Os suricatos: poder e cobiça

Postado em: 29th agosto 2010 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Se Fredo e Vito Corleone coçassem as costas com os pés; se Carmela Soprano comesse larvas de insetos; se Ray Liotta fosse o chefe da máfia de Kalahari e se Donnie Brasco tivesse o focinho pontiagudo, poderiam ser os protagonistas de “No reino dos suricatos”, série do Animal Planet que tragicamente parou de ser exibida no país.

Produzida pela Oxford Scientific Films, a novela estreou em 2005, misturando gravações de câmeras ocultas com uma narração essencialmente dramática. Para quem está por fora, suricatos são mamíferos de 30 centímetros de altura, da família dos mangustos.

A abertura da série tem um quê de “Maria do Bairro”: apresenta os personagens como “a rebelde Tosca”, “o intrépido Mitch”, “o pequeno e corajoso Shakespeare”, “o encrenqueiro Houdini” e “o vilão Hannibal”, todos eles animaizinhos ansiosos e alertas.

Ao longo da saga, o clã dos Whisker tem seu Michael Corleone, que no caso é uma suricata fêmea chamada Flower. A semelhança é clara: o especial “No reino dos suricatos: O começo” é praticamente uma refilmagem de “O poderoso chefão”, só que com suricatos. Em 75 minutos, mostra a ascensão e queda da matriarca guerreira, com direito a amores proibidos, expulsão da família e posterior redenção.

O filme parte do nascimento de Flower, “a escolhida”, e passa pela trágica morte de sua irmã Petal, numa cena de suspense que nada fica devendo aos grandes mestres do gênero. Introduz o andarilho Youssarian, galã da novela e membro do clã inimigo. “Uma coisa é preciso reconhecer: Youssarian é completamente sem noção”, diz o narrador, acerca das conquistas amorosas do efusivo mangusto. Pois ele tem um irmão, o lépido Zaphod, que acaba faturando a mocinha – visto que é justo, reto e polido. O antropomorfismo é tolo, mas isso não faz a menor diferença.

Como nos melhores filmes de gângsteres, os Whisker têm que disputar seu território com a família Tattaglia dos suricatos: os mesquinhos Lazuli, que são parentes do novo amor da heroína. A essa altura, quase ouvimos os heróis dizerem algo como: “Flower, você é minha irmã e eu te amo. Mas nunca fique contra a família de novo. Nunca”.

Então eles mordem as próprias patas e saem para caçar minhocas.