Em 28 de novembro de 2009, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadiu o reality show A fazenda, dando prosseguimento à sua política de ocupação de latifúndios improdutivos. Assim que chegaram, com transmissão ao vivo e em rede nacional, os militantes fizeram um pronunciamento à imprensa: “Não descansaremos enquanto uma real alternativa de mudança não for forjada, sem ilusões e nem conciliação de classe. Somaremos ação e pensamento na construção de um país justo, soberano, democrático e socialista. Contra o neoliberalismo e o agronegócio”. O apresentador Britto Jr. aprovou a estratégia de jogo dos novos participantes: “Mandaram bem, né?”.

Na revolução televisionada, a primeira providência foi convocar uma assembleia para definir como se daria a divisão do lotes e o esquema de alimentação, trabalho e segurança no assentamento. Para a coordenadora do núcleo de base Rosa Luxemburgo, seria preciso organizar primeiro o setor da produção de hortaliças, instituindo uma meta de 100 talos por semana para garantir a autossustentação da unidade. Insatisfeita, a celebridade Cacau Melo pediu a palavra: “O Xuxa não quer ajudar com a louça”, dedurou, saindo imediatamente para brincar com Engels, o novo cão da fazenda. Uma subcomissão diplomática foi enviada para resolver a contenda.

Discutidas as prioridades do assentamento, Britto Jr. convidou a todos para um desafio de formação política, em que se avaliou a familiaridade dos peões com as formulações teóricas do marxismo clássico. Houve um desentendimento entre MC Leozinho e o militante Zé Rufino no que tange à questão agrária segundo Plekhanov, Kautski e Lênin, discussão que acabou em troca de obscenidades e beliscões. Após a prova, Sheila Mello foi escolhida para a eliminação. “Me confundi quando me perguntaram sobre a tese ortodoxa da inviabilidade da pequena propriedade camponesa. Achei que ele estava falando de outra coisa”, explicou a ex-loira do Tchan. Seus colegas tentaram consolá-la, mas a dançarina não conseguiu conter as lágrimas. “Vou ser expulsa das frentes de trabalho!”, exclamou, de biquíni, diante das câmeras.

Os dias que se seguiram foram de muito trabalho na lavoura, cuidados com os galináceos e bronzeamento compulsório. O fazendeiro da semana, Maurício Manieri, foi duramente deposto por setores do campesinato que elegeram um Conselho Deliberativo, responsável pela fiscalização das atividades contábeis, administrativas, financeiras e produtivas do acampamento. Aos poucos, o plantio de hortaliças começou a dar resultados. Houve, porém, um incidente grave: a celebridade Adriana Bombom confundiu agrião com rúcula e acabou arruinando uma colheita de dez hectares. “É tudo planta, né?”, justificou-se, e foi imediatamente eliminada do programa. Entre os restantes, instaurou-se a dúvida de que o movimento estaria se tornando stalinista.

À noite, organizaram-se festivos cursos de formação político-ideológica, enlevados pelo espetacular aumento de 40% na colheita. A Fazenda, agora, possuía um setor de autossustentação, ao qual se vinculavam a horta, a produção de leite e o cultivo de produtos destinados ao consumo próprio. Além disso, a piscina foi transformada em caixa d’água e as celebridades foram proibidas de passar protetor solar nas costas dos companheiros de luta. A prova final acontecerá após uma experiência agrária quinquenal, quando os espectadores saberão quem é mais hábil no manejo da terra. O vencedor ganhará um lote na fazenda de Fernando Henrique Cardoso.