O Estado de São Paulo – Caderno 2
13 de julho de 2015

por Vanessa Barbara

George Orwell já disse que escrever é uma luta horrível e exaustiva, como sofrer uma crise prolongada de alguma doença dolorosa. Semanas atrás, a jornalista Pamela Druckerman afirmou, em um artigo para o The New York Times que, três ou quatro dias antes de qualquer prazo, ela entra em surto. “Fico até tarde em pânico, comendo biscoitos e prometendo a mim mesma que vou mudar de profissão”, confessou ela, que, aliás, costuma ganhar um quilo por coluna. “Meu marido uma vez perguntou: ‘Vai sempre ser esse escândalo hercúleo? Escrever não pode ser um trabalho normal, no qual você acorda, executa calmamente suas tarefas e vai para casa?’ Infelizmente, a resposta é não. O trabalho criativo não é um trabalho normal. É claro que, com o tempo, suas habilidades aumentam e você fica melhor na estrutura. Mas continua sendo um escândalo hercúleo.”

Há uma tonelada de livros sobre o ofício de escrever, como “Sobre a escrita”, de Stephen King, “Becoming a writer”, de Dorothea Brande, e o meu preferido, “The Elements of Style”, de William Strunk Jr. e E. B. White, um manual de gramática e estilo voltado ao escritor de língua inglesa, mas que tem dicas para todos.

Porém, nenhum deles fala tão bem sobre o sofrimento da escrita quanto “Bird by Bird: Some instructions on writing and life” [Pássaro por pássaro: Algumas instruções sobre a escrita e a vida], da escritora americana Anne Lamott. À primeira vista, pode soar como um livro de autoajuda, edificante demais pra ser bom, mas Lamott é muito engraçada e sabe tudo de autodepreciação.

É um bom livro para quem tem ansiedade de escrita e precisa aprender a se “trollar” para aliviar a coisa. Numa passagem, ela menciona como são seus primeiros rascunhos de um texto: “A coisa toda estava tão comprida, incoerente e pavorosa que eu passaria o resto do dia com medo de ser atropelada antes de conseguir escrever uma segunda versão. Temia que as pessoas lessem o texto e entendessem que o acidente foi na verdade um suicídio, que entrei em pânico porque meu talento desapareceu e a minha mente entrou em colapso.”

Em outro trecho, que trata de sentimentos que todo escritor costuma ter em dias alternados, Lamott fala da agonia de enviar um material e ficar aguardando a resposta: “Depois de passar a manhã inteira ao telefone lendo passagens do meu romance, eles [o editor e o agente] concordariam que se trata do livro mais constrangedor já escrito, e passariam a uivar e a gritar de tanto rir. A certo ponto meu editor riria tanto que teria de tomar um pouco de digitális, e o meu agente romperia um vaso sanguíneo da garganta.”

O título da obra de Lamott é uma menção a um trabalho de ornitologia que o irmão da autora teve de fazer para a escola. Tomado pelo desespero de um prazo curto e sem saber por onde começar, ele ouviu um valioso conselho do pai: “Pássaro por pássaro. Apenas faça o trabalho, pássaro por pássaro.”