Numerologia televisiva

Postado em: 1st maio 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
Tags: ,

Os relatórios de audiência da Rede Record têm precisão matemática. Por trás de tantos números desconexos, pode-se vislumbrar uma sequência mágica que rege todo o universo televisivo, e fazer uma previsão do que há de vir.

Vejamos: na manhã de 7 de outubro, o programa “Hoje em Dia”, da Rede Record, ficou em primeiro lugar na audiência durante 59 minutos. No mesmo dia, a série “Dr. House”, exibida pela emissora, registrou a liderança por 34 minutos, com 8 pontos de média, pico de 15 e share de 29%.

Pouco depois, o “Domingo Espetacular” chegou a 20 pontos e garantiu a vice-liderança isolada no ranking geral. E o jornalístico “São Paulo no Ar” ficou em primeiro lugar durante 780 segundos numa terça-feira de manhã, o mesmo ocorrendo com a minissérie “Sansão e Dalila”, que abrilhantou o pódio por 14 minutos na região do Rio de Janeiro.

Em fevereiro, o drama “Ray”, exibido pelo Cine Record Especial, ficou na liderança por 1h14, levando a crer que muita gente só viu o filme pela metade.

Somando todos esses números, multiplicando pela preguiça de mudar de canal e dividindo pelo número de insones da casa, pode-se dizer que a emissora está disposta a segurar o calção do espectador por todos os meios possíveis.

Na última terça-feira, o público paulista garantiu a primeira colocação do programa “Ídolos” durante 37 minutos – muito mais do que eu pude aguentar.

Nessa edição do reality, que busca novos cantores, dezenas de candidatos passaram por uma breve e humilhante audição, da qual só três saíram aprovados, num programa de quase uma hora de duração.

Em  busca de gloriosos segundos de vantagem, os jurados ridicularizaram os participantes, abusaram das caretas e receberam uma quantidade propositalmente alta de candidatos bizarros.

Os jurados compararam o talento dos calouros com uma Pepsi sem gás, uma aula de física, um miado de gato, e mandaram que considerassem a “possibilidade de não cantar mais nada”.

Dava pra perceber o esforço. Talvez fosse mais simples hipnotizar a audiência com um relatório do Ibope em tempo real, narrado pelo Britto Jr., e botar todo mundo pra dormir, garantindo assim umas oito horas de liderança e share de 40%.