Folha de S.Paulo – Ilustrada
24 de setembro de 2012

por Vanessa Barbara

A moderna culinária de guerrilha se caracteriza pela urgência estomacal e pelo aproveitamento de quaisquer sobras da geladeira.

Seu maior expoente é Paulo Oliveira (Paulo Tiefenthaler), pândego apresentador do “Larica Total” (Canal Brasil, ter. às 21h30), um programa de receitas em que “a gente nunca sabe o que vai fazer, mas vai fazendo”. De regata, chinelo e bermudas, a pança de fora, o festivo careca comanda a atração da cozinha de seu apartamento, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro.

Juntando os ingredientes que possui – como cerveja, macarrão e linguiça –, ele ensina o telespectador a saciar com estilo aquela fome da madrugada, ainda que o resultado seja por vezes duvidoso. “Isto aqui só às cinco da manhã, muito bêbado”, confessa.

Ao contrário dos colegas de grife, seus instrumentos de trabalho não são impecáveis cumbucas de vidro, faqueiros importados e bancadas de aço inox. Há uma ou duas assadeiras tortas, uma velha faca de pão e a famosa “panela preta”, que tem até vinheta própria.

Seu fogão é antigo, de quatro bocas e revestido de papel alumínio. A pia vive lotada. Falta um azulejo na parede. Vez ou outra ele resgata uma colher de pau do meio da louça suja, passa uma água e se põe a usá-la: “É só tirar aquele cocô de mosca”.

As receitas não são científicas: no bolo de carne, vão “restos de geladeira para recheio”. Modo de preparo: “Ponha no forno e deixe lá por um tempo. Primeiro fica cinza, depois fica crocante e então bonito pra cacete”.

Enquanto o molho ferve, ele se dedica a tarefas mundanas, como num sábado em que preparou um pavê e cumpriu uma lista de pendências. Durante os 25 minutos de programa, Paulo instalou uma cortina, configurou o modem, pregou uma prateleira e terminou com a Marise. “Tudo aquilo que você fica enrolando: hoje é dia de fazer”.

O excelente humorista fala rápido e se perde na argumentação. “Isso aqui é a pele do porco, isso aqui é pura alegria”, exclama, improvisando. Diz que a abóbora tem a cor mais antidepressiva que existe e que o garfo “atravessa melhor as fronteiras do legume”.

Às vezes o interfone toca e, num descuido, ele deixa a comida cair no chão.

O episódio final da temporada será exibido na semana que vem. No programa de amanhã, Paulo preenche os papéis para um edital do governo enquanto prepara um empadão de casca de legumes.

“Isso aqui é alto nível”, garante.