Cabe aqui na minha mão

Postado em: 2nd outubro 2011 por Vanessa Barbara em Folha de S. Paulo, Reportagens
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
2 de outubro de 2011

Febre no YouTube, vídeos da Galinha Pintadinha estreiam no mercado hispânico após terem sido recusados por canais de TV

Divulgação

Galinha Pintadinha e Galo Carijó no 2º DVD de clipes

VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA

Sucesso entre os bebês de variadas procedências e classes sociais, os vídeos da franquia brasileira Galinha Pintadinha se preparam para entrar no mercado hispânico.

A fase de produção já foi concluída no México e a equipe procura distribuidores na América Latina. Por enquanto, só três das 16 faixas estão disponíveis em espanhol no YouTube: “Mariposita”, “Gallina Pintadita” e “Pollito Amarillito”, com 80 mil visualizações no total.

Os criadores da febre da Galinha são os publicitários Marcos Luporini, 40, e Juliano Prado, 41, sócios da Bromélia Filminhos, de Campinas (SP). Há quatro anos, produziram uma animação caseira da cantiga “Galinha Pintadinha”, de um minuto e 49 segundos, para mostrar a produtores de canais infantis.

Fizeram um videoclipe simples e colorido protagonizado por uma galinha azul de pintinhas brancas que certo dia cai adoentada e sofre a indiferença do marido carijó. A letra aparece na tela com uma bolinha para as crianças acompanharem.
Como não podiam se deslocar para mostrar o vídeo aos compradores, eles postaram o material no YouTube.

“À época, buscávamos alguma forma de conseguir financiar o restante do projeto. Tentamos de tudo. As pessoas até simpatizavam, mas não davam dinheiro”, conta Luporini. Entre as empresas que recusaram o vídeo, estão a TV Cultura, o Discovery Kids e agências de propaganda.

Conformados com a recusa, nem se preocuparam em tirá-lo do ar. Seis meses depois, o clipe havia sido visto meio milhão de vezes. Hoje, já são 42 milhões.

Desde então, o subproduto mais célebre da franquia, o “Pintinho Amarelinho”, é o mais visto do mundo na categoria filmes e desenhos, com 75 milhões de cliques. Outros oito títulos da marca estão no top 15 do YouTube, com 266 milhões de visitas.

Nos últimos dois anos, a dupla lançou dois DVDs, um CD com versões de ninar, um galináceo de pelúcia e uma coletânea em Blu-ray. Pretende ainda licenciar a marca para comercializar brinquedos, roupas, material escolar e um game on-line.

Recentemente, foram procurados pela agência F.Biz, que propôs uma ação de marketing conjunta com os sabonetes Lifebuoy. A faixa “Lava a Mão” já existia e estava na lista do próximo DVD.

“Apresentamos a música e, por razões óbvias, a empresa se interessou. Antecipamos a produção e o lançamento do clipe no YouTube como um oferecimento Lifebuoy”, conta Luporini. Em menos de dois meses, o vídeo tem 1,8 milhão de cliques.

LOOPING

O paulistano Max Blas Vidal de Souza, um ano e cinco meses, é um bebê geralmente centrado. Com seus cachos alourados e temperamento pacífico, Max tem pendor para a literatura e as artes plásticas, sendo seu único revés comportamental o costume de sujar a calça de geleia.

Ainda assim, há uma coisa que tira Max do sério: os vídeos da Galinha Pintadinha. Sofia Nishida, de 14 meses, e Augusto Saggio Barbará, de 17 meses, também escutam as músicas sempre em looping.

“Dos quase 16 milhões de visualizações desse vídeo, 15 milhões foram dos meus filhos”, calcula o webdesigner Rafael de Souza, em comentário no YouTube.

Até a presidente Dilma Rousseff revelou sua predileção pelo galináceo cantante, após ter sido flagrada, em julho, entoando em altos brados a música-título, junto ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e à ministra Helena Chagas, numa viagem a bordo do avião presidencial.

Ela assumiu os vocais e os assessores ficaram no “pó, pó, pó, pó…”. Depois, cantou “Atirei o Pau no Gato” com o vice Michel Temer. Dilma tem um neto de um ano.

Todos os bebês expostos à epidemia aviária repetem mecanicamente os gestos do pintinho (que “cabe aqui na minha mão”) e, ao verem ilustrações de batráquios, fazem “não” com as mãos (de “O Sapo Não Lava o Pé”).

A praga voltou-se contra os próprios criadores -Luporini tem um bebê de oito meses, e Prado, duas filhas mais velhas, todos infectados. Ainda assim, rejeitam as acusações de haver mensagens subliminares nos vídeos.

“Engraçado como essas teorias conspiratórias antigas nunca saem de moda”, desconversa Luporini, acrescentando: “Dominar o mundo não está nos nossos planos”.

“Não existe nenhuma técnica”, diz. “Só buscamos simplificar a linguagem para aproximá-la dos pequenos. O resto é intuição mesmo.”