Uma carta

Postado em: 29th julho 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, Londres 2012
Tags:

Folha de S.Paulo – Esportes
Especial Olimpíada
29 de julho de 2012

por Vanessa Barbara

Cardiff, 26 de julho

Querido,

Hoje cedo, no trem, conheci um senhor adorável de Essex. Ele reconheceu imediatamente meu sotaque galês, embora tenha sido polido o suficiente para julgá-lo quase imperceptível. Contou que havia confundido a estação de Victoria com a de Paddington e se atrasara para chegar a esta última, de onde saem os trens para Cardiff.

É um milagre que ele tenha conseguido, com o metrô do jeito que está. Na semana passada, antes mesmo de os Jogos começarem, fiquei meia hora presa num vagão, e, naquela noite, o prefeito foi à TV dizer que os trens estavam funcionando perfeitamente. Ele repetiu isso algumas vezes –não é ridículo que alguém tenha de fazer um pronunciamento dizendo que tudo vai bem?

Mas, enfim, em todo caso, o sr. Humphrys –porque era esse o nome dele– o sr. Humphrys confessou estar espantado com a má disposição dos londrinos para esta Olimpíada. Deu risada quando contei da minha camiseta oficial dos Jogos, que costumo usar aí no Japão e que não tive coragem de ostentar nas ruas daqui. Boa parte dos londrinos nem quer saber de Olimpíada.

Aliás, quando contei onde morava, ele soltou um: “Desculpe, mas acho que não ouvi direito”. Expliquei que sou professora de inglês, casada com um japonês e formada em psicologia e literatura.

Ele arregalou os olhos azuis. Me encheu de perguntas sobre o Japão e sobre as mudanças que eu percebia na Inglaterra atual. Apesar de seus 78 anos, parecia muito lúcido e bem-humorado –lembrava da Olimpíada de 1948, quando Londres se ofereceu como sede.

Foi logo após a guerra, a Europa estava em recessão e ninguém mais se prontificou. “Os atletas ficaram hospedados em alojamentos militares”, contou o sr. Humphrys, que mais tarde serviu o Exército e virou arquiteto. “O Japão e a Alemanha não foram convidados.”

Quando ele se levantou para ir ao banheiro, reparei que tinha dificuldades de andar. Costumava correr, disse, mas teve de abandonar o esporte por questões de saúde –fui educada o suficiente para não pedir detalhes. Ele tampouco perguntou a minha idade, e eu só disse que nasci após a Segunda Guerra. “Não muito depois”, expliquei, rindo.

A certa altura, ele pareceu constrangido e perguntou se aquele era o meu pé sob a mesa –olhamos para baixo e demos de cara com Charles, um pitbull branco que estava no banco de trás e lambia vigorosamente os sapatos do sr. Humphrys.

Ele desceu em Newport e nós nos despedimos cordialmente. Ao nosso lado, uma moça brasileira (aposto) estava prestando atenção demais na nossa conversa.

Saudades,
Christine

  1. Patricia Tamagi disse:

    ola, te achei no site mundodastartarugas, você ainda tem tartaruga femea orelha vermelha que queira doar? eu tenho um macho (ele teve uma queda e caiu da sacada do 2 andar do nosso apto 2 vezes e ficou manco, mas a saude dele é mto boa, ele tem 16 anos, essa queda foi há 10 anos atras, hj ja mudamos de apto e nao tem por onde ele cair hehe) queria muito uma companheira pra ele, pode me ajudar? fico no aguardo do seu contato (patricia.tamagi@gmail.com), obrigado pela atençao, abraços.