O segredo mais bem guardado da TV

Postado em: 9th julho 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
9 de julho de 2012

por Vanessa Barbara

Há bem mais do que “Doku-soaps” e julgamentos novelescos na tevê alemã: existe um seriado policial de altíssimo nível e popularidade avassaladora que atende pelo nome de “Tatort” (“Cena do Crime”).

Pergunte a qualquer alemão onde ele estará no domingo às 20h15 e é bem provável que a resposta seja a mesma: no bar, assistindo “Tatort” pelo telão. Ou no sofá de casa. É dessas experiências culturais difíceis de traduzir para os estrangeiros, mas que falam alto a uma nação. Alguns bares chegam a receber os episódios em DVD com antecedência, para que os fãs possam pausar e tentar adivinhar o assassino.

A série é veiculada pela emissora estatal ARD desde 1970, com a mesma abertura – um par de olhos e uma sequência antiquada ao estilo 007. Os canais regionais possuem cada qual sua equipe de investigadores, de modo que existem quinze variações de “Tatort” em cidades como Berlim, Leipzig, Bremen, Stuttgart e até Viena.

Os espectadores tendem a escolher sua favorita e assistir aos episódios regionais com o furor que alguns reservam ao futebol e ao pinocle. Não raro, o enredo aborda questões sociais da área, como abuso de menores, imigração e violência escolar.

O “Tatort” de Frankfurt é conhecido pela excelência na cinematografia e roteiro, já o de Munique se destaca pelos diálogos rápidos e bem-humorados. Em Konstanz, os detetives às vezes resolvem crimes ambientais. O de Hamburgo traz um investigador solitário de raízes turcas, e o de Hanover tem uma protagonista feminina.

“Tatort” se diferencia da franquia norte-americana “CSI” por ser mais voltado à caracterização de personagens do que à solução de homicídios engenhosos. Cada episódio dura 90 minutos.

Seria mais pertinente compará-lo à série britânica “Inspetor Morse”, que também traz um detetive melancólico e anti-Sherlock Holmes. A narrativa é realista e não usa flashbacks ou movimentos tresloucados de câmera.

Um episódio célebre é “Reifezeugnis”, dirigido por Wolfgang Petersen (de “Das Boot”), com a jovem Natassja Kinski. O detetive mais popular foi Horst Schimanski, sujeito parrudo com ficha criminal e propensão ao alcoolismo interpretado por Götz George nos anos 80.

Ao todo, foram exibidos 852 episódios da série. Com exceção de um austríaco, garimpado no YouTube, nenhum deles está disponível com legendas em inglês, em DVD ou na internet.

“Tatort” é o segredo mais bem guardado da televisão.