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O Estado de São Paulo – Caderno 2
30 de março de 2015

por Vanessa Barbara

Nas últimas semanas, 844 leitores me escreveram, desesperados, em busca de informações sobre o estado de saúde da tartaruga Napoleão.

Em primeiro lugar, gostaria de pedir muita calma. Não é o momento de promover passeatas raivosas nem de empastelar os jornais em busca de notícias; ameaças de morte não são construtivas e apenas deixam o veterinário mais nervoso.

Dito isso, vamos aos fatos: é com grande alegria que informo que, após catorze dias de internação, 28 injeções de antibiótico, dezenas de sessões de nebulização e banhos de soro fisiológico, o pequeno réptil se recuperou quase que totalmente, restando apenas uma inexplicável lesão na pata direita que o faz manquitolar pela vida afora. Voltou a comer feito um hipopótamo e está boiando com perfeição, anexando territórios e batendo a cara no vidro como todo bom imperador francês. Peço, portanto, que parem de organizar vigílias pela recuperação da tartaruga e concentrem suas orações na saúde de um jabuti chamado Michelangelo e de um axolotle que foi acometido por fungos, ambos internados na clínica do dr. Renato Leite Leonardo.

O veterinário, médico titular do meu quelônio, tem uma loja de aquarismo que fica ao lado de um rodízio de sushis, mas, contrariando as piadas fáceis, é um competente especialista em peixes ornamentais. De seu currículo constam o atendimento de uma pirarara que comeu uma ventosa, um peixinho dourado com problema na vesícula, um uaru totalmente prostrado e com suspeitas de infecção fúngica, um ciclídeo flowerhorn red dragon com anorexia, uma carpa que comeu um papel de bala e inúmeros peixes beta com cistos, tumores ou intoxicação por amônia. (Na minha opinião, seu ápice profissional veio com a consulta de um peixe beta chamado Arnoldinho.)

Jovem e falante, o dr. Renato atende todo tipo de animais silvestres e exóticos – embora às vezes confunda o nome dos pacientes, chamando Napoleão de “Leopoldo”. (O que, convenhamos, é um ótimo nome para tartaruga.) Na mesma semana pode fazer uma endoscopia numa arraia que engoliu um palito e um ultrassom num miniporco de nome Baconzitos. Já tratou de polvos, pererecas, anêmonas, tubarões, iguanas, camarões, canários, calopsitas, tucanos, agapórnis, gansos, saguis, galos, chinchilas, porcos-espinhos e porquinhos-da-índia. Atende igualmente a papagaios e a peixes-papagaio. Já diagnosticou um ferret com tumor na adrenal e uma hamster com um distúrbio uterino. Entende de caramujos de água doce e fez uma amputação em uma estrela-do-mar.

Anos atrás, o dr. Renato atendeu na clínica um coral – sim, um coral – que estava sofrendo de falta de iluminação. “O mais bonito foi ver a preocupação do dono, que o enxergava não como um objeto de ornamento em um aquário, mas sim como um animal de estimação”, afirmou.

Fico imaginando como ele preencheu, na ficha, os campos “nome” e “idade” do pet.