Do Mandaqui para o mundo

Postado em: 16th junho 2009 por Vanessa Barbara em Clipping
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ZN na linha
Junho de 2009

Ser cronista de um grande jornal como o Estadão é para poucos. E quando as crônicas falam com frequência de um bairro na periferia da ZN, isso para nós é notícia! Vanessa Bárbara está em fins de semana alternados no caderno Metrópole do Estadão. Quem gosta de crônica já percebeu que, vira e mexe, ela conta uma curiosidade, desperta um personagem discreto, revela uma faceta desse distrito espichado no mapa chamado Mandaqui.

 

A estação Invernada (demolida em final de 2007) e a Igreja de Santo Antônio. Marcos do Mandaqui.

 

“No Mandaqui a gente comia tatu-bola, tomava banho de chuva e tinha medo de Ana Paula, que batia nas meninas só porque elas eram mais altas”. Começava assim a crônica de 01/02/09. Uns dias depois ela nos falou do carteiro conhecido como Gigante, entregando cartas pelas ruas do Mandaqui. E para não dizer que ela fica só no distrito natal, se aventurou a conhecer o trajeto da “Transiberiana Paulistana”, a linha 701-U Jaçanã-Butantã/ USP, na qual, contou ela, dá pra fazer 14 coisas diferentes durante a longa viagem.

A seguir uma breve entrevista com essa cronista paulistana de 26 anos.

Você mora na ZN há quanto tempo?
Morei 25 anos na mesma casa no Residencial Santa Terezinha, no Alto do Mandaqui, até me casar, em agosto do ano passado. Hoje moro em Higienópolis, mas meus pais ainda moram lá.

Estudou onde na ZN?
Comecei no maternal do Lar Infantil São Francisco de Assis, das freiras da Paróquia de Santa Inês (existe até hoje e é ótimo: é na rua Paulo Carneiro, 78). Depois estudei no Salesiano e no Mazzarello, e deste último só guardo lembranças ruins e raízes brancas. Até hoje não consigo passar pela pracinha do Mazzarello sem ter arrepios.

A Zona Norte tem uma significação especial para você, em relação a São Paulo como um todo?
É um lugar pitoresco onde me sinto em casa, onde o tempo parece passar de forma diferente e as pessoas são peculiares. A Zona Norte é a coisa mais divertida do mundo. Lá eu tenho um jardim.

Como você acha que os paulistanos vêem a ZN?
Não sei, é um lugar longe e esquisito. Sempre fui embaixadora do Mandaqui além-Tietê, e é difícil conciliar a política externa com ônibus tão demorados.

Quais os locais mais marcantes da ZN para você? Uma rua, uma loja, uma pessoa em especial?
O seu Firmo (da crônica sobre o bar do Firmo), que fica na rua Íris Leonor. O carteiro Gigante, que se chama Vitor e anda com uma lanterninha na cabeça. A minha rua, onde a gente tocou o horror desde cedo. Minha vizinha, a Paula, o seu Nakamura, que eu adorava, e todos os vira-latas locais, desta e de outras épocas.

Já pensou que a ZN poderia se emancipar de São Paulo, se tornando uma outra cidade? Se sim, que nome teria essa cidade?
A ZN podia se emancipar de São Paulo e se chamar Hospício. Antes que cortem a minha cabeça, atenção: é brincadeira. Por falar nisso, os mandaquienses têm dificuldade em aceitar ironias e/ou críticas. E eu sei, sim, que tem Drogaria São Paulo, shopping e imóveis milionários na região… o progresso veio a galope, sim senhor!

Internet é importante para você… um pouco? Muito? Demais?
Demais.

Seus pais gostam de escrever? De onde vem o interesse em escrever crônicas?
Meus pais adoram ler. Como meu pai é engenheiro mecânico, meu sonho de criança era ler inteiro o Manual de Refrigeração e Ar Condicionado, 1600 páginas. Minha mãe leu Guerra e paz aos 16, quando trabalhou como recepcionista numa sala de espera. Meu irmão também é escritor.

Quais gêneros interessam? Tem livros lançados?
Gosto de ficção e crônicas. Tenho dois livros publicados: O Verão do Chibo, escrito em parceria com meu vizinho mandaquiense, o Emilio Fraia (Alfaguara, 2008), que é um romance sobre meninos numa plantação de milho. É dedicado ao bairro, vejam só. O segundo é O Livro Amarelo do Terminal, um livro-reportagem sobre a rodoviária Tietê (CosacNaify, 2008).

Quais autores influenciaram/ influenciam o seu texto?
Flaubert, Cortázar, Salinger, Kafka, Lewis Carroll, e em crônica Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Luis Fernando Verissimo, Mario Quintana, Carlos Drummond.

Como surgiu a idéia de escrever crônicas ambientadas em cenas urbanas?
É o meu mundo, não tem muito como fugir.

Sobre o que gostaria de escrever, na ZN, mas não teve tempo ou chance de fazer?
Sobre muitas, muitas coisas. A Zona Norte é o meu Cachoeiro do Itapemirim (obsessão do Rubem Braga). Tenho uma crônica engatada para o mês que vem que será sobre as lagartinhas locais.

Como conquistou esse espaço nobre no Estadão?
O Estadão fica na Zona Norte, é muito acessível para os nativos.


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