domesticaram os animais”.

Um dos capítulos mais comoventes fala do tupinambor, “aquela coisa esquisita, disforme, violácea e rugosa”, que por muito tempo não teve nome e nem origem precisa. É considerado o pior dos legumes. Era consumido na Quaresma, a título de penitência, e suspeitava-se que podia causar lepra. “São raízes aguadas, insípidas, nocivas à saúde e produzem muitos gases, por isso ninguém lhes dá importância”, afirmou-se em 1771.

Como se já não bastasse, logo surgiu a batata, e foi o fim para o tupinambor.

Hortaliça mais querida é a couve, verdura versátil e de domesticação arcaica. Para Catão, o Velho, ela “cura a melancolia, dá um fim em tudo, cura tudo”. O escritor Joseph Delteil afirma que “é boa para raquíticos, jovens mães e coelhos”.

Para Évelyne, falar de legumes é partir em busca de territórios e culturas. Ela cita o comentário de Marcel Proust sobre a expressão “estúpido como uma couve” – acaso seriam as couves mais estúpidas do que outras coisas? (Infelizmente para nós, brasileiros, não há qualquer menção ao termo “zé das couves”.)

Dentre os legumes citados, tupinambor e pastinaca sofreram bullying histórico. O mesmo não se pode dizer da ervilha, cuja “existência selvagem se perde na noite dos tempos”. A impaciência de comê-las, o prazer de tê-las comido e a alegria de comer mais eram as únicas preocupações da corte no século XVII. “É uma moda, é um furor.”

O livro é permeado de receitas, poemas e trechos literários. Há reproduções de pinturas relacionando a popularidade de um vegetal às naturezas-

mortas da época, ou debatendo a mudança de coloração da cenoura a partir dos temas da pintura flamenga.

Ainda assim, o resultado é um guisado confuso e sem substância que não chega a constituir um bom caldo.

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A FABULOSA HISTÓRIA DOS LEGUMES
AUTOR Évelyne Bloch-Dano
EDITORA Estação Liberdade
TRADUÇÃO Luciano Vieira Machado
QUANTO R$ 49 (184 págs.)
AVALIAÇÃO regular