Respeitar a “météo”

Postado em: 11th junho 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Águeda Horn

Folha de S.Paulo – Ilustrada
11 de junho de 2012

por Vanessa Barbara

Em 1993, uma pesquisa do Instituto Nacional de Audiovisual revelou que 76% dos franceses acompanhavam os boletins meteorológicos na TV pelo menos três vezes por semana.

Num estudo de 2008 realizado pelo centro de estatísticas Médiamétrie, as previsões do tempo do canal France 2 e TF1, combinadas, atraíam 14 milhões de pessoas diariamente.

Os números são fáceis de comprovar: em Paris, todas as conversas começam com um exaltado aparte climático, em geral pessimista, e é só ligar a tevê para ser bombardeado por boletins da Météo-France, a soberana agência de meteorologia do país.

Só na emissora pública France 2, são seis blocos diários de “météo”: às 10h45, 12h55, 13h50, 19h50, 20h45 e 2h35, antes ou depois do noticiário.

Dedicados, os franceses não se limitam às temperaturas mínimas e máximas nas principais cidades; fornecem informações detalhadas sobre a qualidade do ar e das praias, o tráfego nas rodovias e um mapa de vigilância relativo a tempestades, inundações, nevascas e avalanches.

A fonte é quase sempre a mesma: a Météo-France. Ainda assim, cada emissora procura se diferenciar na apresentação dos dados, usando recursos didáticos e cartográficos. O boletim da TF1 é mais clássico, o da M6 é impessoal e o do Canal + é descolado e sexy.

Os cidadãos até possuem um apresentador de sua preferência, como a veterana Evelyne Dhéliat, da TF1, eleita por uma revista como a mais confiável, e o jovem Alex Goude, que vem conquistando admiradores com sua pinta de galã e trocadilhos espirituosos no canal M6.

Pode-se explicar a obsessão climatológica na França em parte por se tratar de um país de temperaturas variadas, sem previsões entediantes, “como talvez no Egito ou na Arábia Saudita, onde faz sol todos os dias”, explicou um técnico da Météo-France.

Emmanuel Garnier, historiador do clima da Universidade de Caen, tem uma explicação mais interessante: os cidadãos locais são intolerantes à variação radical do clima, reagindo com um catastrofismo tipicamente francês. São dramáticos e nunca estão satisfeitos.

“Na Inglaterra, sujeita a mudanças meteorológicas similares às nossas, a situação é diferente. As pessoas falam sobre o assunto e há cobertura na TV, mas é tudo considerado normal”, afirma.

Na França, pega bem reclamar do tempo e lamentar com gosto: é a forma mais segura e imediata de ser aceito entre os parisienses.