Os canadenses

Postado em: 21st agosto 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
21 de agosto de 2011

por Vanessa Barbara 

Ilustração: Águeda Horn

Sempre chega um momento em que até o colunista mais democrático cede ao ímpeto de falar de temas obscuros. O assunto de hoje versará sobre séries de TV canadenses.

O subsídio do governo do Canadá para utilização de suas florestas como locação já é bastante conhecido pelo público, em séries como “Arquivo-X”, “Battlestar Galactica” e “24 Horas”, rodados em Vancouver.

Mas o país tem também produções próprias, sendo as mais célebres “La Femme Nikita” e “Slings and Arrows”, que no Brasil ganhou um remake na Globo, “Som & Fúria”.

De todas, minha favorita só teve 22 episódios, passava no Multishow e se chamava “Hope Island” – era sobre um pastor protestante assumindo uma comunidade pacata de pessoas comuns. Não foi para a frente, claro.

Das séries esquisitas, a maior delas é “Wonderfalls”, exibida pela Fox em 2004. Por motivos que jamais poderão ser racional e absolutamente esclarecidos, passei o fim de semana assistindo a primeira (e única) temporada, de 13 episódios.

“É um conluio. Não só a Via Láctea e o planeta Terra, mas toda a Criação”, diz a protagonista, Jaye Tyler, uma garota formada em filosofia que decide viver num trailer e trabalhar como atendente numa loja de recordações nas Cataratas do Niágara. “Olha só para eles: trabalham muito e são infelizes. Eu consigo ser infeliz sem ter que trabalhar tanto”, justifica.

Numa conjuntura tampouco suficientemente explicada, Jaye recebe ordens de objetos com cara de animais. As tarefas dão início a uma corrente bizarra de eventos, com resultados positivos para os outros – menos para ela.

Na série, ela conclui que somos reféns do destino. “Você pode muito bem se entregar desde já e curvar-se perante a sua sorte”, ela diz a um atônito desconhecido.

Por suas próprias ações, acaba lançando o homem que ama nos braços da ex-mulher, conformando-se e chorando “até se formarem depósitos de sal sobre as suas bochechas”.

Em seu derrotismo irônico, Jaye é uma bela personagem cercada de outros bons coadjuvantes, mas a série ainda assim é esquisita. Destaque para um momento de fúria em que ela arremessa pela janela um bonequinho pendurado no espelho do carro. “Mas eu não disse nada!”, ele protesta, espatifando-se na calçada.

 

  1. Destaque para um momento de fúria em que ela arremessa pela janela um bonequinho pendurado no espelho do carro. “Mas eu não disse nada!”, ele protesta, espatifando-se na calçada.
    Acidentalmente, tinha deixado de baixar o episódio 10, onde acontece essa cena. Ri alto. Eu também curti pacas o garotinho que, depois de ver que não teria lugar no coração de Jaye, põe fogo no carro do Eric. E a conversa dos dois sobre ela ser um enigma, a garota mais misteriosa que ele conheceu, um labirinto, um quebra-cabeça de 10 milhões de peças, a coletânea com todas as palavras cruzadas já publicadas pelo The New York Times, um cubo mágico. E essa cena https://vimeo.com/45732722

    Bah, e muitas outras.

    O bom é que os spoilers não abrangem o 13º episódio, o último. Vou ficar com saudade desse seriado.