Quem é morto sempre aparece

Postado em: 12th dezembro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
12 de dezembro de 2011

por Vanessa Barbara

Os direitos de licenciamento da série juvenil “Julie e os Fantasmas” (Band, seg. às 20h25) foram vendidos antes mesmo de sua estreia, em outubro. Os cadernos exclusivos com fotos e estrelinhas já estão no mercado e há planos de lançar uma linha de tênis.

Produzida pela Band em parceria com a Mixer e a Nickelodeon Brasil, a série fala de uma adolescente de 15 anos que muda de casa e acidentalmente liberta uma banda de fantasmas da década de 80, um trio de galãs teen com o visual de integrantes do The Cure.

Os vistosos ectoplasmas ajudam Julie a desenvolver seu talento musical e a lidar com a paixão por Nicolas, o menino mais popular da escola, que é também um nerd enrustido. Diz o release que “Julie tem uma beleza diferente. Seu cabelo foi cortado por ela mesma, o uniforme sutilmente personalizado, caderno e tênis cobertos por palavras”. Paradoxalmente, esse gosto de Julie pela personalização é outra aposta de merchandising dos produtores.

O episódio piloto é interessante e simpático. Há personagens como o fantasma-bateirista Félix, neurótico e hipocondríaco mesmo depois de morto, e o baixista Martim, que “se sente bem como fantasma, mas se sentiria bem como qualquer outra coisa”.

A atriz Mariana Lessa passa longe de qualquer afetação típica de novelas adolescentes, à diferença de alguns de seus coadjuvantes. Após o fracasso na audição de estreia, ela diz, impassível: “Se você pensar que a Lady Gaga vomitou a primeira vez que subiu no palco, até que não fui muito mal”. Até os fantasmas fazem trocadilhos respeitáveis, como o do título desta coluna.

Uma das boas cenas é quando Julie, irritada com o visual infantil de seu quarto, recebe uma dica dos fantasmas e arranca todo o papel de parede, revelando por baixo vários pôsteres de rock.

Se a série pretende imitar o estilo de “Glee”, o que estraga é justamente a parte musical, que devia ser menos enlatada para o consumo e mais autêntica e autoral. A trilha sonora é de Rick Bonadio, produtor das estrelas, responsável pelas trilhas de “Floribella” e “Dance Dance Dance”, além de formatar bandas de apelo comercial como Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr., NXZero e Fresno.

O tema de abertura é lamentável e trata a audiência como se fosse um pires. A letra parece ter sido composta a partir de palavras-chave publicitárias: “Julie, ela é mais ela/ Lá vem Julie/ Ela vai te conquistar”.