A liberação diurética não-convencional é caso de polícia?

Postado em: 20th fevereiro 2010 por Vanessa Barbara em Brasil Econômico, Crônicas
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Neste Carnaval, a Secretaria Especial da Ordem Pública do Rio de Janeiro decidiu aumentar o cerco contra o xixi de rua. Dezenas de foliões foram detidos no ato de urinar em logradouros da cidade, antes ou depois da passagem dos blocos. Segundo as autoridades, o fenômeno da micção descarada é comum em grandes eventos, gerando para os cofres públicos um prejuízo de 280 mil litros em solução de eucalipto. O incontinente infrator é fichado por ato obsceno e atentado ao pudor, com uma pena que pode chegar a doze meses de prisão ou multa.

Porém, ao que tudo indica, as organizações ambientais discordam dos homens da lei: “Quem não faz nada pelo meio ambiente pode fazer xixi no banho”, postulou a Fundação SOS Mata Atlântica, numa campanha recente que também louvava o xixi na árvore e o xixi na chuva. Para os ambientalistas, urinar debaixo do chuveiro é deixar de acionar a descarga e poupar de 8 a 12 litros de água por dia. O mesmo aconteceria nas modalidades “na árvore”, “no mato” e “na chuva”, que sairiam de graça no acirrado acerto de contas da ecologia global – as primeiras ainda teriam a vantagem de adubar os vegetais. (É verdade que a campanha também recomenda lavar a salada e as roupas íntimas no chuveiro, mas enfim.) O fato é que o tradicional alívio na privada perde apenas para o pipi na piscina no quesito desperdício de água.

Isto posto, vem a dúvida: seria o xixi de rua ambientalmente aceitável ou, além de repugnante, uma falta de educação passível de indiciamento? Muitos se posicionaram contra a liberação diurética não convencional, enquanto outros saíram urinando à larga e passaram a quarta-feira de Cinzas na companhia de Salvatore Cacciola e de um arlequim triste no presídio de Bangu. Na esperança de enriquecer o debate e ajudar o leitor a decidir seu posicionamento, elencamos aqui algumas das mais importantes estatísticas sobre o xixi na vida moderna, que se seguem.

Primeiro, aos desavisados: comer aspargos pode deixar o xixi com cheiro ruim. Isso ocorre porque algumas das substâncias da leguminosa contêm enxofre, que é metabolizado e provoca um aroma desagradável na urina de 40% da população mundial. Em No caminho de Swann, Marcel Proust trata dessa questão e, laudatório, declara que o bom aspargo “transforma meu penico num frasco de perfume”. Outro grande achado científico é que os peixes urinam. Abelhas também. E que repolhos adubados com xixi humano crescem mais frondosos.

De acordo com estudos, xixi verde acusa presença de azul de metileno no organismo; xixi laranja é sinal de muita cenoura e abóbora. Xixi rosado pode ser ingestão exagerada de beterraba e, se o seu xixi fica fosforescente ao sol, procure um médico ­– porque isso é muito esquisito.

Ao descer do módulo lunar, o astronauta Edwin Aldrin exclamou: “É lindo e desolador”, e imediatamente ficou com vontade de tirar água do joelho. Foi o que fez, aos olhos de todo o universo, dentro de um traje reforçado com 21 camadas de diferentes materiais. Foi um grande passo para a humanidade, já que o último astronauta a esvaziar a bexiga em órbita, Alan Sheppard, não deu tanta sorte no sentido mais clássico da impermeabilização indumentária: teve que suportar uma poça amarela que lhe subiu pelas costas e alojou-se na área do pescoço. Fosse um folião, ainda seria preso ao som de “Chiquita bacana, lá da Martinica” e acabaria em Bangu.