Análise combinatória

Postado em: 29th outubro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
Especial 35a. Mostra de Cinema

29 de outubro de 2011

por Vanessa Barbara

Se existe uma qualidade indispensável ao frequentador da Mostra de Cinema não é, ao contrário do que se pensa, saber tudo sobre diretores obscuros ou dominar técnicas de enquadramento e corte. Na verdade, pouco se fala de cinema nos corredores, filas e calçadas da 35a. Mostra; pouco se fala, pois o foco é outro: dedicar-se à ciência da análise combinatória, ou gestão estratégica de calendário aplicada à programação do evento.

É o que se vê nos cafés do entorno: dezenas de cinéfilos com o guia na mão, caneta na boca e um papel rabiscado, concentradíssimos em resolver equações matemáticas complexas, com quatro ou cinco variáveis: será que vai dar tempo de pegar o filme grego “Attenberg” às quatro no Cinusp e chegar no horário de “Girimunho”, às 18h40 no Olido? E se cancelarem o chinês, vale a pena correr para entrar em “Hanezu” ou compensa esperar aquele dos hipopótamos?

A comoção aumenta diante do aviso de “filme substituído”, “projeção cancelada” ou “lotação esgotada”. Aí é um tal de apoiar no balcão e riscar, matutar, folhear e eleger um filme da lista reserva de “interesses levianos”, como explicou um senhor desiludido. Já uma garota, impávida, tentou viabilizar o plano C, depois de terem cancelado suas primeiras escolhas. “Por isso estou nessa conta miserável!”, desabafa.

Os mais ambiciosos traçam gráficos e tentam encaixar a aula de ioga nos intervalos e o curso de francês das terças e quintas, mas é tão difícil quanto resolver um quilômetro inteiro de quadradinhos de Sudoku.