Campeões de audiência

Postado em: 4th julho 2010 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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A cada programa de TV que vai ao ar, dúzias de projetos sem nexo ou possibilidade de audiência são rejeitados. Pois a série “Campeões de Audiência” (Canal Brasil) aposta justamente nesse rico filão. Em treze episódios, o ator e diretor Michel Melamed desenvolve 26 ideias que canal nenhum, em plena e sã consciência, teria coragem de produzir. “São programas com temas tão estapafúrdios que nem traço no Ibope tentarão”, explica.

Se algumas dessas ideias são pretensiosas, outras mereciam ir imediatamente para o horário nobre. Como o “Game do Fodido”, em que dois pobres-diabos disputam para ver quem é o mais desafortunado. “Eu mesmo não almocei”, observa Melamed, gabando-se. Um dos concorrentes é mudo, tem pontes de safena, tifo, tumor, lepra e nome no SPC. O outro é cego, tem asma, arteriosclerose, tétano, tuberculose e tentou o suicídio oito vezes. Como se não bastasse, é judeu, negro e índio. Acirrada, a disputa seria resolvida nos detalhes (“Uma diarreia! Piolho! Unha encravada!”).

Há programas que certamente enriqueceriam nossas tardes: “Joelho TV” faz do salgado de presunto e queijo uma estrela. “Aqua Mondo” exibe uma degustação de águas com celebridades. “TV TV” é um debate aberto ao público num sofá no Largo da Carioca.

“Favela Planet”, por sua vez, é um especial de viagens dedicado às periferias. “Agora a gente vai pegar o bondinho e encontrar o Guedes”, ele anuncia, no Morro de Santa Marta, cujos principais pontos turísticos são a laje do Michael Jackson e a imagem da santa. “Quais são as opções de estadia por aqui?”, ele consulta um morador, com o guia na mão.

Já o programa “Os Melhores Açougues, Arames Farpados e Solos de Bateria do Mundo” é exatamente o que diz o título. “Celebrity Sono TV” entrevista atores como Rodrigo Santoro, que dá um boa-noite literal à câmera e passa cerca de 6 minutos dormindo em rede nacional.

“As Mais Belas Lágrimas do Mundo” passa a receita do kit choro: cebola, cânfora, colírio e cuspe. O convidado Matheus Nachtergaele é pedido para interagir com um pneu e se emocionar. “Eu pensei em começar dizendo: ó, pneu, quanto você já rodou. Mas depois eu percebi que você é novo”, diz, inconsolável. E chora.