Napoleão do crime

Postado em: 9th janeiro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Fica difícil condenar a pirataria quando uma série como “Sherlock” (2010), da BBC inglesa, não tem a menor previsão de ser exibida no Brasil.

A primeira temporada contou com apenas três capítulos de 90 minutos cada, chegando ao fim em agosto de 2010. Trata-se de um folhetim de ação e suspense que transporta o detetive Sherlock Holmes (interpretado por Benedict Cumberbatch) para os tempos contemporâneos.

Na minissérie, Holmes é fã de tecnologia, não desgruda do celular e gosta de provocar o inspetor Lestrade tumultuando coletivas de imprensa com torpedos SMS. Seu lendário parceiro, o dr. Watson (Martin Freeman, de “O Guia do Mochileiro das Galáxias), registra os casos num blog.

Holmes passa o tempo todo agindo feito um maestro louco, insultando os policiais e rebatendo as acusações de que seria um psicopata (“Sou um sociopata funcional”, diz).

Em vez de cachimbos, ele é usuário ostensivo de adesivos de nicotina: “Este é um problema de três adesivos!”, exclama no episódio-piloto, “Um estudo em rosa”, que trata de suicídios seriais.

O visual da série acompanha o ritmo multitarefa do herói: numa cena de crime, letreiros se sobrepõem na tela para destrinchar as evidências encontradas, enquanto Holmes pesquisa simultaneamente em seu smartphone dados meteorológicos, rotas de trem, informações avulsas e recados pessoais.

Embora saiba rastrear endereços de email e tenha alma de hacker, o Holmes da BBC não é tão diferente do original. A um suspeito, diz: “Além dos indícios óbvios de que você é solteiro, maçom e asmático, não sei nada a seu respeito”. Ao médico legista, pede que não enuncie seus pensamentos em voz alta, pois está diminuindo o QI de toda a rua.

Ele também observa que deve ser “muito relaxante não ser eu” e aproveita cada novo assassinato, alegando que não dá para ficar em casa quando algo divertido assim acontece.

No final da temporada, Holmes sai ao encalço de seu arqui-inimigo prof. Moriarty, o “Napoleão do crime, organizador de tudo o que há de mal nesta cidade”. Houve polêmica quanto ao desfecho da série, que atraiu 7,3 milhões de espectadores na Inglaterra, mas a segunda temporada já foi confirmada para o fim deste ano.