Uma catraca para a fama

Postado em: 22nd agosto 2010 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Foi por razões acadêmicas que me propus a resenhar o programa “Busão do Brasil” (Band), tendo publicado um livro-reportagem sobre o Terminal Rodoviário do Tietê (O Livro Amarelo do Terminal), e ciente de minha condição de especialista em questões de transporte coletivo.

Nessa atração, o primeiro reality show itinerante da TV brasileira, doze participantes ficarão confinados num ônibus que percorrerá 4 mil quilômetros, com paradas em 16 cidades diferentes. O prêmio é de 1 milhão e será entregue no destino final, São Paulo, em outubro.

A despeito das elevadas expectativas, foi impossível assistir até o fim. As brigas violentas por uma lata de leite condensado, a falta absoluta de graça/interesse e a supremacia da lycra no vestuário dos participantes acabaram impossibilitando a empreitada.

Diante desse revés, apresento aqui minha sugestão para um reality show dentro de um coletivo, que se passaria durante uma viagem do 701-U, Jaçanã – Butantã/USP, onde, a exemplo da atração da Band, “o psicológico fica lá em cima” e “é preciso ser um guerreiro”.

Os participantes do reality serão 38 pessoas sentadas e 74 em pé, que terão que conviver por 2 horas e meia com um fardo de tecidos, uma samambaia e dois travesseiros carregados por uma senhora que, antes de sair, exagerou no perfume.

Durante o programa, o cobrador ficará encarregado de assuntar com as celebridades, fazendo perguntas íntimas, eliminando os que param na porta sem a intenção de descer e anunciando provas-relâmpago, como a do “um passinho pra frente, por gentileza”, que acontece sempre que um novo membro tenta embarcar.

A prova mais temida da atração, porém, ocorre quando alguém cochila e perde o ponto. Ela se chama: “Vai descer no próximo” e é de um suspense insuportável – o pobre coitado tem que se acotovelar entre sacolas de mercado, canos de PVC e uma patrulha de escoteiros, vencer a catraca e se arremessar em direção à saída, quando então descobrirá que é tarde demais e que o programa chegou ao fim: o ônibus pifou e os passageiros ganharam como prêmio uma caminhada noturna pela avenida Guapira.

Aí começa outro reality show, inspirado em “No Limite”.