Folha de S.Paulo – Ilustrada
21 de maio de 2012

por Vanessa Barbara

“Tem gente que gosta de futebol, tem gente que adora futebol e tem gente que não gosta de futebol”, enunciou Cléber Tadeu Machado, locutor esportivo que acaba de completar 50 anos de idade.

Apesar de às vezes empurrar os colegas em rede nacional (ele foi pego pelas câmeras dando um chega pra lá em Caio Ribeiro, por questões de enquadramento), Cléber se consagrou como principal locutor da Globo, atrás apenas de Galvão Bueno.

Seu currículo inclui transmissões de Fórmula 1, judô, hipismo, bicicross, natação, handebol, boxe e Carnaval. É também o nosso melhor filósofo, ainda que poucos saibam disso.

Em seu ofício, encarna um Soren Kierkegaard bonachão e rosado, dilacerado pela angústia e pela Weltschmerz (desespero de quem sabe que a realidade física não pode satisfazer as demandas da alma). Seus arroubos de existencialismo são brilhantes: “Isso não é falta, Arnaldo? Isso não é pênalti, Arnaldo? O que é isso, Arnaldo?”.

É um filósofo da dialética, da complexidade, da confusão: “Volta e meia o Rogério Ceni acaba tomando um gol enquanto está de joelhos, mas você tem que pensar que antes disso ele estava de pé”, explica. “Ou seja, ele caiu, mas caiu só pela metade e acabou de joelhos”.

Niilista, admite que “jogar bola muita gente joga, quero ver jogar bola sem a bola”. E lamenta que “hoje você espirra e não ouve mais ‘saúde’ do cara que está ao lado. O mundo te deseja saúde. Ou não”.

Há quem tenha ganas de lhe dar um abraço, mas Cléber dispensa esse tipo de interação. É o inventor do método autossocrático na TV, em que se coloca no lugar do interlocutor, faz uma pergunta e ele mesmo dá a resposta.

Sua digressão mais célebre ocorreu no “Arena SporTV”, em 2008. “Houve uma crise aérea? Houve. A vida inteira? Não. Todo tempo em que o Brasil teve transporte aéreo houve crise? Não. Mas houve uma? Houve. A discussão é pontual? É, mas não é! Porque é estrutural”.

Na fatídica corrida em que Barrichello permitiu a ultrapassagem de Schumacher, ele falou com os próprios botões: “Hoje não! Hoje não! Hoje sim… Hoje sim?!”.

A autossuficiência é a regra do método clebermachadiano, que busca refletir as angústias do homem comum.

“Se macarrão fosse bom não começava com maca”, declarou, numa mesa-redonda. “Maca que lembra um ambiente hospitalar… [Silêncio geral. Constrangimento.] O Macaé que está na segunda divisão também começa com maca… Maca não é bom”.

  1. Rafaelcamposrocha disse:

    genial.