O rei dos crossovers

Postado em: 13th fevereiro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Dá-se o nome de “crossover” ao cruzamento entre personagens, cenários ou eventos de séries distintas de TV. Por exemplo: a garçonete Ursula, de “Mad About You”, às vezes aparece em “Friends” como irmã gêmea de Phoebe Buffay. Um blecaute causado pelo protagonista do primeiro foi sentido pelos personagens do segundo. E Paul Buchanan já emprestou o apartamento para Kramer, de “Seinfeld”.

Também entre “Arquivo-X” e “Millenium” houve uma parceria, quando Frank Black ajudou Fox Mulder a resolver um pepino. Mas o crossover definitivo, o rei da esquizofrenia televisiva, ainda está para ser escrito. Segue uma gentil colaboração:

Exterior – Noite

Tudo começa quando o psicopata Dexter Morgan (da série “Dexter”) comete um crime hediondo com uma faca enferrujada e não termina o serviço. Moribunda, a vítima rasteja até o hospital Princeton-Plainsboro, onde é atendida por um médico de bengala (“House”) e seu imediato em serviço (“Star Trek”).

O paciente, identificado como Jeremy Bentham (“Lost”), é diagnosticado como portador de lúpus e ganha uma instigante punção lombar, mas a temporada estava no fim e ele teve que ir a óbito em respeito à unidade aristotélica da trama.

O corpo é levado à funerária Fisher & Sons (“A Sete Palmos”), onde Jeremy se depara com um papa-defuntos estranhamente parecido com seu assassino. Era Michael C. Hall.
À cerimônia fúnebre comparecem os agentes do FBI Olivia Dunham (“Fringe”) e Dale Cooper (“Twin Peaks”), que prometem capturar o assassino, fosse ele deste mundo ou não (“Além da Imaginação”).

Como esperado, ambos creditam o crime a uma trama conspiratória envolvendo Al Capone (“O Império do Contrabando”), a máfia siciliana (“Família Soprano”), um nazista da sopa (“Seinfeld”) e um anão que fala de trás pra frente (“Twin Peaks”). Vão todos parar no consultório do dr. Paul Weston (“Em Terapia”), como já deveriam ter feito há muito tempo.

Por fim, o caso é solucionado pelo policial Jimmy McNulty (“The Wire”), que planta pistas falsas, suborna traficantes e chama um detetive confuso (“Monk”) para meter os roteiristas no xilindró.

O episódio termina com Jack Bauer (“24 horas”) chutando a porta e esmagando os créditos com desnecessária truculência.