Ser imigrante em Coimbra

Postado em: 14th maio 2012 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S.Paulo – Ilustrada
14 de maio de 2012

por Vanessa Barbara

Há três anos, estreou em Portugal o “Programa do Aleixo”, show de variedades apresentado por uma mistura de cachorro com urso de pelúcia, tendo como assistente de palco um busto de Napoleão.

Criada pelos humoristas João Moreira, Pedro Santo e João Pombeiro, a bizarra atração propagou-se pela internet e virou fenômeno no Brasil, com seus quadros nonsense, sotaque carregado e estranhezas gráficas.

Os episódios de meia hora parodiam o formato dos “talk shows”. Bruno Aleixo comanda o programa sentado numa poltrona em seu apartamento sisudo, com uma manta nos joelhos, ao som de música clássica e ao pé de uma lareira.

Entrevistando personalidades, a criatura canina faz apartes agressivos, ofende-as com o bordão “cá burro” e monopoliza a conversa. “Se tenho coisas mais interessantes para dizer do que o entrevistado, digo-as! Não tenho culpa que isso aconteça quase sempre.” Por vezes, expõe o interlocutor a constrangimentos e charadas.

No segmento “Revista de Imprensa”, Aleixo analisa notícias da “Gazeta de Coimbra”, todas de importância discutível. Em “O Busto Apresenta um Mito Urbano-Rural (E Eu Logo Digo se É Verdade ou Não)”, acontece exatamente o que diz o título. Em “Opinião Civil”, promove-se uma obtusa enquete telefônica, como: “Tabaco: bom ou mau?”.

Os episódios terminam com Aleixo e Busto tocando uma versão ao piano de “grandes êxitos nacionais e internacionais”, sem qualquer tipo de critério.

A excentricidade do programa é evidente: cenários e personagens são fotos estáticas, mas bocas e olhos se mexem. As pausas, cortes e silêncios são incômodos, muitos com “timing” equivocado. Constantemente irritado, Bruno Aleixo tem o raciocínio truncado e infantil. Num debate escolar sobre profissões, ele afirma que quer ser “imigrante em Coimbra”. Em vão, a professora explica que ser imigrante não é profissão e que não é possível sê-lo em seu país natal. “Então quero ser proxeneta”, conclui.

Alguns de seus conselhos: “Depois de comer um frango não há nada melhor que cortar as unhas”; “Não vás pelo caminho bom, vai pelo acidentado que não te aleijas”; “Os homens que usam brinco são todos drogados”; “O poder do Hulk é saltare!”; e “Recolha sempre as bolas de naftalina; se as crianças as apanham, comem-nas todas, pensando que são amêndoas”.

E ainda: “Se visses mais televisão e lesses menos livros sabias muito mais coisas da vida”.