Folha de S. Paulo – Ilustrada
21 de novembro de 2011

por Vanessa Barbara

O leitor Paulo Silva se diz indignado com o “JN no ar”, segmento do “Jornal Nacional” que manda repórteres num pomposo avião para matérias que poderiam ser facilmente apuradas pelas equipes locais.

Senso de ridículo e perspectiva é o que falta a muitos telejornais que, quanto mais poderosos, mais pretensiosos ficam. A exceção é o “Sensacionalista” (Multishow, seg. às 22h30), uma paródia que estreou sua nova temporada no mês passado.

Com o slogan: “Um jornal isento de verdade”, o JS imita a linguagem sisuda do gênero, os cacoetes de texto, o formato engessado e a condescendência dos âncoras, em manchetes sobre: o rodízio de subcelebridades nas praias cariocas, os mendigos que aceitam cartão de crédito, a discriminação de pessoas com voz de pato e os videntes que decidiram processar comentaristas esportivos por exercício ilegal da profissão.

Tudo isso com a ajuda de gráficos explicativos, depoimentos de populares e consulta a especialistas. A produção é tão competente que muitos acreditam e repassam a notícia como sendo verdadeira, revoltados, por exemplo, com o casal paulista que teria batizado o filho de Facebookson, com o kit mendigo distribuído pelos camelôs do Rio (matéria que enganou até a Rádio Globo) ou com a decisão do governo de lançar uma campanha publicitária para mostrar que não faz tanta publicidade assim.

A verossimilhança é maior no caso do repórter Anderson Freitas, que tem a voz idêntica à de Sérgio Chapelin. A influência mais evidente é do satírico jornal norte-americano “The Onion”.

Nos últimos programas, acompanhou-se o drama de um deputado do Partido Democrático Trabalhador Social Cristão Liberal dos Últimos Dias (PDTSCLUD), banido da política por ter devolvido uma carteira achada no chão. Na sequência, o JS conversou com um pai de santo que manda a pessoa amada embora em três dias e citou um site de compras coletivas que promete trazer 40 pessoas amadas de volta em duas semanas.

O JS é bastante desigual, mas compensa a ocasional falta de graça com momentos de glória absoluta, como o anúncio de que a presidente Dilma irá aplicar os preceitos do feng shui no Planalto. Ela pretende virar os dois pratos do edifício do Congresso Nacional para baixo – evitando, a um só tempo, a anulação de energia cósmica positiva, o acúmulo de água da chuva e a proliferação do mosquito da dengue.